Papa pede “revolução cultural” e mudança de hábitos para salvar o planeta

  • Por Agencia EFE
  • 18/06/2015 08h46

Javier Alonso.

Cidade do Vaticano, 18 jun (EFE).- O papa Francisco publicou nesta quinta-feira sua esperada encíclica sobre meio ambiente na qual advertiu contra o comportamento “suicida” de um sistema econômico mundial que transformou o planeta em um “depósito de lixo”.

O pontífice afirmou que “o estilo de vida atual é insustentável”, denunciou o “mecanismo consumista compulsivo” que contribui para a destruição do planeta e defende fazer uma “pressão saudável” contra quem têm “o poder político, econômico e social”.

A encíclica, de 191 páginas, é a primeira que Francisco escreveu sozinho – a anterior tinha começado seu antecessor, Bento XVI – e nela realiza uma clara crítica aos poderes econômicos por buscar o lucro financeiro e assim ignorar suas consequências “sobre a dignidade humana e o meio ambiente”.

“O que está acontecendo nos coloca diante da urgência de avançar em uma valente revolução cultural”, disse o papa, advertindo que não propõe “voltar à época das cavernas”, mas sim “diminuir a marcha para olhar a realidade de outra maneira”.

O papa diz claramente no documento que a mudança de costumes que pede inclui a decisão de substituir o uso dos combustíveis fósseis e o desenvolvimento em vez das fontes de energia renováveis para reduzir as emissões de gases poluentes.

Considera “urgente e imperioso” desenvolver políticas que nos próximos anos permitam reduzir essas emissões e se fixa especialmente na necessidade de substituir progressivamente a exploração de carvão, petróleo e gás por outras energias sustentáveis.

Francisco não avalia positivamente as cúpulas mundiais realizadas nos últimos anos para tentar tomar decisões contra a mudança climática porque detecta que nelas faltou “decisão política”, devido a que os países participantes privilegiam “seus interesses nacionais sobre o bem comum global” e denunciou a “miopia” do poder em relação aos desafios propostos.

Para o papa o problema é que “há muitos interesses particulares e muito facilmente o interesse econômico chega a prevalecer sobre o bem comum e a manipular a informação para não ver seus projetos afetados”.

Uma parte importante da encíclica se detém no que o papa denomina a “dívida ecológica” entre norte e sul, criada pelos desequilíbrios comerciais, consequência da exploração dos recursos naturais de alguns países por parte de outros.

“Com frequência as empresas que agem assim são multinacionais, que fazem lá (nos países do sul) o que não lhes é permitido em países desenvolvidos”, disse o papa, denunciando que os povos em vias de desenvolvimento continuam alimentando o progresso dos mais ricos.

Por isso Francisco pede que os países desenvolvidos ajudem os países mais necessitados e apoiem políticas e programas de desenvolvimento sustentável, além de se fixar especificamente em áreas como a Amazônia, onde há “propostas de internacionalização” que “só servem aos interesses econômicos das corporações transnacionais”.

Na encíclica o papa aborda várias questões que têm a ver com as consequências do sistema econômico predominante e seu impacto sobre o planeta e a vida de seus habitantes, como a escassez e deficiência de moradia em muitas partes do mundo, o controle de água por multinacionais e a questão dos Organismos Geneticamente Modificados (OGM).

O pontífice pede para se facilitar o acesso das pessoas mais necessitadas a uma casa própria, porque essa é uma “questão central da ecologia humana” e defende um transporte público que seja prioritário, porque contribuirá para reduzir a poluição e tornará mais fácil a vida das pessoas.

Ele critica que se chegue a colocar nas mãos de empresas transnacionais a água disponível, já que o acesso à água potável é “um direito humano básico, fundamental e universal” e favorecer que as multinacionais a controlem pode ser uma fonte de conflitos.

Sobre os OGM Francisco pede uma reflexão “responsável e ampla” sobre seu desenvolvimento e uso porque sua expansão “arrasa o complexo entrecruzamento dos ecossistemas” e pode favorecer o desenvolvimento de oligopólios na produção de grãos.

Por último, abre também espaço na encíclica para criticar o tratamento dado aos bancos, para salvá-los “a todo custo” em detrimento das pessoas “sem a firme decisão de revisar e reformar o sistema inteiro”, uma proposta transversal neste documento apresentado hoje no Vaticano. EFE

jam/ma

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