Os milagres do rio Han na Coreia do Sul
Pilar Valero.
Seul, 6 jun (EFE).- O caudaloso rio Han que atravessa Seul é visto pelos coreanos como um “milagre”, por transformar um país devastado pela guerra civil (1950-53) e com poucos recursos naturais em um dos mais avançados e competitivos do mundo. Mas houve mais milagres.
Em Seul, arranha-céus de aço e vidro e impressionantes redes de comunicação lembram filmes futuristas e encenam a decolagem da Coreia do Sul, até se transformar na quarta economia asiática e na 15ª mundial.
Já na chegada, o aeroporto internacional de Incheon, considerado o melhor do mundo pelo oitavo ano consecutivo, surpreende por seu design vanguardista e avanços tecnológicos.
A exportação, a inovação e, principalmente, uma forte aposta na educação, considerada crucial para o êxito e à qual se destina 5% do PIB, são chaves no desenvolvimento desta competitiva nação asiática, que tecnicamente segue em guerra com sua vizinha comunista Coreia do Norte.
“Temos um território muito pequeno com 50 milhões de habitantes e todos têm que sobreviver”, disse à Agência Efe o diretor de Informação da agência coreana de notícias “Yonhap”, Lee Ki Chang.
“Há uma vontade de ter êxito, de querer ser o primeiro. Por isso somos muito trabalhadores”, argumentou ao ser perguntado pelas razões do “milagre do rio Han”.
Os coreanos se referem assim ao período de 1953 a 1997, quando de um país rural e pobre evoluiu para uma economia industrializada orientada à exportação e com alto crescimento. E ocorreram outros dois “milagres”.
A crise asiática de 1997 derivou na Coreia do Sul em uma grave crise de liquidez com empresas fortemente endividadas, que superou em um tempo recorde graças a sua pujante indústria.
Empresas coreanas como Samsung, LM, Hyundai e Kia se transformaram em potentes multinacionais que, de grandes conglomerados industriais “chaebol”, impulsionaram outro forte ciclo de crescimento.
Por causa da crise de 1997, a Coreia mudou o modelo produtivo e realizou uma reestruturação financeira, com um estímulo do sistema educacional rumo ao desenvolvimento de novas tecnologias.
E, em 2008, a crise global pôs de novo a toda prova o país asiático, que rapidamente se adaptou ao novo ciclo econômico com mais reformas financeiras e uma estratégia de inovação.
Assim, a Coreia do Sul chegou à liderança mundial no acesso à internet mais rápido do mundo e de banda larga per capita mais alto, ou, no campo industrial, com o primeiro posto em construção naval. Também é um dos países de ponta em robótica.
Nessa decolagem foi decisivo o compromisso entre empresários e trabalhadores, com o governo como intermediário e o apoio de políticos e líderes sociais, para aprovar reformas econômicas muito duras, disseram à Agência Efe fontes diplomáticas.
E os valores confuncionistas para superar dificuldades.
A receita é educação e trabalho, a motivação da população e uma liderança que soube se adaptar aos novos tempos com uma aposta pela inovação, segundo analistas.
Mas, há contrapontos, como longas jornadas trabalhistas e 15 dias de férias anuais, e onde os estudantes suportam também extensas e exigentes jornadas, que derivam em uma forte pressão competitiva, estresse, taxas altas de suicídios e pouco tempo de lazer.
Neste país já quase tudo é digital e até é possível fazer compras em uma estação de metrô, onde existem alguns supermercados virtuais com grandes telas nas quais se pode escanear os códigos de produtos e ter o pedido disponível ao chegar em casa.
O sentimento coletivo coreano é patente nas empresas e nas ruas, onde é impossível ver um papel no chão ou um serviço de uso comum em mal estado.
A música K-pop também virou moda e se transformou em um importante mercado de exportação. É a “onda coreana” lançada pelo cantor coreano Psy, com seu “Gangnam Style”.
Seul continua sendo, no entanto uma cidade de contrastes, que conserva um forte identidade e valores culturais orientais.
Junto ao alarde tecnológico e futurista desdobrado nas principais cidades do país, convivem monumentos históricos como palácios imperiais que datam do século XV.
Muitos desses monumentos tiveram que ser reconstruídos após a invasão japonesa, explicou à Agência Efe o diretor do Museu de História de Seul, Hong-Bin Kang, que entesoura nessa instituição milhares de documentos e imagens da evolução da capital coreana que sofreu as consequências de sucessivos conflitos bélicos.
Agora, a diminuição progressiva da força de trabalho pela baixa taxa de natalidade e o envelhecimento da população é uma das principais preocupações e um desafio para o futuro.
Os coreanos esperam outro milagre de seu emblemático rio. EFE
va/ff-rsd
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.