Otimismo dá lugar à expectativa em Cuba após reconciliação com EUA

  • Por Agencia EFE
  • 18/12/2014 22h08
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Sara Gómez Armas.

Havana, 18 dez (EFE).- O otimismo vivido ontem em Cuba com a notícia do restabelecimento de relações diplomáticas com os Estados Unidos deu lugar nesta quinta-feira à expectativa de que este giro histórico se traduza em melhoria na vida cotidiana da ilha e na solução de problemas como o desabastecimento e as comunicações.

Nas ruas, hoje como ontem, reinava a tranquilidade, embora o tema generalizado das conversas tenha sido a retomada dos vínculos com os Estados Unidos, acontecimento recebido com alegria, mas com incerteza sobre quando e como se concretizarão estas mudanças e se elas culminarão com o fim do embargo econômico.

O levantamento do “bloqueio”, como se referem na ilha a esta política vigente desde 1962, “será uma notícia muito boa, antes de tudo, para o povo cubano que é quem realmente sofreu e continua a sofrer com o embargo dos Estados Unidos”, disse à Agência Efe o cubano Yosbany Barrio.

Seu compatriota Ariel Rodríguez considerou que o acordo anunciado ontem abre a possibilidade de eliminação do bloqueio, acabando assim “todas essas carências sofridas durante tanto tempo e que não são um segredo para ninguém”.

“A mudança vai ser boa não só para nós, mas também para os familiares que estão do lado de lá (nos EUA), são muitos os cubanos ali que querem que as relações se normalizem”, afirmou.

As medidas anunciadas ontem pela Casa Branca, que aliviam consideravelmente o embargo, vão facilitar a reunificação das famílias separadas pelo exílio, ao flexibilizar restrições ao envio de remessas e liberar as viagens para quem mantêm laços familiares na ilha.

Fruto do acordo, os EUA também eliminam as licenças antes necessárias para viajar para Cuba por motivos educativos, religiosos e culturais, algo que, segundo o vice-presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, vai aumentar os intercâmbios acadêmicos entre ambos países e “beneficiará a todos”.

“Se apesar dos obstáculos, no passado foram buscadas formas de contato, agora a troca aumentará e a manteremos sempre a partir do respeito mútuo por nossas diferenças”, disse o vice-presidente cubano, na única reação oficial hoje ao novo rumo das relações entre Cuba e Estados Unidos.

Da dissidência hoje voltaram a ser ouvidas vozes céticas sobre a possibilidade de o acordo com os Estados Unidos se traduzir em mudanças substanciais para a sociedade civil, especialmente em matéria de direitos humanos.

“Não oculto meu ceticismo profundo, que tem como fundamento a manifesta falta de vontade política do governo de Cuba para fazer verdadeiras reformas”, declarou à Efe o opositor Elizardo Sánchez, líder da Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional.

Para ele as reformas econômicas empreendidas por Raúl Castro para “atualizar o modelo socialista da ilha, são só mudanças de pequeno calado, tardias e reversíveis”.

“A bola está no lado de Cuba, que é quem tem que fazer mais para se aproximar dos padrões internacionais em direitos humanos”, comentou.

Frente ao otimismo das ruas e o ceticismo de alguns opositores, a reação oficial focou em celebrar o retorno à ilha dos três agentes cubanos do grupo conhecido como “Los Cinco”, acima do restabelecimento das relações com os Estados Unidos.

Os jornais oficiais “Granma” e “Juventud Rebeld”, os únicos na ilha, estamparam hoje nas manchetes um “Voltaram” em letras grandes e destacaram a imagem do encontro entre Raúl Castro e o grupo dos “cinco herois”, como os agentes cubanos presos nos EUA desde 1998 e condenados a longas penas em 2001 são conhecidos na ilha.

Embora com matizes, o ambiente geral é de incerteza e expectativa sobre a velocidade com que a aproximação entre Cuba e EUA acontecerá, uma notícia que pegou o mundo inteiro de surpresa.

“Foi algo inédito e inesperado. Esperava alguma mudança antes da Cúpula das Américas, mas não algo tão profundo”, opinou hoje à Efe o diplomata e acadêmico cubano Carlos Alzugaray.

Alzugaray lembrou que as partes têm pela frente dois anos, antes das eleições presidenciais nos EUA para estreitar seus vínculos, período no qual acredita que Obama explorará suas capacidades executivas para relaxar o embargo se não conseguir que o Congresso o anule.

Embora possivelmente não haja mudanças substanciais na vida cotidiana de Cuba no curto prazo, nos próximos meses haverá gestos diplomatas significativos, como a visita em janeiro de uma delegação americana de alto nível para o diálogo migratório e a abertura de uma embaixada. EFE

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