ONU reconhece risco de câncer de tireóide entre crianças por Fukushima
Viena, 2 abr (EFE).- Um novo estudo da ONU, apresentado nesta quarta-feira em Viena, na Áustria, aponta que é improvável que as taxas de câncer no Japão aumentem após o acidente nuclear de Fukushima em 2011, embora reconheça a possibilidade de um aumento do risco de câncer de tireóide entre as crianças mais expostas à radiação.
“Como cientista e como pessoa, diria que o risco é baixo. Sigam com suas vidas e não tenham medo”, declarou o diretor do relatório, Wolfgang Weiss, ao ser questionado sobre a mensagem que este relatório pretende transmitir aos afetados pelo desastre.
O estúdio do Comitê Cientista da ONU sobre os Efeitos das Radiações Nucleares (UNSCEAR) destaca que não haverá mudanças “significativas” nas taxas de câncer, em doenças hereditárias e em nascimentos com más-formações causados pelo acidente nuclear de março de 2011, o mais grave dos últimos anos.
Neste sentido, o presidente da UNSCEAR, o sueco Carl-Magnus Larsson, calcula um aumento de 0,1% entre a população que teve contato com as maiores níveis de radiação.
“Com base nesta avaliação, o Comitê não espera mudanças significativas nas futuras estatísticas de câncer que possam ser atribuídas à exposição da radiação do acidente”, acrescentou o especialista no relatório.
No entanto, segundo Weiss, isso não significa que não vá haver tumores relacionados com a radiação, mas sim que seu número será tão baixo que não será possível diferenciá-lo dentro das variações normais nas estatísticas.
Em relação à “teórica” possibilidade de um aumento do câncer de tireóide entre crianças, o analista alemão insistiu que não se pode excluir o risco e nem citar números concretos entre os menores que poderiam ser afetados.
“Este é o nosso dilema. Não posso dizer mais, já que a ciência só chega até aqui”, explicou Weiss durante a apresentação do relatório, que, por sua vez, assinala que menos de mil crianças receberam dose perigosas (de entre 100 e 150 miliGray) e que “poderia esperar um aumento do risco de câncer de tireóide dentro desse grupo”.
Em função desse dado, Larsson assinalou hoje – via videoconferência a partir da Austrália – que, “em teoria”, pode haver um “aumento do câncer de tireóide entre as crianças mais expostos” à radiação.
Em todo caso, o relatório lembra que o câncer de tireóide é incomum entre menores e que “seu risco normalmente é muito baixo”.
A UNSCEAR baseia suas conclusões na análise das exposições estimadas à radiação e segundo os atuais conhecimentos científicos.
Além disso, o relatório destaca que a rápida evacuação da população local após a catástrofe, desencadeada por um terremoto e um posterior tsunami, conseguiu minimizar significativamente o impacto.
“As pessoas estão preocupadas – e com razão – pelo impacto em sua saúde e na saúde de seus filhos”, reconheceu Larsson no relatório.
Durante a apresentação, o especialista sueco acrescentou que o risco nunca pode ser excluído, mas que um possível aumento dos casos não será “perceptível”.
Em relação ao meio ambiente, o estudo da UNSCEAR indica que o impacto a longo prazo é “insignificante” para o ecossistema marinho da zona litoral próxima à usina nuclear.
Em novembro passado, as análises médicas detectaram 26 casos de menores com câncer de tireóide em Fukushima, enquanto outros 32 menores apresentaram sintomas desta doença.
No entanto, os médicos japoneses apontam que ainda é cedo para saber se estes casos estão relacionados com o acidente nuclear de 2011.
Após o acidente nuclear de Chernobyl (Ucrânia) em 1986, o pior da história, cerca de 6 mil casos de câncer de tireóide foram confirmados em menores, mesmo que quatro ou cinco anos depois da catástrofe, fato que foi atribuído em sua maioria ao consumo de leite contaminado.
Ao contrário do que ocorreu na antiga União Soviética, as restrições impostas em 2011 ao consumo de certos alimentos por parte das autoridades japonesas também teria contido o impacto do câncer de tireóide entre menores, apontaram os especialistas. EFE
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