“Pintor revolucionário” torna-se ícone dos protestos em Hong Kong

  • Por Agencia EFE
  • 02/10/2014 21h26
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Tamara Gil.

Hong Kong, 2 out (EFE).- Em meio a guarda-chuvas, cartazes e milhares de camisetas pretas, há alguém que se destaca nos protestos democráticos de Hong Kong: o “pintor revolucionário”, que, pincel na mão, se esforça para que a mensagem dos jovens não se perca.

Ouvem-se gritos e palavras de ordem e formam-se aglomerações de pessoas, mas ele se mantém impassível em uma das pontes da região de Admiralty, prestando atenção nos estudantes que iluminam a noite com a luz de seus celulares, usados como forma de protesto.

Lá, entre a multidão de câmeras e jornalistas enfocando os manifestantes, ele encontrou espaço para seu cavalete. “Estou registrando a batalha dos estudantes pela democracia”, contou à Efe Perry Dino, nome artístico de Chan, ex-professor de pintura de 48 anos que se transformou em um ícone do movimento.

Sua vida mudou em 2012, quando deixou seu emprego em uma escola de ensino médio e decidiu dedicar “seu dom” em prol de uma causa maior.

“Vou a cenas importantes, como a de hoje, e pinto um quadro a óleo sobre tela”, explica Dino, a quem manifestantes e turistas iluminam com flashes enquanto conversa com a Efe.

Ao retocar sua última pintura, na qual já se pode reconhecer a região de Admiralty, com barracas montadas pelos manifestantes, o cidadão de Hong Kong conta que seu protesto inusitado começou em janeiro, quando aconteceu o incidente com a grife italiana “Dolce & Gabbana”.

Na ocasião, um funcionário da marca proibiu que um cidadão de Hong Kong tirasse fotos da vitrine da loja, afirmando que “só os turistas chineses do continente poderiam fazê-lo”, recorda Dino.

Foi neste momento que o artista lançou mão de suas habilidades como forma de protesto e saiu em defesa de seus compatriotas. “Se não é possível fotografar, por que não pintar?”, pensou.

E começou a aventura que o levou a prover um toque artístico ao movimento que lembra a época dos protestos estudantis da Praça da Paz Celestial, de 1989.

“Faço isto para a próxima geração. Nós não nos esquecemos da Praça da Paz Celestial, e eles também não têm de se esquecer da revolução dos guarda-chuvas”, exclama o artista, feliz pelas 12 pinturas que realizou até o momento, quatro só da batalha política que os jovens de Hong Kong começaram.

Dino registrou a luta de todos os pontos possíveis, dedicando de 6 a 9 horas a cada uma das pinturas que carrega prontas, e com as quais pretende montar uma exposição pública para o povo de sua cidade quando encontrar um patrocinador.

“É um protesto magnífico e extremamente pacífico. Até agora, não quebramos nem um vidro”, ri o senhor Chan.

Apesar da revolução das novas tecnologias que, neste protesto como em outros do século XXI, ajudou a divulgar rapidamente a mensagem, o veterano professor considera que seu “trabalho é essencial para que o ocorrido hoje não se perca”.

“Utilizo este meio porque as ferramentas digitais podem ser facilmente destruídas, mas as pinturas podem durar centenas de anos. Vão passar para a posteridade”, sentenciou o artista, identificado nas ruas como “o pintor revolucionário” e um dos ícones dos protestos. EFE

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