Para empresários, governo Temer está sendo ‘modesto’

  • Por Estadão Conteúdo
  • 12/07/2016 08h59
Brasília - O Presidente interino Michel Temer faz pronunciamento no Palácio do Planalto ( Marcelo Camargo/Agência Brasil) Marcelo Camargo/Agência Brasil Michel Temer Fotos Públicas - AGBR - caretas

O presidente em exercício Michel Temer chega, nesta terça-feira (12), aos dois meses de governo pedindo calma aos empresários. A ausência de resultados sobre a economia real e de medidas que ataquem questões estruturais tem causado certo desconforto entre representantes de setores que apostaram no novo governo para solucionar boa parte dos problemas do País. 

“O momento é de uma gravidade econômica que exige medidas corajosas”, disse Flávio Rocha, presidente da varejista Riachuelo e um dos primeiros empresários a criticar a política econômica do governo Dilma Rousseff, “estou absolutamente frustrado.” Para Rocha, as medidas econômicas de cortes de gastos públicos precisam andar mais rápido. 

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, também reconhece que os resultados práticos do governo Temer, até agora, são poucos, “gostaria de ver o governo tomando decisões importantes nas áreas de Previdência, reforma trabalhista, desburocratização. Isso não temos visto muito”, referiu.

A equipe econômica, no entanto, só deve adotar medidas mais contundentes para a recuperação da economia depois da votação do impeachment de Dilma Rousseff, programada para o fim de agosto. Por enquanto, o Planalto evita desagradar o Congresso Nacional, que dará a palavra final sobre o afastamento definitivo da presidente. A expectativa é que, uma vez definido o quadro político, os investimentos serão destravados. 

O presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, conta com isso, “espero que, uma vez definida a questão do impeachment, seja possível avançar na discussão com a sociedade de uma agenda de reformas prioritárias e absolutamente necessárias, em especial, a política e a fiscal, fundamentais para o País voltar a se desenvolver de forma sustentável”, disse em nota, concluindo que “tivemos alguns avanços nesse período, mas os desafios ainda são grandes e há muito a ser feito.”

Desde que a presidente Dilma Rousseff foi afastada do cargo, em maio último, a confiança de empresários tem apresentado notável melhora, sobretudo em termos de expectativas. O otimismo tomou conta, por exemplo, da indústria, que, há dois anos, acompanha o encolhimento de seu Produto Interno Bruto (PIB). 

Os dados da economia real, porém, não reagem na mesma rapidez. O faturamento da indústria segue em queda e o emprego voltou a níveis de 2006, segundo a própria CNI, “tem uma melhora no ambiente político. A sociedade está vendo o governo com mais confiança, mas não há uma mudança na economia em que possamos ver o resultado real disso”, diz Andrade, para quem a “reversão ainda não ocorreu”. 

Na visão do presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Antonio Megale, a atuação de Temer ainda é um pouco “modesta” em razão justamente da pendência em relação ao impeachment. O gestor, contudo, diz que vê “uma vontade grande de acertar” por parte do governo de Michel Temer nesses dois primeiros meses. 

O mercado financeiro, por enquanto, está relevando as medidas de afrouxamento fiscal, colocando na conta da “interinidade” do presidente, “mas, em compensação, vai aumentar a cobrança por medidas de arrocho, se o impeachment for consumado”, previu o executivo de um banco estrangeiro.

O economista-chefe do banco americano Morgan Stanley no Brasil, Arthur Carvalho, diz que, na prática, pouco foi feito em dois meses, mas o governo demonstrou que se comunica melhor do que a gestão anterior. O empresário destacou que foram feitas importantes sinalizações de condução da economia como a PEC dos gastos, a agenda da privatização e a coragem de se discutir a reforma da Previdência. Os pontos negativos ficaram para a aprovação do aumento dos salários do Judiciário e do Bolsa Família, destacando que isso pode ter sido uma forma de negociar a aprovação de medidas estruturais importantes. 

A aposta do governo é de que a recuperação da economia vai permitir, entre outras coisas, uma melhora do emprego, reduzindo as resistências de medidas impopulares, “com o crescimento do PIB de 1,2% e a regularização das empresas para recomeçar a contratar, teremos o caminho da retomada do crescimento. O empresáriado precisa de confiança”, disse o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha. 

Para a presidente da companhia aérea Latam Brasil, Claudia Sender, o que mudou nesses últimos dois meses é que o governo começou a construir “um caminho de confiança no setor privado e, para as empresas voltarem a investir no Brasil, é preciso confiança. Atualmente, o que existe é esperança”, diz a executiva. 

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.