Participação de palhaços no tratamento de crianças no Canadá serve de modelo
Julio César Rivas.
Toronto (Canadá), 10 fev (EFE).- Há 20 anos, o hospital infantil SickKids, em Toronto, conta com um programa de palhaços para complementar o tratamento médico de seus pacientes, uma singular prática que agora está sendo exportada para países latino-americanos.
Em 1993, Joan Barrington, uma mulher pequena que anos antes tinha tido o sonho de se transformar em palhaça, iniciou no Hospital SickKids, um dos mais importantes do mundo em sua área, um programa com palhaços como forma de terapia para ajudar na recuperação de seus pacientes.
Agora, como presidente da Therapeutic Clowns International (TCI), Joan forma profissionais cubanos para incorporar o modelo de “palhaços terapêuticos” ao sistema de saúde do país caribenho.
“Fizemos duas oficinas em Cuba, a primeira a convite da Colmenita (companhia de teatro infantil cubana) e a segunda a pedido do Ministério da Saúde de Cuba”, disse Joan.
O resultado dessas oficinas foi a formação de 12 “palhaços terapêuticos” que estão começando a trabalhar nos hospitais cubanos para atender aos pacientes mais jovens.
“Em maio haverá um simpósio especial em Santiago de Cuba no qual um médico que esteve pesquisando sobre o riso, o humor e seus impactos na cura vai apresentar seus resultados. Cuba está se antecipando”, acrescentou.
Em 1993, Joan enfrentou dificuldades para integrar palhaços profissionais ao tratamento de pacientes infantis, mas “os médicos e os outros funcionários entenderam rapidamente o valor da ação após me verem interagir com as crianças durante cinco minutos”, afirmou.
Durante anos, Joan começava sua manhã revisando com as equipes a situação dos pacientes do hospital para entender em que estado se encontravam, e decidir quem visitar como seu alter ego, o palhaço Bunky.
“Embora todos os pacientes sejam importantes, alguns deles tinham que ir para a sala de operações, ou estavam no pós-operatório, além dos deprimidos”, relatou Joan à Agência Efe.
“Muitas dessas crianças ficam no hospital por longos períodos. Podem passar três ou quatro semanas internadas, voltar para casa durante um período, mas depois têm que retornar, por isso, ser um palhaço terapêutico consiste em estabelecer relações”, acrescentou.
Depois de 20 anos de existência do programa criado por Joan no SickKids, a prática é considerada indispensável no hospital de Toronto assim como em muitos outros que cuidam de crianças na América do Norte.
Desde 1993, várias gerações de palhaços passaram pelo SickKids. Jamie Sneddon, o A.Leboo, está na função há sete anos, cinco dias na semana durante oito horas, para visitar os cerca de 300 pacientes.
Sneddon é um jornalista que trabalhou durante mais de 10 anos na televisão em Toronto. Mas afirma que um dia se deu conta de que esse era seu destino.
“Simplesmente estou certo de que fui feito para ser um palhaço terapêutico”, explicou Sneddon.
“Meu trabalho é fazer com que as crianças de 0 a 18 anos se divirtam com qualquer coisa que elas queiram. Meu trabalho é brincar e ser seu amigo para que sua estadia no hospital seja menos estressante”, acrescentou.
Tanto Joan como Sneddon, que no ano passado visitou 4.200 pacientes no SickKids, reconhecem as dificuldades do trabalho de “palhaço terapêutico”.
“Todos nós temos que ter uma base muito sólida para que consigamos aguentar, porque acumulamos muita dor, informações e estresse”, comentou Joan.
“Uma vez estava com uma família na unidade de terapia intensiva quando seu filho morreu. Tive a chance de dizer adeus e ler o poema que tinha escrito para ele. E depois tive que sair correndo porque estava chorando. Mas me considero uma pessoa de sorte”, contou Snodden.
“As família me inspiram. Elas são fortes e perseveram. Isso é o que recebo deles”, concluiu. EFE
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