Organizações paramilitares polonesas despertam interesse do governo
Nacho Temiño.
Varsóvia, 2 abr (EFE).- O temor de a guerra na Ucrânia se expandir até o território polonês aumentou o interesse do governo em grupos civis armados, cujos membros treinam para desenvolver técnicas de guerrilha e se preparam para enfrentamentos em defesa do país.
“A situação internacional e geopolítica certamente representou o aumento do interesse nas atividades desses grupos”, explicou à Agência Efe Grzegorz Matyasik, um dos líderes do grupo paramilitar Obrona Narodowa (Defesa Nacional, em polonês), que surgiu em 2010 com o objetivo de “criar um exército de voluntários para participar do sistema de defesa nacional”.
Há duas semanas, o ministro da Defesa, Tomasz Siemoniak, participou pela primeira vez de uma reunião oficial com representantes desses grupos. Circunstância definida pelo próprio ministro como um “reconhecimento dos valores patrióticos”.
Recentemente, o general Boguslaw Pacek, assessor do Ministério da Defesa, estimou que cerca de 10 mil pessoas participam de grupos civis de autodefesa, divididas entre 120 associações, algumas muito ativas, como a Strzelec (Atiradores), a Associação do Rifle ou a própria Defesa Nacional.
A questão não é superficial na Polônia, onde uma recente pesquisa mostrou que diante de um ataque, apenas 27% dos cidadãos estariam dispostos a lutar em defesa do país.
“A prioridade agora é educar os políticos para que entendam a importância do papel desses grupos como uma parte complementar das forças armadas”, afirmou Matyasik.
O líder explicou que nem todos os membros do Obrona Narodowa, composto por 500 pessoas, têm histórico militar, “há também jovens universitários e pessoas sem nenhum vínculo com o exército”.
Cerca de mil pessoas participam por ano de cursos organizados pelo grupo paramilitar de Matyasik, que oferece programas de treinamento para organizações similares, onde os participantes usam trajes de guerrilha e armas de brinquedo para atirar em alvos fictícios, a fim de desenvolver técnicas de guerrilha.
Matyasik destacou que o papel dessas organizações foi essencial em diversos momentos da história da Polônia, e lembrou que na Segunda Guerra Mundial, quando o país foi ocupado pela Alemanha nazista, o governo polonês atuou junto com o exército de livre resistência polonesa, conhecido como Armia Krajowa (Exército Nacional), para combater as tropas de Hitler.
Nos últimos meses, políticos e também a imprensa especulam abertamente sobre a possibilidade de o conflito na Ucrânia chegar às repúblicas bálticas e também à Polônia. Isto provocou uma inquietação na população polonesa, que fala sobre a possibilidade de guerra em suas conversas cotidianas.
Há alguns dias, o general polonês Stanislaw Koziej, um dos assessores do Ministério da Defesa, causou alarde ao afirmar que a Polônia enfrenta uma “crise de segurança” por causa da guerra no país vizinho, conflito que, segundo o general, pode se estender e até desencadear uma “guerra híbrida” com a Rússia.
O conceito de “guerra híbrida”, utilizado em 2009 pelo jornalista americano Frank Hoffman, se refere a um tipo de agressão baseada na propaganda, desinformação, ataques cibernéticos, revoltas civis, técnicas paramilitares e atentados terroristas, diferente do conceito clássico, de ataque armado.
Apesar de estar dando declarações claras sobre suas dúvidas em relação ao compromisso aliado, no caso de um ataque franco à Polônia, Koziej lembrou que “havendo um ataque frontal ao território polonês, a Otan certamente assumirá a defesa do país, assim como prevê o artigo 5 do Tratado de Washington”. EFE
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