Oposição argentina e ex-mulher de Nisman pedem Justiça independente

  • Por Agencia EFE
  • 12/02/2015 21h51

Buenos Aires, 12 fev (EFE).- A oposição argentina reivindicou nesta quinta-feira independência na Justiça para esclarecer a morte do promotor Alberto Nisman, em uma audiência pública no Senado que teve a participação de sua ex-mulher, enquanto os senadores governistas avançaram no plenário o debate sobre a reforma dos serviços de Inteligência.

A juíza Sandra Arroyo Salgado, ex-esposa de Nisman, pediu que “parem de politizar” a morte do promotor, independência para o Poder Judiciário e voltou a sugerir que, para sua família, não se tratou de suicídio.

A magistrada, que participou da audiência pública convocada pela oposição no Senado, cobrou “prudência, respeito e ética” para a investigação da morte, ocorrida 18 de janeiro, em circunstâncias que ainda não foram esclarecidas.

Nisman foi encontrado morto em sua casa com um tiro na cabeça horas antes de comparecer ao Congresso e detalhar sua denúncia contra a presidente Cristina Kirchner de acobertar os iranianos do atentado contra a associação judaica Amia em 1994, que deixou 85 mortos.

“Foi o acobertamento mais importante da Argentina e que culminou, como disse Nisman, com a assinatura do memorando de entendimento com o Irã”, afirmou a deputada do bloco União-Pró Patricia Bullrich durante a audiência, em alusão ao documento assinado pelos países em janeiro de 2013 e que o fiscal denunciou que implicava o encobrimento dos suspeitos de cometer o atentado.

A senadora Margarita Stolbizer pediu para ter acesso às “escutas que fazem parte da investigação” de Nisman e reiterou que “é necessário desclassificar e abrir totalmente os arquivos que têm a ver com a investigação do atentado” contra a Amia.

Magistrados e promotores argentinos também assistiram à audiência pública e exigiram um Poder Judiciário independente.

O promotor José María Campagnoli, que saiu livre de um julgamento político em que era acusado de mau desempenho ano passado, lembrou que Nisman morreu “em um clima de hostilidade após ter sido severamente atacado pelo governo”.

“Nós, juízes, não queremos fazer política, mas começaram a politizar os juízes e o Poder Judiciário”, acrescentou o presidente da Associação de Magistrados, Ricardo Recondo, que defendeu a “manifestação do silêncio” convocada por um grupo de promotores para a próxima quarta-feira, 18, quando a morte de Nisman completa um mês.

A passeata foi proposta como uma homenagem ao promotor e apoiada pela oposição, por organizações civis e pela Igreja Católica, que hoje expressou sua adesão através da Comissão Nacional de Justiça e Paz por considerar que se trata de um ato “não partidário e de valor republicano”.

O deputado da União Cívica Radical Mario Negri considerou que a audiência de hoje “assinala um ponto de inflexão” e pediu ao governo “recapacitar” a reforma nos serviços de Inteligência.

“Não teria que haver duas telas hoje aqui no Congresso”, acrescentou Negri.

Paralelamente o Senado argentino avançou sozinho na tramitação da reforma dos serviços de Inteligência e aprovou o projeto como passo prévio ao debate na Câmara dos Deputados que será responsável por sancionar a norma.

No início da sessão no Senado, a senadora do peronismo opositor Liliana Negre de Alonso pediu um minuto de silêncio em homenagem a Nisman.

O chefe da bancada governista, Miguel Pichetto, somou o kirchnerismo à homenagem e reivindicou o esclarecimento da morte de Nisman, mas considerou “injusta” a denúncia de acobertamento contra a presidente argentina.

A Câmara dos Deputados começará na próxima quarta-feira o debate em comissões para depois discuti-lo.

A iniciativa de reforma dos serviços de Inteligência foi anunciada pelo Executivo após a morte de Nisman, que o governo colocou dentro de uma operação de desestabilização de agentes secretos deslocados de seus cargos em dezembro. EFE

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