Ala do PSDB pressiona Doria a desistir de candidatura à Presidência; aliados do governador reagem
Tucanos que apoiaram o governador Eduardo Leite nas prévias do partido criticam desempenho do paulista nas pesquisas e buscam alternativa para evitar fracasso da sigla nas eleições
Lideranças tucanas que se opõem ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), prometem aumentar a pressão para que o gestor estadual desista de sua pré-candidatura à Presidência da República. Apesar da vitória nas prévias, em processo encerrado em novembro, Doria segue estagnado nas pesquisas de intenção de voto, oscilando entre 2% e 5%. Integrantes do partido, que saiu ainda mais rachado do processo interno, temem que a performance do comandante do Palácio dos Bandeirantes no pleito presidencial influencie negativamente o desempenho da sigla nas eleições de deputados, senadores e governadores.
Na noite desta terça-feira, 8, o ex-ministro e ex-deputado Pimenta da Veiga organizou um jantar em sua casa, em Brasília, e recebeu tucanos que apoiaram o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, nas prévias do partido. Além de Leite, também estiveram presentes o deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG), um dos principais desafetos de Doria, o senador Tasso Jereissati (CE) e o ex-senador José Aníbal (SP). Segundo relatos feitos à Jovem Pan, os tucanos insistiram na avaliação de que a candidatura do paulista não tem chances de prosperar em razão da rejeição e da estagnação de Doria nas pesquisas. No levantamento da Genial/Quaest divulgado nesta quinta-feira, 9, o governador tem 2% das intenções de voto, numericamente empatado com o deputado federal André Janones (Avante-MG) e atrás de Sergio Moro (7%), Ciro Gomes (7%), Jair Bolsonaro (23%) e Luiz Inácio Lula da Silva (45%).
“Não há, na historiografia da política, um caso no qual o candidato, com essa rejeição, depois de três trabalhando pela sua candidatura, consiga reverter o quadro. Chance zero. O governador não tem nenhuma viabilidade”, disse à reportagem o ex-senador e ex-presidente do PSDB José Aníbal. Sob reserva, outro participante do jantar foi mais enfático. “Estamos buscando alternativas porque essa candidatura está prejudicando o caminhar do partido. Você acha que tem alguém disposto a colocar o nome do Doria na cédula? Ninguém quer saber deste cara”, afirmou.
No encontro, uma das ideias discutidas foi que seja pedido a Doria e sua equipe que apresentem um “plano de voo” estruturado, que aponte como o governador de São Paulo pretender tornar competitiva a sua postulação. Há quem defenda, ainda, que a candidatura não seja homologada na convenção do PSDB, em julho, caso ela não decole. Segundo apurou a Jovem Pan, prevalece o sentimento majoritário de que a solução precisa ser encontrada imediatamente. “Vamos esperar agosto? Em agosto, a Inês é morta”, diz um dos tucanos. “Não podemos ficar de espectadores de uma situação que está criando um estresse dentro do partido”, avalia Aníbal.
A articulação deste setor do PSDB gerou reação de Doria e de seus aliados. Em entrevista à rádio Eldorado, na manhã desta quinta-feira, 9, o governador de São Paulo classificou o encontro como o “jantar dos derrotados”. “Foi um jantar de derrotados, com todo respeito. Todos eles foram derrotados nas prévias. Eu entendo que na vida pública, e também na vida privada, você tem que compreender vitórias e derrotas. Eu tive, circunstancialmente, uma vitória nas prévias do PSDB, mas tive a grandeza de cumprimentar o Eduardo Leite e todos aqueles que o apoiaram de maneira educada. Não me parece que cinco pessoas sentadas num jantar possam representar o PSDB. O PSDB é maior do que cinco pessoas que ali representavam derrotados”, disse.
Pelo Twitter, o presidente do diretório paulista do PSDB e secretário de Desenvolvimento Regional do governo Doria, Marco Vinholi, reagiu: “O PSDB escolheu João Doria em prévias históricas nosso candidato a Presidente. Não tenho nenhuma dúvida de que o compromisso com a democracia é o principal pilar do partido. Por isso, avançamos a cada dia como a melhor alternativa para o Brasil. Os cães ladram e a caravana passa”, escreveu. Secretario da Casa Civil do governo paulista e ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), Cauê Macris, seguiu linha semelhante. “Os rebeldes do PSDB, partido que tem a democracia em seu nome, precisam urgentemente entender que não há hipótese de segundo turno das prévias. Ao invés de se reunirem para planejar o futuro do Brasil, se juntam para tentar sabotar o próprio partido, mesmo diante de inflação, fome e desemprego em franca expansão. Uma pena”, afirmou nas redes sociais.
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