Perda do grau de investimento reflete dificuldades na política, diz Fazenda
O Ministério da Fazenda tem a convicção de que o Brasil tem condições de enfrentar o atual choque negativo nos preços de alguns itens da sua pauta de exportação, assim como os desequilíbrios fiscais decorrentes da expansão do gasto público. Essa avaliação foi divulgada pelo Ministério da Fazenda, após a agência de classificação de risco Fitch retirar o grau de investimento do Brasil.
“O enfrentamento sereno, mas firme, das atuais necessidades de financiamento do setor público e das reformas exigidas para dar as condições para o crescimento da economia continuarão proporcionando segurança aos investidores domésticos e internacionais e, especialmente, às famílias brasileiras”, diz a nota do Ministério da Fazenda.
No texto, o ministério reitera a confiança na capacidade da economia brasileira de retomar o ciclo de crescimento. “Apesar dos indicadores de curto prazo e da incerteza atual, a economia brasileira tem fundamentos positivos e sólidos”, diz o comunicado.
“A retirada do grau de investimento do Brasil pela agência de classificação de risco Fitch remete às dificuldades oriundas do ambiente político e da capacidade e da determinação do governo em implantar medidas para corrigir o déficit orçamentário de 2016, por meio de políticas voltadas a resultados fiscais consistentes com uma trajetória mais benigna de endividamento público.” Por outro lado, ressalta o ministério, “a Fitch aponta para os efeitos positivos do realinhamento do câmbio ocorrido no ano, traduzido na redução em 33% do déficit em conta corrente. De fato, após o déficit comercial registrado em 2014, a balança comercial brasileira deve apresentar um superávit de US$ 15 bilhões em 2015 e de US$ 31 bilhões em 2016”.
Segundo o ministério, o endividamento das famílias brasileiras é baixo, o que facilita a retomada do consumo, passadas as dúvidas sobre a política econômica. “A base industrial é robusta e diversificada, capaz de reagir com presteza e vigor aos novos preços relativos. O comércio exterior tem uma distribuição geográfica equilibrada e abrangente, indo bem além das commodities, não obstante a extrema competitividade da nossa agricultura.”
Além disso, acrescenta o ministério, “não houve uma bolha imobiliária, o que tende a acelerar a correção cíclica desse importante mercado, grande gerador de empregos”. “O sistema bancário brasileiro é robusto, bem supervisionado e capitalizado, demonstrando significativa capacidade de absorção de choques.”
“Finalmente, o setor de infraestrutura e de óleo e gás, onde participam com persistente sucesso grande número de empresas brasileiras e estrangeiras, tem um inequívoco potencial de crescimento, especialmente se beneficiados pelo fortalecimento do ambiente regulatório relevante. A expansão da infraestrutura ajuda a estimular a demanda no curto prazo e expandir a oferta no médio prazo, com reflexos positivos na produtividade da economia e no bem-estar da população brasileira”, diz a nota do Ministério da Fazenda.
BC prevê desinflação em 2016
Para o Banco Central (BC), a reclassificação da nota soberana do país pela Fitch não altera o sentido ou a intensidade do ajuste macroeconômico em curso, que já demonstra resultados concretos. “A consolidação da posição fiscal seguirá avançando e se prevê uma importante desinflação em 2016. Esses fatores serão essenciais para a recuperação da atividade econômica em bases sustentáveis à frente”, diz, em nota, a instituição.
O BC acrescenta que o “Brasil possui robustos colchões de liquidez para atenuar ajustes nos preços de ativos e para mitigar excessiva volatilidade no mercado. Esses colchões garantem uma sólida posição de liquidez internacional, visto que as reservas internacionais do país são cerca de dez vezes maiores que o estoque da dívida soberana externa”.
“Além disso, a expressiva redução no déficit em conta corrente ocorrido em 2015 e a indicação da intensificação dessa tendência em 2016 são indicadores da solidez da situação externa do Brasil. A economia brasileira vem recebendo fluxos relevantes de investimentos diretos e de carteira e os prognósticos à frente indicam a continuidade dessa tendência”, diz ainda a nota do BC.
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