Paquistanês que processou os EUA por uso de drones é detido ilegalmente

  • Por Agencia EFE
  • 11/02/2014 07h02

Islamabad, 11 fev (EFE).- O cidadão paquistanês que denunciou os Estados Unidos em 2010 nos tribunais de seu país pelo uso de drones, Karim Khan, foi detido ilegalmente em sua casa, disse nesta terça-feira à Agência Efe seu advogado, Shahzad Akbar.

Segundo o defensor, cerca de 20 agentes das forças de segurança, alguns deles à paisana, apareceram na última terça-feira na casa de Khan na cidade de Rawalpindi, no norte do país, e o levaram. Até o momento, não há notícias sobre ele.

A família do desaparecido confirmou ao jornal local “Express Tribune” que não tem nenhum indício de seu paradeiro.

“Sua mulher e filhos estavam no momento da prisão”, explicou Akbar, que acusou os serviços de segurança do Estado pela súbita detenção de Khan.

“Não pode ter sido a polícia, já que eles têm a obrigação de apresentar os detidos diante de um juiz após 24 horas e não se sabe nada sobre o paradeiro de Khan desde que o levaram”, denunciou o advogado.

Uma fonte do distrito policial do bairro de Nasirabad, próxima da residência de Khan, situado muito perto dos limites da cidade de Islamabad, afirmou à Efe que não tem conhecimento da prisão por parte de forças policiais.

Shahzad Akbar, que hoje compareceu aos tribunais para uma audiência do caso iniciado por Khan, denunciou que a prisão ilegal de seu representado está relacionada com as “duas caras” das autoridades paquistanesas em relação ao uso de drones no país asiático.

“Oficialmente se opõem, mas, por outro lado, não querem que os tribunais fiquem cheios de denúncias contra os bombardeios dos Estados Unidos. Este governo está agindo da mesma forma que os dois anteriores”, afirmou o advogado.

Khan iria viajar na semana que vem para Europa para denunciar o uso de drones americanos para parlamentares de Alemanha, Holanda e Reino Unido.

Original da região tribal do Waziristão do Norte, Khan adquiriu notoriedade após interpor uma denúncia contra os Estados Unidos pela morte de seu filho e seu irmão, em um bombardeio em 2009, além de pedir uma indenização de US$ 500 milhões.

Naquela denúncia constava o nome do então chefe local da CIA, Jonathan Banks, que teve assim sua identidade revelada, que até então era secreta, e teve que sair do país apressadamente.

O episódio se repetiu em novembro do ano passado quando Akbar apresentou outra denúncia após a morte de civis no bombardeio de um drone no noroeste do país e descobriu assim o nome do atual responsável de inteligência dos EUA no Paquistão, Craig Osth.

O uso de aviões não tripulados por parte dos EUA para a luta contra as facções talibãs e jihadistas gerou uma onda de críticas, tanto dentro como fora do Paquistão, pela morte de civis nos bombardeios, apesar de não existirem dados oficiais sobre os mesmos.

Segundo o centro de estudos New America Foundation, desde 2004 ocorreram 370 bombardeios com drones no Paquistão – nenhum este ano -, que causaram a morte de entre 2 mil e 3,5 mil pessoas, 10% deles civis, mas outras fontes consideram que esse percentual é ainda maior. EFE

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