“Passei lá cinco minutos antes”, diz peregrino sobre tragédia em Mina, próxima a Meca
Pelo menos 717 pessoas morreram e 863 ficaram feridas após uma tragédia em Mina, a cinco quilômetros de Meca, em que centenas foram pisoteadas e esmagadas. Esta é a maior tragédia mortal na peregrinação anual, conhecida como hajj, em mais de 25 anos.
Em entrevista ao repórter Anderson Costa, o chefe de uma das delegações de peregrinos brasileiros que estava no local, Sheik Khaled Pakidin, afirma que nenhum brasileiro ficou ferido ou morreu no incidente.
Pakidin conta que a “obrigação” dos peregrinos é ir para o local do apedrejamento e detalhou o que ocorreu, já que havia passado pelo local cerca de cinco minutos antes. “Uma mulher caiu no chão. Quando ela caiu, milhares caíram em cima e assim por diante”.
Segundo o presidente da Associação Islâmica de São Paulo, Mohamed El Kadre, o que ocorre é que pessoas deveriam estar vindo em um “contra fluxo”. “Existe um grande fluxo no momento do apedrejamento. Cerca de um milhão a dois milhões de pessoas em um fluxo e quando elas param para fazer o apedrejamento, quando elas saem, às vezes elas se movem contra esse fluxo. Aí as pessoas se esbarram. Imagina um milhão de pessoas andando no mesmo sentido e algumas vêm no sentido contrário. É uma fatalidade”, lamenta.
Pakidin, que acompanha peregrinos brasileiros, ressalta que até o momento [do fechamento desta reportagem] escuta-se barulhos de helicópteros e que ainda ainda estão presentes milhares de ambulâncias para prestar atendimento aos feridos e para a retirada de corpos daqueles que foram pisoteados.
O embaixador brasileiro na Arábia Saudita, Flavio Marega explica ao repórter Victor LaRegina que os muçulmanos devem, ao menos uma vez na vida, realizar esta peregrinação a Meca e destaca que o Governo saudita costuma alocar cotas para os países, de forma que não haja superlotação do local.
“O Governo saudita costuma controlar o número de pessoas alocando cotas por país dependendo do número de muçulmanos existentes em cada país. O número de brasileiros que fazem essa peregrinação, é muito pequeno. Tanto que o Governo saudita sequer aloca cota para o Brasil. Mas países como Índia, Paquistão e Indonésia, enviam para a peregrinação centenas de milhares de muçulmanos”, diz.
Reação brasileira
O Brasil lamentou o incidente que vitimou centenas de pessoas. “O Governo brasileiro expressa seu profundo pesar pela tragédia que, no dia de hoje, vitimou centenas de fiéis durante as celebrações do Hajj, em Meca, e apresenta suas sentidas condolências aos familiares das vítimas, ao governo e ao povo sauditas, e se solidariza com a grande comunidade islâmica em todo o mundo”, informou, em nota, o Ministério das Relações Exteriores.
Segundo o Itamaraty, a Embaixada do Brasil em Riade não tem registro até o momento de vítimas brasileiras.
Reação saudita
O ministro da Saúde saudita, Khaled Al Faleh, atribuiu o tumulto, que causou mais de 700 mortos, à falta de disciplina dos peregrinos, que têm tendência, segundo ele, a ignorar as instruções dos responsáveis pela peregrinação.
“Se os peregrinos tivessem seguido as indicações, teríamos podido evitar este gênero de acidente”, declarou Khaled Al Faleh à televisão pública El-Ekhbariya, depois de ter ido ao local da tragédia.
Reação iraniana
O Irã atribui a tragédia, que matou 43 dos seus cidadãos, a erros de segurança. Said Ohadi, chefe da organização iraniana do hajj (peregrinação), declarou à televisão estatal do Irã que o bloqueio de dois caminhos perto do local onde os peregrinos fazem o ritual do apedrejamento simbólico de satanás, deixando apenas três percursos livres, foi o que causou o “trágico incidente”.
“O incidente de hoje mostra má gestão e falta de atenção em relação à segurança dos peregrinos. Não há outra explicação. As autoridades sauditas devem ser responsabilizadas”, disse Ohadi.
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