Pequim mantém postura em relação a corrupção, direitos humanos e Hong Kong
Rafael Cañas.
Pequim, 19 dez (EFE).- O ano de 2014 chega ao fim com o endurecimento do governo chinês na luta contra a corrupção, mas também contra a democracia em Hong Kong e qualquer abertura em questões de direitos humanos em todo o país.
A detenção e expulsão do poderoso Zhou Yongkang – antigo ministro de Segurança acusado de corrupção – de seu partido simbolizou melhor do que qualquer slogan do Executivo ou do Partido Comunista da China (PCCh) a campanha lançada há dois anos pelo presidente, Xi Jinping, para tentar limpar o Governo.
Ao lançar sua campanha, Xi assegurou que iria lutar de forma igual contra “tigres e moscas” e Zhou, também um antigo membro do Comitê Permanente do Partido, seria o tigre de maior calibre a ser caçado.
Seu caso supera inclusive, em relevância, o de Bo Xilai, ex-dirigente da rica região de Chongqing que foi condenado à prisão perpétua em 2013 por corrupção e abuso de poder.
Este ano também aconteceu a queda em desgraça de Xu Caihou, número dois das Forças Armadas até 2012, que foi expulso do PCCh e continua esperando julgamento.
De acordo com um meio de comunicação de Hong Kong, foram necessários dez caminhões militares para tirar de sua casa as toneladas de cédulas, joias e objetos decorativos que possuía.
Em conjunto, e segundo dados da Promotoria Popular Suprema, nos primeiros nove meses do ano, 21.652 funcionários foram processados por suposta corrupção, com veredictos em 13.437 casos, dos quais houve 13.424 sentenças de culpa e apenas 23 de inocência.
Além disso, a China intensificou sua campanha para que fugitivos procurados por crimes financeiros se entreguem de forma voluntária, enquanto negocia com os países de refúgio a entrega dos cidadãos que devem retornar.
Mas a firmeza das autoridades se manteve também no campo dos direitos humanos. Por exemplo, o movimento Novo Cidadão foi perseguido neste ano por impulsionar uma campanha para pedir aos líderes que publiquem informação sobre seu patrimônio como medida anticorrupção.
Entre outros membros do grupo, Xu Zhiyong recebeu condenação de quatro anos de prisão, enquanto Ding Jiaxi foi punido com três anos e meio, pelo delito de “alteração da ordem pública”.
A política de firmeza se manteve também em Hong Kong, onde a reforma eleitoral aprovada em 31 de agosto estabeleceu o sufrágio universal para as eleições locais de 2017, mas com apenas dois ou três candidatos que serão selecionados previamente por um comitê controlado por Pequim.
Com essa decisão, o governo central ignorou a manifestação democrática que aconteceu em 1º de julho em Hong Kong (mais de 500 mil pessoas segundo os organizadores), e depois continuou ignorando os protestos democráticos que começaram em setembro e seguiram com a ocupação pacífica de várias áreas da cidade.
Ao invés de reprimir o protesto, o governo chinês atuou com astúcia e preferiu aguentar e esperar até que a ocupação fosse perdendo fôlego, assegurando que se limitava a cumprir a legalidade.
Os protestos democráticos de Hong Kong foram um dos maiores desafios políticos que o regime comunista enfrentou desde a repressão de Praça da Paz Celestial, que completou 25 anos em junho, em meio a um total silêncio oficial.
O ano que termina também viu um agudo aumento da violência na província noroeste chinesa de Xinjiang, com vários ataques que são informados somente pelos meios de comunicação oficiais, e que Pequim atribui a islamitas violentos da etnia uigur, que querem criar uma república islâmica independente.
Várias centenas de mortos em ataques de todo tipo e várias sentenças de morte contra julgados pela autoria dos atentados foi o resultado sangrento dos eventos.
Além disso, Ilahm Toti, um catedrático uigur de uma universidade de Pequim, foi condenado à prisão perpétua por promover o separatismo em Xinjiang, embora seus defensores afirmem que só buscava o entendimento entre os diferentes grupos étnicos. EFE
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.