Para Estado Islâmico, Gaza é missão para o futuro
Susana Samhan.
Beirute, 30 jul (EFE).- “Gaza sim, mas para o futuro”, é o plano defendido oficialmente pela cúpula do grupo radical Estado Islâmico (EI) – que declarou a criação de um “califado” no Iraque e na Síria – em relação ao debate interno sobre se deve ou não intervir no conflito na região palestina.
Desde 8 de julho, data do início da ofensiva israelense em Gaza, chamada Limite Protetor, as redes sociais e os fóruns usados por jihadistas são palco de discussões sobre se o “califado” (forma islâmica de governo que representa a unidade e liderança política) deveria se expandir pela Palestina.
Alguns de seus adversários, mas também simpatizantes, se queixam que o EI, de ideologia extremista sunita, volte seus esforços para a Síria e o Iraque ao invés de evitar a morte de palestinos em Gaza. Diante dessas críticas, o EI deixou clara sua postura na “Dabiq”, a revista em inglês do “califado”.
“Sobre os massacres que ocorrem em Gaza contra homens, mulheres e crianças muçulmanos, o EI fará todo o possível para golpear qualquer apóstata que represente um obstáculo no caminho para a Palestina”, ressalta em artigo.
O grupo radical afirma que seu estilo não é lançar “palavras vazias”, como os “árabes pagãos” na Organização das Nações Unidas (ONU) ou na Liga Árabe, e que prefere a ação, ao advertir que “é apenas questão de tempo e paciência” alcançar a Palestina para lutar “contra os judeus”. Segundo os jihadistas, ainda não foram dadas as condições para que o EI intervenha em Gaza, governada pela organização islamita Hamas, a qual repudiam.
Em sua conta no Twitter, o xeque Abu Omar al Kuwaiti, próximo ao EI, lamentava recentemente que “a apostasia esteja presente na maioria dos palestinos” e rejeitou que estes elejam seus representantes de forma democrática, tanto na Faixa de Gaza quanto na Cisjordânia.
Ele também acusou o Hamas de ser um grupo “em decadência” e de consentir com “um sistema político democrático”. Em sua opinião, esta forma de governo não leva em conta nem Deus, nem o islã, e o Hamas é o culpado de divulgar “o politeísmo” em suas faculdades de Direito e escolas.
O religioso radical, dirigente de um grupo de jihadistas estrangeiros próximo ao EI na Síria, afirma que antes de lutar contra Israel é necessário que os palestinos se arrependam e retornem ao “verdadeiro” islã.
Outro xeque jihadista, Ali al Rabie, sentenciou há uma semana em um tweet que “quem acredita que a libertação de Jerusalém e Palestina ocorrerá antes da abertura de Bagdá, Damasco, Karbala, Najaf e Teerã está enganado, é ignorante e não entende nada de política”.
Karbala e Najaf são duas cidades iraquianas consideradas santas pelos xiitas – os grandes inimigos do EI – e nelas ficam os santuários dos principais imames do xiismo.
Da sua página, o clérigo extremista fez críticas contra os xiitas e pediu ao Hamas para não aceitar o apoio do Irã nem do grupo libanês Hezbollah, porque, segundo ele, se o fizer, não vencerá nunca.
O debate entre os jihadistas se limita apenas ao Twitter. Ele se dá também em fóruns de internet utilizados pelos extremistas para publicar notícias e trocar opiniões. Em um texto, divulgado em uma destas páginas, um internauta que se identifica como Garib al Ijuan reconhece a existência de uma discussão sobre a postura do “califado” sobre o que acontece em Gaza.
“A maior parte das pessoas pensou que a declaração do califado significaria a libertação da Palestina no dia seguinte. Estas pessoas não sabem que as grandes batalhas e a história dos fatos precisam de tempo para se adaptar a seu tamanho”, explica o autor do texto, ao mesmo tempo em que repulsa o Hamas por ter se afastado do “monoteísmo”. EFE
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