Partidos lutam para defender plano econômico para eleitores cansados

  • Por Agencia EFE
  • 04/05/2015 16h12

Judith Mora.

Londres, 4 mai (EFE).- Os três grandes partidos britânicos brigam nestas eleições para defender seus planos econômicos para um eleitorado cansado após cinco anos de austeridade e para o qual esta questão é a principal preocupação.

Conservadores, trabalhistas e liberais-democratas focaram suas campanhas em tentar persuadir os cidadãos de que são os mais capacitados para gerenciar a economia, com propostas, aparentemente não muito distantes entre si, que combinam crescimento e redução do déficit.

Segundo a última pesquisa da YouGov, de abril, a economia é, com 55%, a primeira preocupação dos britânicos nestas eleições, seguida por saúde, com 50%, e imigração, com 47%.

“A economia é agora mais do que nunca um assunto fundamental para os eleitores, que nos últimos anos sofreram os efeitos da crise econômica e da recessão”, disse para a Agência Efe Ben Clift, professor de política da universidade inglesa de Warwick.

No entanto, segundo Clift, os três grandes partidos, dos quais apenas os conservadores, de centro-direita, e os trabalhistas, de centro-esquerda, têm opções de ganhar em 7 de maio, “alinharam-se em torno da austeridade”.

“Curiosamente, nenhum questiona a necessidade de seguir aplicando cortes ou diminuir o ritmo de redução do déficit estatal para favorecer o investimento público, o que seria um argumento econômico perfeitamente plausível”, observou.

Os conservadores, liderados pelo primeiro-ministro, David Cameron, que procura a reeleição após meia década em coalizão com os liberais-democratas, propõem aprofundar os cortes, sobretudo do estado de bem-estar, para conseguir um superávit orçamentário no final da legislatura.

Já os trabalhistas, liderados por Ed Miliband, propõem igualmente sanear o orçamento para 2019-20 e “financiar o investimento com a poupança e não com empréstimos”, apesar de que, como aponta Clift, em nome de seu histórico mais progressista os cortes “não se centrariam tanto nas ajudas sociais”.

Os liberais-democratas, de Nick Clegg, que poderiam voltar a ser chave para uma coalizão de um governo em minoria, querem eliminar já em 2018 o déficit fiscal, de cerca de 90 bilhões de libras (125 bilhões de euros), e reduzir a dívida líquida, que chega a 1,4 trilhão de libras (dois trilhões de euros), a 80% do Produto Interno Bruto (PIB).

Os únicos partidos com possibilidades de conquistar cadeiras que defendem acabar com a austeridade são o Partido Verde, os nacionalistas galeses do Plaid Cymru e o Partido Nacionalista Escocês (SNP), de Nicola Sturgeon, que poderia acabar chegando a um acordo com os trabalhistas.

A falta de vontade do partido de Miliband para se opor aos cortes, que tanto prejudicam seus eleitores, ou inclusive a se comprometer a aumentar os gastos públicos, deve-se ao fato de estar “sob pressão para demonstrar que pode gerenciar bem a economia”, disse o analista em eleições da London School of Economics (LSE) Tony Travers.

“Os trabalhistas ainda sofrem as consequências da crise financeira global de 2008 ter ocorrido durante seu mandato, e os conservadores conseguiram classificá-los como ineptos econômicos”, explicou.

Por isso, a legenda esquerdista, que dá por certo o apoio de seu eleitor tradicional -embora decepcionado-, procura captar “o voto flutuante defendendo a retidão fiscal”, afirmou o acadêmico.

O instituto de pesquisa YouGov constatou que os eleitores confiam mais nos conservadores para conduzir a economia, com 39% contra 21% dos trabalhistas, apesar destes estarem na frente em relação à saúde, com 39% contra 23%.

Os indicadores econômicos acompanham os conservadores, que nesta legislatura consolidaram o crescimento do PIB, com 2,5% previsto para 2015, e reduziram o desemprego até 5,6%, além de uma inflação de 0%.

Estas eleições, muito imprevisíveis e que provavelmente levarão a alianças inéditas, podem por outra parte ter sérias consequências para a economia do Reino Unido, disse à Efe Sam Albersonn, economista do centro de estudos Cebr.

“Nos últimos meses já notamos uma diminuição do investimento e da confiança das empresas, que estão aguardando quem ganhará pela possível introdução de mais taxas sobre os bancos, o imposto sobre as mansões dos trabalhistas ou o plebiscito de permanência na União Europeia dos conservadores, detalhou.

Se o governo que se formar for claro, “as águas voltarão ao seu leito em poucos dias”, mas se a previsão for de um futuro instável de negociações, “a primeira vítima poderia ser a libra”, advertiu o analista. EFE

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