País do filho único, China tenta aumentar seus descendentes

  • Por Agencia EFE
  • 24/05/2015 10h43
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Paloma Almoguera.

Pequim, 24 mai (EFE).- Cao Zilin tem 31 anos, é diretora de marketing e vive em Pequim. Com um filho de seis anos e candidata a poder ter outro após a flexibilização da política do filho único aprovada pelo governo chinês há pouco mais de um ano, diz que não quer um segundo.

“Se tivesse outro, me distrairia do amor que já dou ao primeiro”, disse Cao à Agência Efe, satisfeita com sua condição de filha única por “todo o carinho que recebia quando era uma menina”, e que faz parte dos 15 milhões de casais que, desde que a nova legislação foi aprovada, podem formar famílias com dois filhos.

Seu caso não é excepcional. Embora o governo acreditasse que a maioria ficaria muito feliz com a medida que definiu que só um dos cônjuges tem que ser filho único para poder ter dois descendentes (em vez de os dois, como era antes), os primeiros resultados indicam que pouco mudou.

Por enquanto, só um milhão de casais solicitaram ter um segundo filho em 2014, a metade do que as autoridades tinham previsto, em uma tendência que ainda não parece que vai se inverter.

As razões são variadas: a pressão do trabalho, a incerteza sobre o futuro, o maior conforto após décadas de escassez ou, como Cao, a crença de que o carinho e o conforto teriam que ser dividido entre os dois filhos, freiam muitos pais potenciais a aumentar o número de descendentes.

Aos 30 anos, Gongo Yi, professora na capital chinesa e mãe de um bebê de oito meses, compartilha com Cao a sensação de que já tem que “dar muito carinho e gastar muita energia” com sua filha, e acrescentou que, além disso, se sente pressionada pelo trabalho.

Esses são os motivos que a faz dizer não à possibilidade de engravidar novamente, embora não se mostre tão segura como Cao.

Em geral, os motivos não são muito diferentes dos das famílias em países desenvolvidos, que optam por não ter muitos filhos após atingir certo padrão de vida, mas analistas como Cai Yong, professor assistente de Sociologia na Universidade da Carolina do Norte, vai um passo além em sua interpretação do que acontece na China.

De acordo com suas pesquisas sobre as tendências demográficas chinesas, o sucesso da política do filho único, como é conhecido o conjunto de medidas estabelecidas principalmente em áreas urbanas da China em 1979 para controlar a população, “é uma lenda urbana”, afirmou em uma conferência em Pequim recentemente.

O professor considera que os 400 milhões de recém-nascidos que o programa preveniu, segundo números oficiais, também teriam sido evitados naturalmente sem a invasiva política de controle de nascimentos – que provocou milhões de abortos e esterilizações forçadas, porque o crescimento demográfico “já estava sob controle”.

Ou seja, que a tendência de não ter muitos filhos, que em países como Japão, Cingapura e Coreia do Sul é combatida com políticas de incentivos para as famílias, já estava começando, ironicamente, na China, e mostra a dificuldade da vitória do intervencionismo estatal na vida privada.

No entanto, a melhora da situação de algumas camadas da sociedade faz com que exista a possibilidade de se conter o temido envelhecimento da população e diminuir a desigualdade de gênero (em 2012 havia cerca de 40 milhões de homens a mais que mulheres devido à preferência chinesa de ter meninos).

No sul do país, em Cantão, Wu Jianhui, de 35 anos, garantiu à Efe: “como meu salário sobe progressivamente, tenho a chance de ter uma vida melhor e penso que dois filhos podem se cuidar mutuamente no futuro”, e por isso já cogita ter outro para fazer companhia ao seu pequeno de cinco anos.

É a mesma opinião de Lu, funcionária pública de Qinghai, no noroeste do país, que, pouco antes de completar 30 anos, aproveitou o relaxamento da medida para engravidar após ter tido seu primeiro filho há três anos.

“Assim não se sentirão sozinhos”, disse à Efe.

Este pensamento é um sopro de esperança para os governantes chineses, que começam a temer durante quanto tempo poderão manter um sistema que perde população ativa rapidamente e que, além disso, conta com um excedente de 30 milhões de solteiros, que podem desestabilizar a sociedade.

Para Cai Yong, a lei é parte de um projeto para que “se devolva mais liberdade ao povo enquanto a China reorganiza seu sistema social”, mas ele não acredita que as coisas mudarão rapidamente e continuarão a ser, espontaneamente, como agora.

A China continuará a ser, intervenha ou não o governo, o país do filho único. EFE

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