PF diz que “tratorzão”, cunhado de Roseana Sarney, vazou Sermão dos Peixes

  • Por Estadão Conteúdo
  • 06/10/2016 15h29
  • BlueSky
Divulgação/Polícia Federal Polícia Federal

A Polícia Federal suspeita que o cunhado da ex-governadora Roseana Sarney (PMDB) e ex-secretário de Saúde do Maranhão Ricardo Murad vazou a Operação Sermão dos Peixes, que investiga desvio de recursos públicos federais do Fundo Nacional de Saúde, destinados ao Sistema Único de Saúde (SUS) no Estado. 

Relatório da Federal, de 11 de agosto deste ano, aponta que Ricardo Murad, o “trator” ou “tratorzão”, divulgou detalhes da Sermão dos Peixes meses antes de sua deflagração.

O documento da PF, de 67 páginas, aponta que ‘os principais investigados souberam antecipadamente da deflagração daquela operação e agiram para influenciar depoimentos, destruir e/ou ocultar provas, condutas que embaraçaram a investigação criminal sobre a organização criminosa especializada em desviar recursos públicos federais destinados ao sistema de saúde do Estado do Maranhão’. Em novembro do ano passado, a Sermão dos Peixes levou para depor obrigatoriamente Ricardo Murad.

“No dia 11 de agosto de 2015, período em que a Operação Sermão aos Peixes caminhava para sua fase final, Ricardo Jorge Murad publicou numa rede social detalhes da investigação criminal que estava em andamento, narrando inclusive pessoas e empresas que seriam alvos de medidas judiciais”, aponta a PF.

“A publicação realizada por Ricardo Murad, que trazia, inclusive, os nomes das empresas que seriam alvos da investigação criminal em curso, deixa claro que esse investigado teve acesso privilegiado a informações que deveriam estar protegidas pelo sigilo legal.”

O relatório da PF indica que alguns investigados “que tomaram ciência da operação policial” tomaram medidas “dentro dos limites legais e direitos dos investigados”, tais como: disponibilização dos sigilos pessoais (bancário e fiscal), informação pública de que se encontravam à disposição das autoridades envolvidas na investigação, contratação de advogados para requerer informações junto aos órgãos responsáveis pela persecução criminal. A Federal aponta, como exemplo, que Ricardo Murad apresentou um requerimento ao juízo da 4ª Vara Federal da Seção Judiciária de Tocantins em 11 de agosto de 2015, colocando o cunhado de Roseana “à disposição” do juiz federal.

A Sermão dos Peixes apura o desvio de verbas federais por meio da organização social Instituto Cidadania e Natureza (ICN) e da organização de sociedade civil de interesse público (OSCIP) Bem Viver – Associação Tocantina para o Desenvolvimento da Saúde, responsáveis pela gestão das unidades hospitalares do Maranhão, “por meio de um processo de terceirização do serviço público”. Segundo os investigadores, para a gestão das unidades hospitalares, as duas entidades do terceiro setor recebiam e geriam verbas públicas oriundas, principalmente, do Fundo Nacional de Saúde, repassadas para o Fundo Estadual de Saúde, por sua vez administrado pela Secretaria Estadual de Saúde, chefiada por Ricardo Murad.

O relatório da PF destaca ainda um grampo de 11 de setembro de 2015, quando uma gerente administrativa da Bem Viver conversou com um empresário ligado ao mesmo grupo e falaram sobre “boatos”.

“A análise do diálogo nos permite asseverar que, já no dia 11 de setembro de 2015, ou seja, 30 dias após Ricardo Murad ter dado ampla publicidade sobre a investigação criminal que estava em curso, os principais investigados dos dois grupos empresariais (ICN e Bem Viver) estavam tomando providências para dirimirem os impactos da operação policial”, anotou a PF.

  • BlueSky

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.