Oposição a Trump vira “inimiga” da Fox News

  • Por Estadão Conteúdo
  • 08/05/2017 09h46
WAS01 WASHINGTON DC (ESTADOS UNIDOS) 11/04/2017.- El presidente estadounidense, Donald J. Trump, participa en un debate sobre políticas y estrategia con presidentes de compañías en la Biblioteca del Departamento de Estado en Washington DC (Estados Unidos) hoy, 11 de abril de 2017. EFE/Olivier Douliery / Pool EFE/Olivier Douliery Donald Trump - EFE

Durante semanas, houve comentários em Washington sobre uma mudança radical entre os conselheiros de Donald Trump. A reestruturação, sem dúvida, veio. Só que foi entre os conselheiros presidenciais da Fox News. O presidente gosta de começar e terminar seu dia com uma dose de notícias pela TV a cabo, especialmente as confortadoras reportagens exibidas na Fox News. Assim, quando Bill O’Reilly foi banido do canal por acusações de assédio sexual, houve repercussões além da queda de audiência. Trump perdeu um de seus melhores amigos na TV.

Mas o novo programa do horário nobre da Fox News, que estreou em 24 de abril, proporciona a Trump e sua base algo melhor que amizade: um fluxo constante de inimigos a serem atacados.

Tucker Carlson tem um estilo totalmente diferente de O’Reilly, de quem herdou o horário das 20h (após ter se apossado do horário das 21 h que pertencia à âncora Megyn Kelly até janeiro) O’Reilly cultivava um ar de aristocrata – fustigando, por exemplo, a ascensão da classe trabalhadora, embora seu pai tenha sido contador de uma empresa petrolífera.

Polêmicas

Carlson tem uma pose ainda mais aristocrática. Com sua dicção de professor de cursinho dos anos 1980, criou um tipo polêmico desde que apresentava o Crossfire, da CNN. Mas acreditar que o espectador tem de querer tomar uma cerveja com Carlson para gostar do Tucker Carlson Tonight, sua atração diária, é não entender o noticiário a cabo e a política americana.

Carlson concorda com os atuais ocupantes da Casa Branca no sentido de que a política atual tem de ser baseada em atitudes, e não em ideologia. A razão para se apoiar alguém é saber quem está contra essa pessoa. Mais importante do que a política é a vitória de seu campo – e ainda mais importante do que seu campo vencer é o outro ser derrotado.

Assim, o principal produto da mídia noticiosa conservadora são as lágrimas dos liberais. E Carlson as sorve como se fossem um chablis precioso.

Assim como O’Reilly, Carlson não tenta entrevistar seus convidados, mas derrotá-los. Suas presas são com frequência pequenos políticos democratas, ativistas estridentes e acadêmicos equivocados que parecem mostruários ambulantes da esquerda radical.

Carlson os conduz por caminhos repletos de armadilhas, como num filme de Indiana Jones. Ele muda de assunto para insinuar que a pessoa é hipócrita. Por exemplo, sai de uma discussão sobre a política de Trump para santuários para entrar na política de Obama sobre o uso de banheiros por transgêneros. Ele cutuca, avança, zomba, interrompe.

A câmera se aproxima de seu rosto para mostrar cada contração de espanto, raiva e confusão. Sua expressão de indiferença é a de um urso imaginando como vai chegar a uma colmeia. Um prolongado “ohhhhh” significa que ele acredita que um convidado deixou vazar uma agenda secreta. “Concordo”, em geral, significa que ele não concorda de jeito nenhum.

Se você não tiver simpatia com Carlson, provavelmente será louco se comparecer a seu programa, embora uma briga com ele, em dezembro, tenha promovido a celebridade liberal Lauren Duca à colunista de Teen Vogue: ele zombou dela por ter escrito sobre Ariana Grande e ela o chamou de “palhaço”; e, para coroar esse momento cultural, inúmeros clipes no YouTube afirmaram que um “destruiu” o outro.

Com convidados mais amigáveis, como Steven Mnuchin, secretário do Tesouro, Carlson se mostra menos agressivo. Diferentemente de Sean Hannity, ele não gasta muito tempo elogiando Trump, mesmo no caso das restrições na imigração, sua posição mais “trumpiana”. Carlson é orgulhoso demais para elogiar alguém.

Mas ir contra, isso ele consegue. Tucker Carlson Tonight é um bufê completo de temas para o telespectador se opor: tribunais federais, o resto da mídia, a Universidade da Califórnia.

Um quadro regular do programa, Campus Craziness, leva Carlson a lembrar-se de quando “a esquerda acreditava em liberdade de expressão”. Ouro quadro, Top This, um mostruário de ultrajes politicamente corretos, poderia bem chamar-se “Olhe para este liberal estúpido”.

O programa é especialista em “culture-trolling” – outro ponto comum com O’Reilly e outros apresentadores da Fox – e um atestado do poder unificado de inimigos mútuos. Como muitos conservadores, Carlson consegue ser pró-Trump usando a estratégia de ser antiTrump.

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