Palácio do “príncipe viajante” do Egito exibe novamente seus segredos

  • Por Agencia EFE
  • 03/03/2015 10h31
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Marina Villén.

Cairo, 3 mar (EFE).- Embora nunca tenha ocupado o trono do Egito, o príncipe Mohammed Ali Taufiq conseguiu transformar seu palácio do Cairo em um dos mais valiosos do país graças a seus conhecimentos artísticos e às obras adquiridas durante suas viagens.

O palácio-museu, uma espécie de fortaleza oriental situada na ilha de Manial, no rio Nilo, reabriu nesta semana suas portas ao público após quase nove anos de trabalhos de restauração.

Construído entre 1899 e 1929, o complexo é formado por cinco edifícios. Entre suas atrações, destacam-se a residência do príncipe, o chamado salão de ouro e a sala do trono.

Se a fortaleza pode ser considerada “uma obra prima da arquitetura”, nas palavras do ministro de Antiguidades do Egito, Mamduh al Damati, as árvores e plantas procedentes de todo o mundo também brilham com luz própria e transformam os espaços verdes em uma espécie de jardim botânico.

O complexo foi fechado em 2005 devido à deterioração, o que causou inclusive o colapso do imponente teto da sala do trono, projetada no palácio apesar de Mohammed Ali Taufiq (1875-1955) nunca ter reinado.

Nestes anos, os especialistas reinstalaram esse teto histórico, restauraram a estrutura dos edifícios e limparam a excepcional coleção de pinturas, tapeçarias e tapetes persas, lâmpadas de cristal e mobílias, algumas das quais remontam à Idade Média.

Um dos assessores do Ministério de Antiguidades na restauração do palácio, Mojtar al Kasabani, explicou à Agência Efe que a inauguração estava prevista para 2011.

No entanto, a revolução daquele ano, que derrubou o então presidente Hosni Mubarak, e a instabilidade sofrida no Egito posteriormente atrasaram sua abertura até agora.

Kasabani detalhou que também foram reabilitados nos últimos anos os jardins e os pequenos museus anexos, e foram construídos novos espaços para receber, por exemplo, as peças têxteis.

O complexo é propriedade do Estado egípcio desde 1955, dois anos depois que a monarquia foi derrubada pelo chamado Movimento dos Oficiais Livres, liderados por Gamal Abdel Nasser.

Sua deterioração foi especialmente grave durante a década de 1970, quando as autoridades cederam o complexo a uma rede internacional de hotéis.

Esta empresa fez “um mau uso” e causou consideráveis danos às decorações do palácio e, sobretudo, aos jardins, nos quais há desde cedros a cactos mexicanos, segundo Kasabani, professor de Arte Islâmica na Universidade do Cairo.

A estrutura é uma mistura de estilos na qual convergem elementos mamelucos e otomanos, com outros das correntes europeias do barroco e do art nouveau, embora predomine o estilo islâmico.

Como destacou Kasabani, Mohammed Ali Taufiq priorizou elementos islâmicos frente à moda europeia da época devido à sua personalidade “patriota e islâmica”.

Por isso, segundo o especialista, o palácio na parte externa representa a civilização do império indiano Mogul (islâmico), enquanto outros setores têm grande influência da arquitetura da área do Levante (Síria, Líbano e Palestina).

O exotismo do palácio da ilha de Manial desperta tanto interesse quanto seu dono. Além de conhecido pelo espírito viajante, Taufiq ficou famoso por nunca ter chegado ao trono.

Kasabani, no entanto, não hesita em falar de uma conspiração para afastá-lo do poder, para o qual se preparou durante anos.

Este revés nunca pareceu decepcionar o príncipe, que se concentrou então em transformar seu palácio em um símbolo da arquitetura islâmica e em sede de suntuosos banquetes e recitais musicais. EFE

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