Operação em SP desmonta favela na Cracolândia e oferece emprego a moradores
Macarena Soto.
São Paulo, 15 jan (EFE).- A prefeitura de São Paulo desmontou nesta quarta-feira uma mini favela do centro da cidade, na região conhecida como “Cracolândia”, majoritariamente habitada por consumidores de drogas, que foram hospedados em hotéis da região e que poderão receber um pequeno salário por quatro horas de trabalho diário.
A Operação Braços Abertos, que começou ontem com a desocupação dos moradores, oferece além de um quarto de hotel, três refeições diárias, R$ 15 por quatro horas de trabalho comunitário e o acesso a um programa de reabilitação para os consumidores de drogas.
Desde dezembro, as centenas de habitantes da ocupação irregular puderam se registrar no projeto que, apesar de não obrigar à reabilitação persegue esse objetivo, explicou o secretário de saúde do município, José Silici.
“Se (os viciados) não têm condições de trabalhar (porque não deixa de consumir drogas) terão de se tratar”, apontou Silici, que garantiu que a prefeitura conseguirá com “persistência” que os cidadãos abandonem o consumo do crack, droga que é subproduto da cocaína.
No entanto, a ação não foi só tranquilidade e alguns consumidores não se mostraram tão “esperançosos” com a iniciativa.
Para Daniel, de 34 anos e consumidor de crack desde os 12, o poder político “está mostrando interesse” pela situação das drogados, mas o sucesso da operação “dependerá da polícia”.
“Em vez de nos proteger, vêm e nos espancam, nos maltratam”, denunciou Daniel, casado e com uma filha. “Não confiamos nos políticos nem na polícia, já vimos como acontece”, desabafou à Agência Efe.
Também para Eva, há dois anos usuária de crack, as intenções do projeto são muito claras: “ainda não se sabe o que vai acontecer, não sabemos em que vamos ter de trabalhar nem quanto tempo vão nos deixar ficar nesses hotéis. Para mim é fantástico que me deem um quarto, mas vamos ver até quando”.
“O que estão fazendo é limpar o centro da cidade de olho na Copa, não nos querem aqui, vieram e nos disseram que iam tirar nossas casinhas, que se quiséssemos nos inscrever no programa, tudo bem, se não, que fôssemos para outro lugar”, contou a Efe.
Diante da possibilidade de, após a retirada dos barracos, os moradores que não aderiram ao projeto ocupem de novo as ruas da região, vários dispositivos policiais vigiarão a área, informou a secretária municipal de Assistência Social, Luciana Temer.
“Este é um processo longuíssimo, que começou há seis meses e que se renovará mensalmente” disse Temer, que esclareceu que das 400 vagas do programa, 300 já estão ocupadas.
A “Cracolândia” já foi alvo de várias operações, mas esta é a primeira vez que a prefeitura oferece trabalho remunerado aos moradores da região, que por cerca de R$ 10 compram uma pedra de crack, o que, explicaram a Efe vários consumidores, “dá para quatro doses de meia hora de efeito intenso”. EFE
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