Orlando Villas-Boas: o homem que deu dignidade aos índios
Aitor Álvarez García e Gonzalo Domínguez Loeda.
Rio de Janeiro, 11 jan (EFE).- Amanhã é celebrado o centenário de nascimento de Orlando Villas-Boas, explorador que dedicou sua vida para oferecer dignidade e proteger os índios e que, por seu trabalho, foi indicado duas vezes ao Prêmio Nobel da Paz.
Nascido em 1914 em Botucatu, São Paulo, e morto em 2002, Orlando sempre trabalhou lado a lado com seus irmãos Cláudio, Álvaro e Leonardo para conhecer o interior do Brasil e as tribos indígenas que viviam lá, muitas delas desconhecidas antes dessas viagens.
Os três irmãos se alistaram na Expedição Roncador-Xingu, promovida pelo governo em 1943 e que pretendia explorar vastos territórios até então desconhecidos e afastados do litoral, onde se concentrava a população indígena.
A expedição, integrada por cerca de 40 homens e que foi liderada pelos Villas-Boas, representa o maior sucesso na pesquisa geográfica do Brasil.
Os três irmãos e seus acompanhantes conseguiram abrir 1,5 mil quilômetros de rotas e exploraram mil quilômetros de rios, incluindo seis que eram totalmente desconhecidos. E se encontraram com os índios.
Ao contrário da previsão de muitos, Orlando Villas-Boas e seus irmãos entraram em contato com 14 povos indígenas que viviam isolados dentro da Floresta Amazônica e em sociedades de caçadores e coletores, enquanto na Europa se encarava a modernidade, o sangue nos campos de batalha e era erguida a Cortina de Ferro.
As quase 50 aldeias em que viviam os índios estavam às margens do Rio Xingu, que nunca haviam tido contato com sociedades externas apesar de portugueses e espanhóis terem descoberto o continente há cinco séculos.
Como se fosse uma novela, os irmãos Villas-Boas negociaram com líderes indígenas para que estes permitissem que a expedição seguisse seu caminho.
Antropólogos, que posteriormente utilizaram as notas de Villas-Boas, entre eles Carmen Junqueira, afirmaram que a exploração rompeu com a tradição desenvolvida até então no Brasil e abriu espaço para a convivência pacífica com os índios.
Até então, o extermínio dos indígenas era regra e aqueles que se aventuravam na floresta, fundamentalmente fazendeiros que ocupavam imensas quantidades de terra para a exploração agrária, consideravam os índios selvagens que não mereciam misericórdia.
Foi quando, conscientes de que as sociedades indígenas se aproximavam da civilização através das rotas que eles mesmos tinham aberto, decidiram estabelecer mecanismos de proteção.
Orlando, junto com seu irmão Claudio, o antropólogo Darcy Ribeiro e o médico Noel Nutels promoveram a criação do Parque Nacional do Xingu, um espaço de 27 mil quilômetros quadrados onde os índios estariam protegidos e que os permitiria manter seu modo de vida.
Nesse espaço, 15 tribos, que antes só guerreavam, aprenderam a conviver e a se organizar.
Hoje, o Parque do Xingu é um exemplo de coexistência pacífica e, 53 anos após sua fundação, os povos que ali habitam ainda mantêm suas tradições e o contato com o homem branco atenuado pelo tempo, sem mudar radicalmente seus costumes.
Sob o controle da Fundação Nacional do Índio (Funai), e com acesso restrito a menos que haja permissão local, o Parque Nacional de Xingu mantém vivo o sonho de Orlando Villas-Boas. EFE
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