Plano nuclear do Irã gera encruzilhada entre democratas no Congresso dos EUA

  • Por Agencia EFE
  • 11/04/2015 12h51

A continuidade e o êxito do pacto preliminar com o Irã sobre o programa nuclear do país está, paradoxalmente, nas mãos dos democratas do Congresso dos Estados Unidos, legisladores que terão decidir entre a fidelidade ao presidente Barack Obama ou aos interesses de longo prazo com Israel.

O presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado americano, o republicano Bob Corker, apresentou um texto legislativo com o qual os conservadores pretendem obrigar a Casa Branca a fazer com que o pacto firmado com o Irã passe pela supervisão do Capitólio, o que poderia estremecê-lo.

Desde que Obama iniciou a missão diplomática com Teerã, com os países integrantes do G5+1 (EUA, China, Rússia, Reino Unido e França, mais Alemanha), muitas vozes no Congresso americano foram contra as negociações, tanto de conservadores como de republicanos.

O próprio secretário de Estado, John Kerry, teve que ir pessoalmente ao Capitólio mais de uma vez para convencer os legisladores a não aprovarem novos pacotes de sanções em meio aos diálogos com o Irã, já que colocariam em risco o êxito do processo.

Uma vez alcançado esse primeiro acordo entre as partes, há poucos dias, o Congresso americano, agora de maioria republicana, quer intervir na decisão e fazer com que seu aval seja imprescindível.

Essa é a essência da legislação de Corker, que será votada nesta semana no comitê que preside para começar seu processo de consideração no retorno do recesso de Páscoa.

No entanto, apesar de contar com maioria suficiente para a aprovação final, os 54 senadores republicanos precisam do apoio dos democratas, primeiro para superar a fase de procedimento – para a qual são necessários 60 votos – e, em última instância, para conseguir no mínimo 67 que evitem o veto à lei, ao qual Obama tem direito.

Desse modo, os democratas, tanto do Senado como da Câmara dos Representantes, estão em uma complexa encruzilhada, já que muitos receberam o apoio de Israel e dos lobbies judaicos para suas campanhas.

Embora Obama não tenha virado as costas para Jerusalém, deixou claras suas diferenças a respeito do plano nuclear iraniano em relação ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que a menos de um mês discursou no Congresso para convencer os legisladores do erro que, segundo sua opinião, o acordo representa.

Como explicou à Agência Efe Donna Hoffman, professora de Ciência Política da Universidade Northern Iowa, ainda não está claro qual será o texto definitivo do projeto de Corker, já que nesta situação os próprios democratas do Senado querem submetê-lo a emendas a próxima semana.

“O medo da Casa Branca é que o movimento no Congresso sobre o projeto de lei afete as negociações. Muitos no Senado querem garantir que o Congresso esteja envolvido em qualquer acordo que envolva suspender as sanções” que eles mesmos impuseram, acrescentou Hoffmann.

O passo dado em Lausanne, na Suíça, em direção a um acordo base não representa um êxito definitivo, já que as partes devem fechar os aspectos técnicos antes de junho para poder concluir os diálogos e chegar a um ponto comum.

Enquanto isso, nessa mesma semana, um dos democratas mais influentes da câmara alta, Charles Schumer, que se candidata ao posto de próximo líder do partido após a saída do senador Harry Reid em 2016, manifestou que apoiará a proposta republicana.

“Certamente há uma chance de a lei final passar com uma maioria à prova de veto, mas isso dependerá de como for o texto final e se a Casa Branca é capaz de influir com força suficiente nas reivindicações individuais dos democratas do Senado” para conseguir seu apoio, considerou a especialista.

De um modo ou de outro, o que parece impossível é que o Legislativo americano governado pelos conservadores fique de braços cruzados diante do acordo iraniano, uma conquista diplomática que, se for concretizada, sem dúvida fará parte do legado de Obama quando terminar seu mandato. 

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