Perícia sobre morte de Jango é inconclusiva

  • Por Agencia EFE
  • 01/12/2014 13h11
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Brasília, 1 dez (EFE).- A autópsia realizada com os restos do ex-presidente João Goulart, deposto em 1964 e que morreu exilado na Argentina em 1976, não pôde determinar o real motivo de sua morte, embora os especialistas acreditem que tenha sido por “causas naturais”, informaram nesta segunda-feira fontes oficiais.

“Nenhum medicamento tóxico ou veneno foi identificado nas amostras analisadas” e “assim, os resultados de todos os nossos exames podem concluir que os dados clínicos, as circunstâncias relatadas pela esposa, são compatíveis com morte natural”, embora pelo tempo transcorrido o envenenamento “também não pode ser descartado”, disse em entrevista coletiva o perito Jeferson Correa, chefe da equipe que realizou a autópsia.

Os restos de Goulart foram exumados há um ano para esclarecer se, como suspeitam seus parentes, teria sido envenenado no marco do chamado Plano Condor, na qual as ditaduras que imperavam no Cone Sul na década de 1970 coordenaram a perseguição de ativistas de esquerda.

Os dados obtidos na autópsia foram analisados por especialistas brasileiros, argentinos, cubanos, espanhóis, uruguaios e portugueses, que não puderam chegar a uma conclusão “determinante” devido aos 37 anos passados desde a morte do ex-presidente, indicou Correa.

O legista explicou, no entanto, que embora tenham sido realizadas “exaustivas” provas toxicológicas, só foi confirmada “a presença de substâncias poluentes presentes no cotidiano, como restos de xampu e algum remédio, mas tudo dentro do quadro terapêutico” de João Goulart, que sofria de problemas cardíacos.

Desse modo, o “enfarto agudo de miocárdio” assinalado de forma oficial em 1976 como motivo da morte “pode ter sido a verdadeira causa, como poderia ter sido causada por outras patologias cardíacas ou até mesmo por patologias cerebrovasculares”, indicou Correa.

O especialista insistiu que “também não é possível negar que tenha sido um envenenamento”, mas ressaltou que com os “elementos de análise existentes” e o “longo tempo transcorrido” desde a morte, não é possível chegar a uma conclusão definitiva.

Goulart, conhecido popularmente como “Jango”, governou o Brasil entre 1961 e 1964, quando foi derrubado por um golpe militar que instaurou uma ditadura que se manteve no poder até 1985.

Após o golpe, Jango se exilou na Argentina, onde faleceu em 6 de dezembro de 1976 no quarto de um hotel da cidade de Mercedes.

A certidão de óbito emitida na época na Argentina, que já estava também em plena ditadura, atribuiu a morte de Goulart a um enfarto, mas sem que fosse realizada uma autópsia.

Essa versão foi desmentida há seis anos por um ex-agente de inteligência uruguaio, que assegurou que Goulart foi envenenado no marco do Plano Condor, embora não tenha fornecido provas sobre essa denúncia.

Os restos foram exumados para a realização da autópsia há pouco mais um ano, quando o ex-presidente foi homenageado com um funeral de Estado, algo que a ditadura militar negou no momento de sua morte. EFE

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