Papa se reúne em Havana com os irmãos Castro

  • Por Agencia EFE
  • 21/09/2015 01h41

Sara Gómez Armas.

Havana, 20 set (EFE).- O papa Francisco se reuniu neste domingo em Havana com os irmãos Castro; primeiro com o líder da Revolução cubana, Fidel Castro, em uma breve visita de cortesia em seu domicílio, e depois manteve conversas oficiais com seu irmão, o presidente Raúl Castro.

Após rezar uma missa na emblemática Praça da Revolução para cerca de 200 mil pessoas, segundo dados oficiais, o pontífice fez uma “visita de cortesia” ao ex-presidente cubano, de 89 anos e afastado do poder em 2006, um encontro cujas imagens de vídeo foram divulgadas pela televisão estatal, as primeiras de Fidel desde janeiro de 2014.

“O papa Francisco manteve uma ampla troca com Fidel Castro e concordaram em temas importantes de interesse vinculados à causa dos pobres, à preservação da paz e à sobrevivência humana”, informou a televisão pública.

No encontro, Fidel disse “palavras de elogio” para Francisco por sua “capacidade de comunicação, suas reiteradas mensagens públicas de solidariedade a favor das diferentes camadas sociais e de compromisso em bem da humanidade”, acrescentou a nota oficial.

As imagens da reunião, nas quais se vê como Fidel Castro e Francisco conversam e trocam livros, são as primeiras em vídeo nas quais se vê o ex-presidente cubano desde janeiro de 2014, quando foi de surpresa à inauguração do estúdio do artista contemporâneo cubano Alexis Leyva Machado “Kcho”.

Desde então foram distribuídas fotografias do ex-presidente, quase sempre em encontros em sua casa com outros líderes ou intelectuais; as últimas em 13 de agosto, dia de seu aniversário, quando visitaram a ilha para felicitá-lo pessoalmente os presidentes da Bolívia, Evo Morales, e Venezuela, Nicolás Maduro.

No encontro com o papa, que transcorreu em um “clima calmo, de respeito e amizade”, o líder revolucionário lhe presenteou com um exemplar da primeira edição, em 1965, do livro “Fidel e a Religião”, do frei dominicano e escritor brasileiro, Frei Betto; e este presenteou a Castro dois livros de Alessandro Pronzato, especialista em catequese e na Bíblia.

Fidel Castro foi o anfitrião da primeira visita papal a Cuba, a de João Paulo II em 1998, que marcou um ponto de inflexão na relação entre o governo revolucionário e a Igreja Católica local; enquanto em 2012, quando Bento XVI visitou Cuba – já com Raúl Castro na presidência – foi o ex-presidente que foi à Nunciatura para vê-lo.

O papa Francisco também conversou com Raúl Castro, uma reunião que durou uma hora exata como estabelecia o programa e na qual falaram do “bom estado e favorável desenvolvimento das relações bilaterais entre Cuba e Santa Sé”, que completam agora 80 anos de seus vínculos ininterruptos, segundo a nota oficial do encontro.

Nesta ocasião também houve troca de presentes; Francisco recebeu uma obra de grande tamanho feita pelo artista “Kcho”, que representa o momento da crucificação de Jesus em uma cruz confeccionada com remos; enquanto o papa entregou ao presidente um mosaico de Nossa Senhora da Caridade do Cobre – padroeira de Cuba – confeccionado por artistas do Vaticano.

O líder cubano e o pontífice já tinham se reunido no mês de maio, quando Castro visitou o Vaticano para preparar esta visita papal, que Francisco iniciou em Havana e que continuará nesta segunda-feira nas cidades de Holguín e Santiago de Cuba, de onde partirá, na terça-feira, dia 22, para Washington.

Daquele encontro, que durou quase uma hora – dos mais longos do pontífice com chefes de Estado – Raúl Castro disse ter saído “impressionado com a sabedoria, a modéstia e todas as virtudes” do pontífice.

“Leio todos os discursos do papa e se continuar falando assim voltarei a rezar e retornarei à Igreja, e não digo isso brincando”, revelou Castro, palavras que tiveram grande repercussão na mídia e que são mostra da empatia entre ambos.

Desde o dia 17 de dezembro, quando Cuba e Estados Unidos anunciaram ao mundo sua intenção de restabelecer relações diplomáticas, Raúl Castro sempre que teve oportunidade agradeceu ao pontífice o apoio que a diplomacia vaticana deu aos contatos prévios que ambos os países tiveram em segredo durante 18 meses.

Quando finalizar sua visita oficial a Cuba, na próxima terça-feira, Francisco partirá para os EUA, segunda etapa de uma simbólica viagem pelos dois países que ajudou a reconciliar, depois de mais de meio século de relação hostil entre ambos. EFE

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