Ópio e contrabando destroem um dos maiores pântanos do Irã
Zabol (Irã), 11 mar (EFE).- O cultivo da papoula usada para extrair o ópio e as barreiras dispostas para evitar a passagem de contrabandistas causaram a destruição do lago Hamun, um dos maiores pântanos do Irã, na fronteira com o Afeganistão, que as autoridades tentam recuperar.
Situado em uma das regiões mais conflituosas do mundo, entre a província iraniana de Sistan e Baluchistão e a afegã de Helmand, onde há terroristas e contrabandistas de heroína, o lago Hamun, de cerca de 5 mil quilômetros quadrados, está completamente seco há cerca de 16 anos, com esporádicos momentos de recuperação.
Seu desaparecimento gerou graves problemas à população local, que se viu forçada a emigrar ou a ver gravemente danificada sua tradicional e sustentável forma de vida, obrigando-os a viver da ajuda estatal.
O drama do Hamun, que oferecia possibilidades de pesca e aquicultura, além de gramados frescos e água para o gado, começou quando no lado afegão, desde onde chegava sua principal fonte de água, foram construídos diques de contenção.
“O Afeganistão construiu represas e muitos afegãos desviaram a água para regar suas papoulas” com o objetivo de produzir ópio, disse à Agência Efe Ahmad, um homem de cerca de 45 anos que vive em uma aldeia perto do pântano.
Esta acusação foi rejeitada pelo embaixador afegão no Irã, Ahmad Nour, que disse que seu país nunca impediu que a água corresse rumo ao pântano, e que o motivo desta seca é a mudança climática e não o uso que seu país faz deste recurso.
O diplomata reconheceu igualmente que os problemas do lago são comuns para ambos os países, e inclusive piores em seu país, já que enquanto o Irã viveu três décadas de crescimento, o Afeganistão só passou por guerra e problemas.
Em qualquer caso, em sua guerra contra o tráfico da heroína afegã em seu caminho ao Ocidente, e outros tipos de contrabando, o Irã bloqueou partes da zona fronteiriça com areia, o que piorou ainda mais a situação ao impedir também a passagem de água, segundo moradores.
Por causa do Dia Internacional dos Pântanos em fevereiro, o governo iraniano organizou uma visita de diplomatas e jornalistas internacionais ao lago para pedir ao mundo colaboração e ajuda para resgatar esta zona e reverter os danos ambientais causados.
“Quando o lago estava cheio, havia possibilidade de vida, facilidades. Havia muitos criadores de gado, e pesca. Desde que secou, não temos nada, temos que trazer até água para beber desde a capital da província. Para as vacas, também não há água. Se houvesse água, muitos problemas seriam solucionados. Isto destruiu nossa vida, agora não temos nada”, lamentou-se Hussein Sanchuli, outro velho camponês local.
O desaparecimento desse lago também teve outras consequências, algumas verdadeiramente sinistras.
Além da migração a outras partes do Irã, várias pessoas com as quais a Agência Efe entrou em contato confirmaram que a ausência de oportunidades fomentou uma radicalização religiosa em uma das poucas zonas de maioria sunita em um país incomodamente xiita.
“Muitos foram embora com (o grupo) Estado Islâmico porque estes pagam bem e pagam em dólares, e aqui não há oportunidades”, afirmou um motorista da zona.
Além disso, o lago refrescava um pouco o ambiente seco e caloroso da zona, mas agora que está seco, os forte ventos levantam os sedimentos secos do fundo do lago, e provocam poluição e tempestades de areia.
Autoridades locais, como Dadjoda Safdari, responsável adjunto de assistência educativa na região, reivindicam ajuda sobretudo para os mais jovens, cuja nutrição foi afetada e nos quais se multiplicaram as doenças respiratórias, o que causou também problemas no nível educacional da população. EFE
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