Parlamento italiano não chega a acordo para escolher novo presidente
Laura Serrano-Conde.
Roma, 29 jan (EFE).- Os mais de mil “grandes eleitores” que devem escolher o novo presidente da Itália voltarão a votar amanhã no parlamento, uma vez que nenhum dos candidatos conseguiu apoio suficiente para ser eleito em primeira instância nesta quinta-feira.
Os 1.009 deputados, senadores, representantes de regiões e senadores vitalícios que participaram desta primeira votação ainda não chegaram ao nome do substituto de Giorgio Napolitano, de 90 anos, que renunciou como chefe de Estado em 14 de janeiro.
Durante duas horas e meia, os eleitores depositaram os votos secretos em uma urna, diante do atento olhar de um secretário da presidência. Após a votação, foi realizada a apuração dos votos, que terminou por volta das 19h10 locais (16h10 em Brasília).
O resultado da apuração relatou 538 votos em branco e 120 para o mais votado, o político e magistrado italiano Ferdinando Imposimato, candidato do Movimento 5 Estrelas.
O jurista e várias vezes ministro Sergio Mattarella, de 73 anos, apontado como novo presidente pelo primeiro-ministro, Matteo Renzi, momentos antes de começar a votação, só obteve cinco votos.
Os membros do social-democrata Partido Democrático (PD) não apoiaram o candidato de Renzi, mas isso não significa que não decidam fazê-lo nas próximas votações.
Momentos antes do início da votação, Renzi surpreendeu indicando como candidato de seu partido esse fundador do PD e atual juiz do Tribunal Constitucional.
A indicação foi feita no meio de uma reunião, transmitida ao vivo pela televisão, entre os membros do PD. Na ocasião, o ex-prefeito de Florença pediu um acordo unitário para apoiar Mattarella.
“Temos a chance de apagar o que aconteceu em 2013. Se for escolhido um candidato, este é o candidato do PD e não há outro. Com isso ganhamos credibilidade”, explicou Renzi ao lembrar que não conseguiu eleger Romano Prodi pela falta de votos de seu próprio partido.
Naquele momento houve, no PD, 101 “franco-atiradores”, como são conhecidos os integrantes de uma determinada força política que primeiro dizem seguir o líder e depois mudam o voto.
O número de “franco-atiradores” foi menor nesta quinta-feira. Dos 538 que votaram em branco, muitos pertenciam ao PD.
A votação foi realizada em meio a um clima de tensão protagonizado pela legenda liderada pelo ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, a Forza Itália (FI).
O ex-chefe de governo, que atualmente cumpre pena de serviços sociais por uma condenação de fraude, acusou Renzi de não respeitar a aliança entre ambos, conhecida como “Pacto do Nazareno” (nome da rua da sede do PD), e pediu para que os membros de seu partido votassem em branco.
O nome de Mattarella não conta com a simpatia do “ex-Cavaliere”, pois renunciou em 1990 do cargo de ministro da Educação no governo de Giulio Andreotti, em protesto contra a aprovação da lei Mammi, que reorganizava os canais televisivos e outorgava três deles à Mediaset, o império midiático de Berlusconi.
A Constituição italiana, de 1947, estipula que para a escolha do chefe de Estado é necessário ter dois terços dos votos nas três primeiras votações, que são 673 eleitores, enquanto na quarta bastará a maioria absoluta, ou seja, 505.
Por isso, Renzi acredita em esgotar as três primeiras votações para que Mattarella possa ser eleito presidente na quarta apuração, prevista para sábado, quando só será necessário o apoio da coalizão governamental formada pelo PD e outras forças de centro-direita.
Mattarela, nascido em Palermo, capital da Sicília, possui ainda um grande passado de luta contra a máfia, como quando foi indicado por Ciriaco De Mitta para a gestão da Democracia Cristã (DC) na Sicília, para limpá-la dos escândalos de relação com a Cosa Nostra deixados pelos prefeitos de Palermo, Vito Ciancimino e Salco Lima.
Seu irmão Piersanti Mattarela foi assassinado pela Cosa Nostra em 6 de janeiro de 1980 quando era presidente da região. EFE
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