Passados 70 anos, sobreviventes de Auschwitz pedem que horror não se repita

  • Por Agencia EFE
  • 27/01/2015 17h12

Nacho Temiño.

Auschwitz (Polônia), 27 jan (EFE).- Sobreviventes de Auschwitz e delegações de todo o mundo lembraram nesta terça-feira no antigo lugar do campo de extermínio nazista o 70º aniversário de sua libertação , com um apelo à comunidade internacional para que não esqueça o horror que aconteceu ali.

O cenário de frio e neve de hoje foi similar ao que encontraram as tropas do exército soviético que chegaram até as portas de Auschwitz-Birkenau em 27 de janeiro de 1945, quando puseram um fim ao cativeiro de milhares de prisioneiros que, abandonados à própria sorte pelos guardas, esperavam resignados a chegada da morte.

Entre os que, 70 anos depois, quiseram acompanhar os sobreviventes em uma data tão significativa estavam os presidentes da França, François Hollande; da Alemanha, Joachim Gauk, e da Ucrânia, Petro Poroshenko, junto ao anfitrião, o chefe de Estado polonês, Bronislaw Komorowski.

Em seu discurso, Komorowski lembrou que a Polônia se transformou na “depositária da memória de Auschwitz-Birkenau e do Holocausto”, ambos símbolos do “genocídio totalitário”, e pediu ao mundo que se esforce para evitar que uma tragédia assim possa repetir-se.

Mas foi o testemunho dos sobreviventes o mais assustador em uma cerimônia que honrava sua memória e que contou com a presença de cerca de 300 e com os discursos de três deles.

A ex-prisioneira polonesa Halina Birenbaum, atualmente residente em Israel, se dirigiu ao público, mas sobretudo aos líderes presentes, para lamentar que, se Auschwitz pôde existir durante cinco anos, “então tudo o que há de perverso é possível em nosso mundo”.

“Contra isso temos, têm os senhores, que lutar”, disse antes de agradecer ao museu-memorial de Auschwitz pela conservação dos objetos e documentos que comprovam a barbárie que ela e outras centenas de milhares de pessoas sofreram durante seu cativeiro.

“Atuar, não só lembrar”, afirmou por sua parte o sobrevivente americano Roman Kent.

“Lembrar sim, mas também educar às futuras gerações para que entendam o que aconteceu quando se permitiu que o ódio se apoderasse de tudo, é preciso ensinar tolerância e entendimento, tanto em casa como no colégio”, pediu em seu discurso.

Kent descreveu a vida no campo com palavras que ficarão para a lembrança: “Um minuto em Auschwitz era como um dia inteiro, e um dia como uma semana, e uma semana como um mês. Uma eternidade de horror”.

Outro testemunho, o único de um sobrevivente não judeu, foi o do polonês Kazimierz Albin, deportado a Auschwitz em 1940 por cooperar com a resistência, que quis lembrar o papel destes guerrilheiros poloneses que lutaram valentemente contra os nazistas nos arredores do campo e que ajudaram os poucos presos que, como ele, conseguiram escapar com sucesso de suas instalações.

Hoje em Auschwitz também se encontraram representantes do mundo da cultura, como o cineasta judeu americano Steven Spielberg, diretor do filme “A Lista de Schindler”, que ontem na Cracóvia alertava a um grupo de ex-prisioneiros do auge do antissemitismo no mundo e dos “perenes demônios da intolerância”.

Spielberg pôde assistir à exibição do documentário de 15 minutos sobre Auschwitz que recentemente produziu em colaboração com o museu-memorial e a fundação Shoah, que conta como narradora com a voz da atriz americana Meryl Streep.

Além disso, delegações de cerca de 50 países estiveram representadas na cerimônia. Sobreviventes e os demais participantes finalizaram o ato acendendo velas perante o monumento às vítimas do campo.

A ausência mais sentida foi a do presidente russo, Vladimir Putin, que acusou às autoridades polonesas de não ter lhe convidado, apesar de terem sido tropas soviéticas as que libertaram o campo de extermínio.

Precisamente hoje, em Moscou, Putin lembrou que “o fim a essa monstruosidade e implacável barbárie nazista foi possível graças ao Exército Vermelho, que salvou do extermínio não só os judeus, mas também outros povos da Europa e do mundo”.

E assim foi, já que em 27 de janeiro de 1945 o exército soviético abriu as portas do inferno em Auschwitz-Birkenau, o palco da chamada “Solução Final”, eufemismo com o qual os nazistas se referiam ao genocídio judeu.

Ali encontraram mais de um milhão de ternos e vestidos e cerca de oito toneladas de cabelo humano que os nazistas aproveitavam junto com outras partes dos corpos de suas vítimas como se de uma grande feitoria humana se tratasse.

Estima-se que mais de um milhão de pessoas, em sua maioria judeus, morreram em Auschwitz e no campo anexo, Birkenau, (Oswiecim e Brzezinka, em polonês) devido às surras, as câmaras de gás, à fome, ao esgotamento e às doenças.

Hoje, Auschwitz-Birkenau é patrimônio da Humanidade da Unesco e um museu-memorial de 200 hectares visitado a cada ano por mais de um milhão de pessoas, principalmente jovens, que mantêm um grande silêncio quando entram no campo deixando para trás o letreiro “Arbeit macht frei” (“O trabalho liberta”). EFE

nt/rsd

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