Para presidente do CBIE, balanço não auditado da Petrobras “vale pouco” e empresa sofrerá para conseguir dinheiro
“O mercado amanhece frustrado”, avalia Adriano Pires, diretor-fundador do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE) e especialista no setor de energia. Era esperado que a Petrobras divulgasse balanço do terceiro bimestre de 2014 com a contabilização do prejuízo causado pela corrupção na estatal, investigada pela Operação Lava Jato da Polícia Federal.
Mas o anúncio nesta quarta (28) veio sem o prejuízo estimado e o lucro da companhia no período foi divulgado em cerca de R$3 bilhões, uma queda de 38% em relação ao trimestre anterior, de 2013. Além disso, o documento não veio validado pela empresa de auditoria PwC, que justamente esperava o acréscimo dos números desviados.
Para Adriano Pires, “sem balanço assinado vai ficar complicado a Petrobras conseguir dinheiro no mercado, conseguir emitir dívida, porque (o lucro divulgado do terceiro trimestre) é um número que não tem consistência porque não está auditado”. O número, assim, “vale pouca coisa” e “a confusão continua”, opina.
Na entrevista, que foi ao ar às 7h05 do Jornal da Manhã, Pires anunciou que aguardava uma “queda grande nas ações da Petrobras” por essa quebra de expectativas da divulgação do número. De fato, duas horas após a abertura do pregão da Bovespa, às 12h, os papéis da empresa sofriam queda de mais de 9% de seu valor.
Considerando o porquê de o prejuízo oriundo da corrupção não ter sido contado, Pires explica: “Não tinha a menor chance de colocar qualquer perda, porque se colocasse isso no balanço, teria que explicar onde foi essa perda, quanto foi para Abreu e Lima, quanto foi no Comperj (investimentos que tiveram superfaturamento, de acordo com as investigações), enfim, onde aconteceu o ato ilícito para a Petrobras”. Por isso, foi usada a metodologia tradicional de contabilidade da empresa.
Histórico
Na visão de Pires, a atuação da Petrobras nos últimos anos dificulta a contabilização exata das perdas. “A Petrobras nos útlimos anos foi uma empresa que teve uma ação totalmente politizada”, avalia.
“O governo usou a Petrobras como um instrumento para ajudar os partidos políticos a eleger prefeitos, governadores, presidente da República, usou a Petrobras para controlar a inflação, para agradar os “amigos do rei”, empresas que foram escolhidas para serem beneficiadas com essa bagunça toda que a gente vê nos jornais,… E isso fez com que ninguém prestasse atenção no principal evento, que é para onde o dinheiro estava indo”, afirmou o presidente da CBIE.
Pires inclusive assume que o trabalho do conselho da Estatal não era fácil: “A bagunça foi de tal ordem, a quantidade de atos ilícitos foi de tal tamanho e número, que eu até concordo que é muito difícil fechar essa conta”.
Projeções econômicas
No comunicado oficial que veio junto ao balanço revelado esta quarta, a presidente Graça Foster prevê que a companhia “não necessitará recorrer a novas dívidas no ano de 2015 em função dos fatores que favorecem nosso fluxo de caixa”. Pires concorda em parte e explica os fatores econômicos que favorecem a Petrobras atualmente.
“A Petrobras está com uma sorte de que o barril do petróleo caiu muito de preço”, afirmou Pires. “Com isso a empresa brasileira está fazendo muito caixa com a venda de gasolina e diesel, cujos preços nas bombas não caíram.” O oposto de como era antes: “No passado ela (a Petrobras) perdia porque o petróleo estava muito alto e o governo não deixava ela ajustar os preços da gasolina e diesel”.
No Brasil, por exemplo, a gasolina é em média 70% mais cara que no mercado internacional. Já o diesel é 50% mais caro que no resto do mundo. Além disso, a Petrobras receberá um aumento de caixa pela volta do Cide (Contribuição para Intervenção no Domínio Econômico), que tornou a incidir na gasolina em pacote tributário anunciado pelo ministro da Fazenda Joaquim Levy no último dia 19.
Mesmo assim, Pires avalia que o novo “fluxo de caixa” não será suficiente para cobrir o rombo econômico da Petrobras. “A dívida é em torno US$ 114 bilhões, é a maior dívida de petroleiras no mundo”, argumenta.
“A Petrobras vai ter que rever investimentos, colocando-os para baixo”, prevê o especialista. Isso porque “o (investimento para a extração do) Pré-Sal fica mais complicado com o barril a US$ 50 dólares”.
Assim, a empresa deve ficar no imbróglio de ter que recorrer ao mercado em algum momento sem um balanço devidamente auditado.
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