Plano emergencial falho e redução de custos podem ser causas de tragédias, diz promotor

  • Por Jovem Pan
  • 11/11/2015 09h45
Distrito de Bento Rodrigues foi atingido pela lama após rompimento de duas barragens de rejeitos da Samarco Antonio Cruz/Agência Brasil Lama atinge distrito de Bento Rodrigues

Para Carlos Eduardo Ferreira Pinto, promotor mineiro que há 10 anos atua na defesa do meio ambiente, é preciso descartar qualquer versão no sentido de que o que ocorreu em Mariana tenha sido acidente ou fatalidade, quando na verdade trata-se de um “reflexo da negligência na operação da barragem e ausência de monitoramento correto”, em sua avaliação.

Na quinta-feira passada (05), duas barragens da mineradora Samarco se romperam, despejando toneladas de lama residual sobre o distrito rural de Bento Rodrigues, na cidade de Mariana (MG). Ao menos seis pessoas morreram (quatro foram identificadas até agora) e 21 permanecem desaparecidas.

O promotor, que analisou recentemente o plano emergencial da Samarco para uma eventual ruptura das barragens, afirmou que a empresa não estava preparada para lidar com a situação: “A empresa não imaginava um fato como esse. No plano eles previam uma situação assim em um período chuvoso. Não imaginavam um empreendimento na época da seca sofrer esse rompimento”, disse nesta quarta (11) em entrevista exclusiva à Jovem Pan.

Ferreira Pinto ainda aponta que existem empreendimentos semelhantes ao que rompeu, sujeitos à negligência. O promotor avalia: “Nos empreendimentos, o que pode ser feito para minimizar custos econômicos é feito. Essa barragem poderia ser deslocada para outro local, um lugar sem uma comunidade logo na frente. Mas isso não foi levado em conta, o que foi levado é que ela devia ter proximidade da mina e isso diminui o custo”.

Licenciamento frágil

O membro do Ministério Público de Minas Gerais explana ainda que “há autorização de empreendimentos análogos a esse por todo o nosso estado e, ouso falar, até pelo Brasil”. “O licenciamento ambiental infelizmente é frágil no Brasil e é visto como se fosse empecilho ao crescimento”, critica o promotor.

Ele reitera a importância de informar a população sobre o ocorrido: “Noção de fatalidade e acidente tem que ser descartadas nesse caso. Precisamos esclarecer para a sociedade, informar a realidade dos fatos e, neste momento, o fato é que nenhuma barragem rompe por acaso”. 

Por fim, Carlos Eduardo Ferreira Pinto afirma que a sociedade brasileira já não é uma sociedade acomodada a aceitar as versões: “Sinto a sociedade incomodada e clamando para que seja informada da realidade dos fatos”. Ele ainda diz que o rompimento da baragem causou um dano imensurável e que vai demorar anos ou décadas para retornar ao que era.

 

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