Palestina reage à retenção de receitas com boicote a empresas israelenses

  • Por EFE
  • 11/02/2015 18h55

Funcionário retira  da loja produtos israelenses

EFE Mercado Palestina

A Autoridade Nacional Palestina (ANP) anunciou nesta quarta-feira um boicote a seis grandes empresas de alimentos israelenses, em resposta à retenção de receitas fiscais promovida por Israel.

Elaborado em um comitê que inclui oito facções da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), comerciantes privados e sindicatos, o boicote responde à decisão tomada por Israel de cancelar a transferência de dinheiro arrecadado para os palestinos, após a solicitação de adesão à Corte Penal Internacional, no início de janeiro.

“Queremos expandir e desenvolver a economia, independentemente de Israel. Temos empresas locais com produtos de muito boa qualidade e mais baratos que os importados de Israel, que, além disso, nos envia produtos de terceira categoria”, afirmou à Agência Efe o veterano político palestino, Mustafá Barghouti.

“Israel já castiga os palestinos e é preciso atuar contra isso. Cerca de 30% das exportações israelenses são feitas para território palestino; é uma ocupação muito lucrativa. Não é possível que sejam a potência ocupante, opressores e ao mesmo tempo lucrem com isso”, denunciou Barghouti.

De acordo com dados oferecidos por fontes palestinas, Israel arrecada cerca de U$S 5 bilhões por ano com essas exportações, enquanto os palestinos obtém somente U$S 700 milhões.

Não há valores claros sobre bebidas, produtos lácteos e alimentícios israelenses, cuja entrada em territórios palestinos está “vetada” a partir desta quarta-feira.

As lojas estão proibidas de comprar produtos das marcas: Elite, Strauss, Osem, Prigat, Jafora e Tnuva, que, em conjunto, “representam uma parte muito significativa das exportações para os palestinos sob sua ocupação”, avaliou Omar Barghouti, defensor dos Direitos Humanos e cofundador do movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) contra Israel.

Barghouti expressou sua confiança de que a iniciativa, caso seja “feita de maneira adequada e seguida por outras similares, possa representar um importante avanço rumo a um boicote econômico, acadêmico e cultural mais amplo”.

Mumtazer Badagna, porta-voz da empresa palestina Al Pinar, produtora e distribuidora de produtos lácteos, identifica nessa proposta uma possibilidade de impulso para a economia interna, especialmente ao eliminar a Tnuva, concorrente israelense que domina 35% das vendas do setor na Palestina.

“É algo bom para nós. O número de empregados aumentará e mais produtos palestinos poderão ser oferecidos para substituir os israelenses. Podemos conseguir alternativas imediatas, temos capacidade de preencher esse vazio”, declarou Badagna à Efe por telefone.

“Talvez existam produtos em que eles tenham mais experiência, mas podemos adquirir a nossa. O processo se acelera, especialmente quando é necessário lidar com situações duras, como a atual. Este passo deveria ter sido dado há anos. Isto não significa que estejamos contra a economia israelense, mas contra a ocupação”, acrescentou Badagna.

A Bravo, maior rede de supermercados da Cisjordânia, acatou a decisão com satisfação, após ter iniciado este processo há algum tempo, durante os momentos mais duros da ofensiva militar israelense contra a Faixa de Gaza.

“Desde então, 95% de nossos produtos vêm da Palestina ou de outros países, que não Israel. Apenas 5%, em sua maioria frutas e verduras, são de origem israelense, pois não é permitido que os agricultores da Cisjordânia desenvolvam uma agricultura sustentável”, afirmou o responsável pela comunicação do grupo, Youssef Sader.

Esta escolha gerou prejuízos. “Alguns clientes deixaram de comprar na rede e outros ainda o fazem, mas buscam pelos produtos que não são vendidos em outros lugares”, admitiu Sader, que estimou que essas perdas tenham representado cerca de 10% da renda da rede.

De acordo com Omar Barghouti, medidas como essa não surtiram o efeito desejado no passado.

“O boicote dos consumidores é o mais difícil, em parte, pelas humilhantes condições impostas pelos Acordos de Oslo”, comentou, para depois citar como outros fatores “a destruição sistemática da economia palestina, o confisco das terras mais férteis, e dos recursos hídricos e da obstrução da indústria palestina”.

Consultado pela Efe, Emmanuel Nahshon, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, disse que tal postura “não colabora para o processo de paz e com o retorno à mesa de negociações”.

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