Paulista “nota mais de mil” no Enem concilia estudos com trabalho, namoro, duas bandas e ação social

  • Por Thiago Navarro/ Jovem Pan
  • 09/01/2016 16h38
Arquivo Pessoal Mathias Dunker tirou 1

As duas bandas de rock, o namoro e um projeto social de 4 horas semanais de dedicação não impediram o estudante Mathias Dunker, de 19 anos, de tirar a maior nota da história do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). “Quando você gosta fica fácil conciliar”, brinca.

O paulista sabia que tinha acertado todas as 45 questões de uma das quatro grande áreas do ENEM (Matemática e suas Tecnologias), mas não imaginava que esse seria um feito inédito, recompensado com nota 1.008,3. Apenas ele e outro estudante do Piauí chegaram a tal façanha.

“Eu não fazia a menor ideia de que isso dava mais de mil pontos ou de que era algo extraordinário”, conta, sobre o momento em que viu a nota.

Mesmo com a grande nota, Mathias não pretende se inscrever no Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que abre nesta segunda-feira (11) e usa o valor do Enem para universidades federais.

É que o jovem quer ser professor e lecionar Física e, para isso, tentará passar na segunda fase da Fuvest (vestibuar da Universidade de São Paulo, USP) neste fim de semana. Algo não muito difícil e bem abaixo das grandes notas dos grandes vestibulares. Na carreira, são “apenas” 3,36 candidatos por vaga na USP (muito abaixo dos 71 que concorrem a cada cadeira de medicina em Ribeirão Preto) e nota de corte 33 (de 90 questões).

“Se eu não passar agora na USP eu tento de novo ano que vem”, diz. Se o desempenho na Fuvest for apenas parecido com a habilidade de matemática no Enem, é difícil.

Superação

Apesar da grande repercussão que sua grande nota no Enem tem alcançado, Mathias já viveu a frustração de não passar em Medicina em 2014, quando terminou o Ensino Médio.

O “fracasso”, no entanto, foi positivo, avalia Mathias. Isso porque o jovem pôde se dedicar em 2015 a dar aulas particulares, estando em processo de revisão constante da matéria exigida nos vestibulares por meio do próprio trabalho. Ele vê no fato de lecionar uma forma de estudo. “O que mais ajuda a estudar é se dispor a tentar explicar isso para a outra pessoa. Você é muito mais delicado com o próximo muitas vezes que consigo mesmo”.

Mathias toca bateria, piano e saxofone (“mas meio mal”) em duas bandas de rock com pegada de blues e bossa nova (Arquivo Pessoal)

Agora, Mathias espera que ser nacionalmente conhecido não mude tanta coisa em sua vida, mas torce para que o cursinho que a avó opera tenha mais visibilidade. O Feras da Anna é uma empresa especializada em aulas particulares para alunos do Colégio Bandeirantes, onde Mathias estudou e já trabalha como professor em lições de reforço.

“Se eu tivesse passado na minha primeira tentativa em medicina, eu não estaria dando aula, que é o que eu gosto de fazer”, conjectura.

Além dele, Mathias ajuda no projeto “26 Letras”, que ajuda na alfabetização e aulas gerais de incentivo para adultos que não terminaram a escola, no colégio Carandá Vivavida, zona sul de São Paulo. “O foco é ensinar a ler e escrever, mas há alunos inclusive tentando prestar o Enem para tirar o certificado de conclusão”, explica Mathias, que já ajuda há dois anos no local e pretende manter a rotina mesmo com o novo desafio universitário que deve começar em 2016.

A espera de mais um ano para ingressar na vida universitária foi boa também para Mathias definir sua vocação e decidir que lecionar era seu objetivo de vida, assim como a vó, que também se formou em Física na USP.

O jovem e a namorada Marina Barreto; “Quando você gosta fica fácil conciliar” (Arquivo pessoal)

“É possível uma carreira no Brasil de dar aula. Dá pra viver disso. Talvez não seja uma vida de muito luxo, os salários não são tão bons, mas é uma oportunidade”

Dica

Mathias entende que a principal dica para ir bem no vestibular é estudar em duplas, para rever o conteúdo ao lado de um amigo e aprender juntos.

“Essas notas não representam um mérito pessoal e sempre tem uma nova oportunidade”, incentiva o aluno.

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