Passageiros de ônibus de Lima aprendem história da cidade durante trajetos

  • Por Agencia EFE
  • 14/05/2015 15h26

Lima, 5 mai (EFE).- No meio dos enormes engarrafamentos do caótico trânsito de Lima, a história virou mais uma passageira a bordo dos centenas de milhares de ônibus que trafegam nas vias da capital peruana, graças a universitários que dão aulas aos passageiros sobre a origem histórica dos locais pelos quais os veículos passam.

A iniciativa pretende “despertar nos cidadãos o interesse pela história com uma contribuição de informação” sobre lugares cotidianos, disse à Agência Efe a diretora de marketing da Universidade San Martín de Porres (USMP), Carla Montero, onde o coletivo Cultura PE idealizou o projeto.

O grupo é formado por três estudantes dessa universidade, que dedicam em seu tempo livre a subir e descer dos ônibus limenhos para dar breves lições de história pelo menos quatro vezes por semana.

“Nossa missão é dar dados básicos e curtos com discursos de cinco minutos, e também distribuímos folhetos para os passageiros continuarem seu trajeto lendo”, explicou Montero.

Entre os integrantes do Cultura PE está Jordan Carrión, que contou à Efe que “a aceitação das pessoas sobre temas culturais e de história motiva mais o grupo a transmitir essa informação, porque a cultura geral é um elemento de desenvolvimento social muito importante”.

“Nossa ideia original era instruir os cobradores dos micro-ônibus para que eles explicassem a história das ruas pelas quais trafegam, mas depois decidimos nós mesmos falar nos veículos”, explicou Carrión.

Os limenhos chegam a passar em média três horas diárias dentro de ônibus, micro-ônibus e caminhonetes, e é comum subirem a bordo vendedores ambulantes de guloseimas, chicletes, cigarros, sorvetes e chocolates, mas até agora não existiam aulas gratuitas de história.

Quem passa pela avenida Alfonso Ugarte, uma das principais do centro histórico de Lima, construída há 87 anos e batizada com o nome de um dos heróis peruanos da Guerra do Pacífico (1879-1884), mal se lembra da história dele.

Carrión entra em um dos veículos e conta aos passageiros que “Ugarte morreu na batalha de Arica”. No fundo do ônibus, um senhor acrescentou que “também participou de duas batalhas e que, na última, atiraram em sua cabeça”. Outro comentou que ele era contador de profissão.

As lições de história também estão nos ônibus que passam pelas avenidas batizadas com os nomes do ex-primeiro-ministro e chanceler Javier Prado, do ex-presidente Felipe Salaverry, do governador Antonio José de Sucre e do marinheiro francês Petit-Thouars, além da avenida de Simón Bolívar.

Assim, os passageiros aproveitam uma tediosa viagem desde suas casas até seus locais de trabalho para saber, por exemplo, que Salaverry foi o presidente mais jovem que o país teve e o mais jovem a morrer, fuzilado aos 29 anos.

Eles também aprendem outros dados, como o de que Javier Prado “foi fundador da Academia Peruana de Letras, além de chanceler” do país, enquanto Antonio Álvarez de Arenales, “um militar argentino de origem espanhola, foi nomeado pelo general José de San Martín para uma das expedições que libertaram o país”.

Para os jovens professores, viver no meio do trânsito e do caos afasta os peruanos de sua própria história, ao ponto de “serem turistas no próprio país”, afirmou Carrión.

O estudante comentou que essa é uma das razões pelas quais decidiram contar história nos ônibus, por estarem certos que a única maneira de mudar as coisas é conhecer o passado para não voltar a cometer os mesmos erros. EFE

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