Pessimismo pelo futuro da economia ofusca eleições búlgaras
Vladislav Punchev.
Sófia, 2 out (EFE).- Os búlgaros votarão no domingo pela segunda vez em 17 meses, desta vez em eleições gerais antecipadas, com a sensação generalizada de que a péssima situação econômica e política do país não mudarão e com o medo de um inverno com pouco gás russo e elevados preços de eletricidade.
Uma recente pesquisa da agência “Gallup” mostra que 70% dos búlgaros estão pessimistas com relação ao futuro de um país no qual o salário médio é de cerca de 350 euros e as aposentadorias não superam os 100 euros mensais.
A crise política do membro mais pobre da União Europeia (UE) começou em fevereiro de 2013 quando uma onda de protestos sociais pelo exagerado preço da eletricidade fez com que o governo renunciasse e convocasse eleições antecipadas.
O então governante GERB, liderado pelo ex-primeiro-ministro Boiko Borisov, desponta como ganhador deste pleito, que aponta uma volta às origens da crise.
O previsível retorno de Borisov ao poder coincide com o anúncio de uma alta de quase 10% nos preços da luz, que foram reduzidos pelo governo de tecnocratas que sucedeu o GERB após as eleições de maio de 2013.
A NEK, companhia estatal de eletricidade, acaba de anunciar um aumento das tarifas após argumentar que acumula uma dívida de 500 milhões de euros. Essa perspectiva desespera Grigori Kaludov, que há um ano abriu sua própria padaria em Sófia.
“Tenho três alternativas. Piorar a qualidade da minha produção, elevar os preços ou abaixar os salários de meus empregados”, lamentou o empresário à Agência Efe.
A aposentada Lazarina Semerdzhieva, de 82 anos, não tem nem alternativa para escolher.
Com uma pensão de apenas 90 euros, essa viúva passa os invernos quase sem calefação e sem acender as lâmpadas em seu apartamento.
“Ao cair da noite, vou para a cama bem coberta e com roupas de lã e sem ligar o televisor. Espero assim até o amanhecer”, contou.
O medo de acender a luz pelo custo da eletricidade se une à perspectiva de um inverno sem gás russo com o qual aquecer as casas.
O governo tecnocrata interino reconheceu que há uma alta probabilidade de que o conflito da Ucrânia cause problemas na provisão russa, da qual a Bulgária é extremamente dependente.
A estratégia búlgara passa por encher agora ao máximo os depósitos para assegurar que haja reservas para, pelo menos, 60 dias.
Mas a empresa estatal de provisão de gás não pode comprar mais combustível porque todos os seus fundos estão bloqueados pela decisão do Banco Central da Bulgária de pôr sob vigilância o Corpbank, onde têm como clientes muitas companhias públicas.
O banco emissor tomou essa decisão porque o Corpbank, apelidado “o banco do poder”, sofre um déficit de liquidez de mais de 3,22 bilhões de euros.
Os problemas no Corpbank são vinculados a um conflito entre empresários com muita influência e poder sobre a política do país balcânico, considerado também o mais corrupto da UE.
A publicação de várias notícias sobre a possível insolvência deste banco, supostamente organizada por um dos empresários, fez com que milhares de clientes fossem às filiais do banco para retirar seus fundos.
Esta crise bancária deu outro golpe à frágil economia da Bulgária e criou problemas para várias empresas estatais.
Um número considerável em um país com uma taxa oficial de desemprego de 11,4% e cuja economia crescerá em 2014 apenas 1,5%, bem menos do que o estimado pelo governo há poucos meses. EFE
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