Operação antiterrorista de Kiev se choca com resistência civil em Donetsk

  • Por Agencia EFE
  • 16/04/2014 16h04

Arturo Escarda.

Slaviansk (Ucrânia), 16 abr (EFE).- A operação antiterrorista lançada por Kiev contra os milicianos pró-russos armados se chocou nesta quarta-feira com a resistência de cidadãos pacíficos nas cidades de Kramatorsk e Slaviansk, no sudeste rebelde da Ucrânia.

“Seis blindados foram parados por gente desarmada na cidade. Nós os convencemos a passar para o lado do povo de maneira pacífica”, relatou à Agência Efe Aleksandr, um morador de Kramatorsk, na região oriental de Donetsk, vizinha da Rússia.

Milicianos pró-russos, perfeitamente uniformizados e armados com fuzis de assalto Kalashnikov, tomaram pouco depois o controle da coluna e a levaram a Slaviansk, cerca de 15 quilômetros ao norte, onde aproximadamente uma centena de soldados ucranianos lhes entregaram seus blindados.

“Passaram para o lado do povo por sua própria conta, sem que ninguém lhes obrigasse”, assegurou na praça de Lênin desta cidade de 120 mil habitantes o comandante da milícia, que se identifica como Balu e garante que é oriundo da Crimeia.

É o único entre dezenas de seus homens que não permanece encapuzado e fala tranquilamente com todo jornalista que lhe aborda.

Três dos seis blindados perdidos pelo exército ucraniano foram exibidos na praça perante centenas de moradores de Slaviansk, transformada em bastião da sublevação da região mineradora de Donetsk contra Kiev.

As mães subiam as crianças nos blindados, enquanto os homens armados, que dizem pertencer à Milícia Popular do Donbass (região do sudeste ucraniano), posavam com um menino de um lado e um Kalashnikov do outro.

Os soldados ucranianos saíram, entre aplausos, de um edifício situado na praça e subiram em vários ônibus, “para voltar com suas famílias”, segundo Balu.

Em Kramatorsk, uma dúzia de blindados de transporte e de combate do Batalhão de Infantaria Aerotransportada de Dnepropetrovsk foram rodeados por centenas de moradores de todas as idades nos arredores da cidade.

“Voltem pra casa, não somos terroristas nem separatistas! Não sirvam ao governo, mas ao povo”, repreendia um homem de cerca de 35 anos a uma dezena de soldados encarrapitados sobre um dos carros.

Um soldado oriundo da vizinha região de Lugansk, outro foco do movimento da população de origem russa contra Kiev, explicou à Efe que sua unidade não sabia que seria mobilizada para participar de uma operação antiterrorista contra milicianos protegidos e apoiados por população civil.

“Sou de Lugansk, como vou disparar contra minha gente?”, afirmou este militar aos moradores, embora nem todos os soldados de sua unidade tenham mostrado plena solidariedade com a população da rebelde Kramatorsk, que exige de Kiev uma federalização que para muitos parece uma espécie de separatismo.

Recostado sobre o único blindado que exibia com orgulho uma bandeira ucraniana, um jovem suboficial assegurou que seu “pátria é toda Ucrânia, desde os Cárpatos até Lugansk”, a região mais oriental do país.

Tanto Slaviansk como Kromatorsk são objetivo prioritário da operação antiterrorista lançada ontem pelas forças armadas e policiais ucranianas, que querem recuperar o controle destas cidades, em mãos de milicianos há cinco dias.

O general no comando da operação, Vasyl Krutov, assegurou que para conseguir seu objetivo não duvidará em “combater terroristas, delinquentes e militares” invasores estrangeiros que coordenam, segundo Kiev, a sublevação em distintas cidades de Donetsk e Lugansk.

No plano político, o Partido das Regiões, o mais votado no leste de origem russa da Ucrânia, pediu hoje às milícias pró-russas a depor as armas e despejar os edifícios governamentais ocupados.

“Nos dirigimos a todas nossos compatriotas que protestam nas ruas de Donetsk. Pedimos que deponham as armas e não ponham em perigo a vida dos cidadãos pacíficos”, disse Nikolai Levchenko, chefe do partido que esteve liderado pelo deposto presidente, Viktor Yanukovich.

Por sua vez, o partido defendeu a reforma da Constituição por meio de um referendo para ceder mais competências administrativas e orçamentárias às regiões, mas no marco de um Estado unitário e não de uma república federal, como exigem os pró-russos. EFE

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