Paraguai se torna “paraíso suspeito” para estudantes brasileiros e angolanos

  • Por Agencia EFE
  • 10/02/2015 10h28
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Santi Carneri.

Assunção, 10 fev (EFE).- Milhares de estudantes brasileiros e angolanos migram para o Paraguai atraídos pela flexibilidade e pelos baixos custos dos cursos intensivos de doutorado e pós-graduação oferecidos por cerca de 50 universidades privadas, algumas questionadas pelas próprias autoridades educativas locais.

A maioria dos graduados de Brasil e Angola têm o mesmo objetivo: conseguir um título de especialização de forma rápida e mais barata do que em seus países de origem.

No Brasil há muita demanda por estudo, mas são poucas as vagas para os pós-graduandos e doutorandos nas universidades públicas, e as privadas cobram preços similares aos da Europa, com parcelas mensais de até R$ 2 mil.

A situação é parecida em Angola, onde a ligação cultural com o Brasil atrai muitos estudantes para a América do Sul, que escolhem o Paraguai pelo baixo custo de vida e também os cursos, explicou à Agência Efe Álvaro García, angolano matriculado na Universidade de San Lorenzo.

Esse intercâmbio, facilitado por convênios educativos internacionais, atrai cerca de 2.000 estudantes brasileiros e 500 de Angola a cada ano, de acordo com dados divulgados pela Diretoria Geral de Migrações.

Fazer um mestrado no Paraguai, na maioria das disciplinas oferecidas pelas mais de 50 universidades privadas, custa em média média US$ 3.900 (R$ 10.486,32) no total.

Apesar das despesas em transporte e alojamento, os brasileiros e angolanos consideram mais barato se formar no Paraguai e se tornam os principais turistas de Assunção, fenômeno que beneficia o comércio e o setor de serviços da cidade.

Trata-se de um negócio promissor que fez aumentar a oferta, apesar de nem todas as instituições de ensino que oferecem cursos deste tipo serem supervisionadas pelo governo, segundo a diretora de Universidades e Institutos Superiores do Paraguai, Salvadora Giménez.

Em 2006, com a entrada em vigor de uma lei “muito permissiva”, em menos de quatro anos surgiram mais de 30 universidades das quais não era exigida a apresentação dos programas didáticos ou outros requisitos previstos na legislação anterior, ressaltou Giménez.

Caminhando pela capital paraguaia é comum encontrar universidades que não ocupam nem 100 metros quadrados, conhecidas como “universidades garagem”, cuja principal atração são os cursos de Direito.

O Ministério da Educação e a comunidade universitária trabalham para regulamentar uma lei aprovada em 2013 que tem como objetivo fechar as instituições fraudulentas criadas recentemente.

Ao mesmo tempo, investigam várias universidades onde houve denúncias de irregularidades. As entidades também elaboram o primeiro cadastro em nível nacional para saber qual é a oferta acadêmica apresentada em todo o país.

A Universidad Sudamericana foi interdidata recentemente depois que alunos de Medicina da cidade de Pedro Juan Caballero, que faz fronteira com o Mato Grosso do Sul, denunciaram falta de preparo dos professores há mais de um ano.

O governo investiga agora se a instituição tinha a habilitação necessária para oferecer o curso e outros, segundo a diretora de Universidades e Institutos Superiores.

Outras instituições interditadas recentemente são a Universidad Nacional de Pilar e a de Villa Rica del Espíritu Santo, assim como os institutos superiores de Santa Librada e Latinoamericano, segundo o Ministério da Educação.

A mais prestigiada e exclusiva das instituições de ensino privadas do país, a Universidad Católica, também se envolveu em um escândalo. Alunos de Direito denunciaram a compra e venda de notas em um suposto esquema que envolvia a professores e profissionais administrativos, lembrou Giménez.

A própria universidade interveio e vários estudantes das famílias mais ricas do país foram expulsos, assim como os funcionáriosw envolvidos.

O Ministério da Educação quer que a nova lei aumente a qualidade do ensino superior no país, tanto para paraguaios como para estrangeiros, e prevê regulamentar a educação à distância, algo que poderia melhorar o atual modelo. EFE

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