Polícia entrega a promotoria relatório sobre morte de negro em Baltimore

  • Por Agencia EFE
  • 30/04/2015 18h13

Baltimore (EUA.), 30 abr (EFE).- A polícia de Baltimore entregou nesta quinta-feira à promotoria o “exaustivo” relatório sobre a morte do jovem negro Freddie Gray, que estava sob custódia policial, o que desencadeou distúrbios e protestos nessa e em outras cidades dos Estados Unidos.

A polícia revelou alguns detalhes até agora desconhecidos sobre as circunstâncias da detenção de Gray, de 25 anos, em 12 de abril, quando sofreu uma lesão na coluna que provocou sua morte uma semana depois.

O subcomissário da polícia de Baltimore, Kevin Davis, revelou hoje que a caminhonete em que Gray foi levado fez uma segunda parada, de um total de quatro, do caminho até a delegacia de polícia para pegar outro detido.

Este homem disse aos investigadores que a caminhonete não deu freadas fortes ou fez giros bruscos no resto do trajeto que ele fez com Gray, que “se movimentava, dava patadas e fazia ruídos”.

O jornal “Washington Post” conseguiu falar com essa testemunha, que afirmou que Gray estava tentando ferir a si mesmo.

O mistério, ainda não esclarecido, sobre como Gray se machucou mortalmente continua a alimentar os pedidos de justiça dos manifestantes, que saíram aos milhares ontem nas ruas de Baltimore, Nova York, Chicago e Oakland para pedir medidas contra a brutalidade policial.

A polícia de Baltimore, que mantém tensas relações com os moradores dos bairros mais pobres da cidade, foi denunciada algumas vezes pelo que se conhece como “passeio do cowboy”: uma tática de punição em que o detido é transportado sem cinto de segurança e a viatura conduzida bruscamente para que ele se bata dentro do carro.

O delegado de polícia de Baltimore, Anthony Batts, jogou para a promotoria essa batata quente ao não revelar detalhes sobre as circunstâncias da morte de Gray e passar diretamente as conclusões de sua investigação para Marilyn Mosby, promotora do Estado para a cidade de Baltimore.

Mosby, negra de 35 anos, deverá decidir, com a informação disponível, se o Ministério Público apresentará acusações formais pela morte de Gray.

Essa decisão é largamente esperada pelos manifestantes, que pedem que a justiça seja feita e as causas da brutalidade policial na cidade sejam discutidas, assim como os problemas sociais dos bairros negros e pobres onde aconteceram os distúrbios da segunda-feira.

Mosby assegurou em comunicado que a versão policial não será a única que pesará em sua decisão, e pediu que os cidadãos “tenham a paciência e a paz para confiar no processo judicial”.

O caso de Gray é mais um em uma lista de denúncias de brutalidade policial contra jovens negros desarmados nos Estados Unidos, o que levou a um movimento em todo o país contra a impunidade de policiais que disparam ou maltratam afro-americanos sem sofrer consequências.

A polícia tem prerrogativas para evitar ser submetida a um processo criminal, e ainda existe um leque de situações em que pode justificar o uso de armas ou de uma resposta violenta.

Na segunda-feira, várias centenas de estudantes de bairros pobres enfrentaram a polícia, queimaram veículos e lojas, o que levou as autoridades a declararem “estado de emergência” e pedirem reforços de outras cidades, além do envio de dois mil militares da Guarda Nacional.

Quase cem policiais ficaram feridos (13 deles ainda estão afastados) e mais de 200 jovens negros foram detidos, apesar de a maioria ter sido solta sem acusações.

Desde então, a cidade vive uma tensa calma, com toque de recolher entre dez da noite e cinco da manhã, protestos pacíficos diariamente e pedidos para que a autoridades não deixem que a polícia seja novamente desculpada por agir com especial brutalidade contra negros de áreas pobres. EFE

jmr/cd

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