Pela primeira vez na CIDH, Igreja defende indígenas e seus recursos

  • Por Agencia EFE
  • 19/03/2015 21h51

Washington, 19 mar (EFE).- Religiosos católicos da América Latina, Estados Unidos e Canadá participaram nesta quinta-feira pela primeira vez da audiência pública da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que aconteceu na capital americana, para denunciar a violação dos direitos dos camponeses e dos povos indígenas cometido pelas indústrias que extraem recursos naturais na América, especialmente na Amazônia.

Eles reivindicaram a necessidade de proteger “os mais pobres entre os pobres”, que o bispo da diocese guatemalteca de Huehuetenango, Álvaro Ramazzini, identificou com os povos indígenas.

“Denunciamos o comportamento irresponsável das empresas transnacionais, que no desenvolvimento de suas atividades não respeitam os acordos internacionais, enquanto os Estados permanecem passivos perante as práticas extrativistas. Não somos os donos da criação, mas seus guardiães e administradores”, destacou Ramazzini.

O bispo ressaltou que a responsabilidade sobre os danos à natureza e aos direitos dos indígenas vem tanto da parte dos Estados que acolhem às empresas extrativas, quanto dos quais procedem as companhias, entre eles Canadá e Estados Unidos.

O presidente da Comissão de Justiça e Paz do Canadá, Donald Bolen, expressou o compromisso de sua Igreja para fazer chegar ao governo canadense as denúncias sobre os danos ao meio ambiente e mostrar as consequências.

Já o arcebispo de Huancayo, no Peru, Pedro Barreto Jimeno, destacou a “séria” preocupação da Igreja Católica sobre os efeitos da extração de recursos naturais, os quais os religiosos são testemunhas.

“Somos testemunhas próximas do aumento de doenças graves dos povoados indígenas por causa dos gases e da destruição da natureza”, afirmou o arcebispo, que também preside o Departamento de Justiça e Solidariedade do Conselho Episcopal Latino-americano (Celam).

Citando o papa Francisco, ele lembrou que, apesar de “a ordem justa da sociedade e do Estado ser a tarefa principal da política, a Igreja não pode e nem deve ficar à margem na luta pela Justiça”.

Os religiosos ressaltaram a gravidade de alguns casos ocorridos em Brasil, Honduras, México, Peru e Equador, país que citaram para falar do Parque Nacional Yasuní, uma reserva natural envolvida em polêmica pelo anúncio de exploração de petróleo em uma de suas áreas.

Mauricio López, da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), chamou a atenção para a situação do Amazonas, que “requer uma resposta urgente” pela violação dos direitos humanos dos povos que habitam os territórios da floresta tropical.

Para propor soluções, a Igreja entregou um relatório no qual destacou como práticas usuais dos Estados à criminalização do protesto e as agressões aos defensores de direitos humanos, assim como o crescimento do conflito social como consequência das extrações de recursos naturais.

Depois de ouvir os religiosos, os membros da comissão disseram estar emocionados, e a presidente da CIDH, Rose-Marie Antoine, considerou a participação da Igreja como “um momento histórico”.

“É a primeira vez que três conferências vêm à comissão em um tema que reflete a importância crítica e a afetação ao meio ambiente e a seus defensores”, disse à Agência Efe o secretário-executivo da CIDH, Emilio Álvarez Icaza.

Ele considerou que a participação dos bispos lança uma mensagem “muito importante” sobre o papel da CIDH, que hoje deu as boas-vindas a um novo ator social. EFE

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.