Paz corre perigo no Burundi se presidente prolongar mandato, alerta ICG

  • Por Agencia EFE
  • 17/04/2015 15h34
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Nairóbi, 17 abr (EFE).- O presidente do Burundi, Pierre Nkurunziza, porá em perigo a paz em seu país se decidir aspirar a um terceiro mandato nas próximas eleições, alertou nesta sexta-feira o observatório International Crisis Group (ICG).

Embora a Constituição do Burundi proíba que o presidente, que governa desde 2005, prolongue seu mandato, tudo aponta para que Nkurunziza mantenha essas aspirações, decisão que anunciará em breve.

“O presidente está arriscando tudo ao tentar impor seu nome pela força nas urnas, contra a Igreja Católica, da sociedade civil, de uma facção de seu próprio partido e dos parceiros estrangeiros”, avisou essa organização em comunicado.

São crescentes os rumores que apontam que as juventudes do partido governante, integradas em milícias conhecidas como “Imbonerakure”, estão se armando e poderiam iniciar uma onda de violência para reprimir os opositores de Nkurunziza.

Segundo o International Crisis Group, “está em jogo a sobrevivência da oposição e as forças de segurança não sabem como reagir em caso de uma crise violenta”.

“A situação é muito mais grave que nas eleições fracassadas de 2010”, segundo esses analistas, em referência à incidência que terá este novo ciclo eleitoral – que começará em maio com o pleito municipal – sobre os Acordos de Paz de Arusha e as bases do Estado burundinês.

Os Acordos de Arusha de 2000, conseguidos com a mediação do ex-presidente sul-africano Nelson Mandela, puseram fim a oito anos de conflito no Burundi, onde morreram cerca de 300 mil pessoas.

O pacto permitiu criar um governo de transição que instaurou o turno no poder de hutus e tutsis, que tradicionalmente se enfrentam no Burundi e onde este último grupo étnico, como ocorre na vizinha Ruanda, dominou tradicionalmente as esferas econômicas, militares e políticas do país.

Com os precedentes de Senegal e Burkina Fasso, onde a pressão da sociedade civil impediu seus presidentes de prolongarem seus mandatos de forma ilegal, tudo aponta que “acontecerão protestos nas ruas se Nkurunziza decidir impor sua candidatura”, previram os analistas.

Neste caso, o ICG acredita que será necessária a presença de um enviado especial da ONU para negociar a suspensão dos protestos e pedir o retorno dos burundineses exilados por temor à violência eleitoral.

Para evitar a crise, o observatório recomendou ao partido de Nkurunziza que apoie e dê transparência ao processo eleitoral, que por sua vez deveria ser estreitamente supervisado por observadores internacionais.

“O retorno da violência não só porá fim à paz restabelecida após os Acordos de Arusha, mas desestabilizará toda a região”, advertiu.

Nkurunziza foi presidente desde o fim da guerra civil (1993-2005), em um país que se recupera ainda de dois genocídios recentes. EFE

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