‘Chuchu com Lula’, bolsonarista no PSDB e divisão no MDB pós-impeachment são marcas das alianças políticas de 2022

Mesmo com alguns ‘acenos não correspondidos’, atual conjuntura fez com que personalidades antagônicas se unissem para conquistar seus objetivos nesta eleição

  • Por Eduardo Morgado
  • 06/08/2022 17h00
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Reprodução/Partido dos Trabalhadores/Ricardo Stuckert Lua e Alckmin Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin, antigos rivais, integram a chapa presidencial que planeja disputar a presidência da República

Após uma das eleições nacionais mais disruptivas, ocorridas em 2018 e que pulverizou o aparecimento de novas lideranças políticas, o pleito deste ano promete ser um dos mais polarizados da história recente. Com o tabuleiro político não mais focado no embate entre tucanos e petistas, o cenário forçou velhos conhecidos a se reposicionarem entre aqueles que apoiam ou não o presidente Jair Bolsonaro (PL). Isso fez com que o eleitor pudesse enxergar cenas que não imaginaria até anos atrás. Adversários no segundo turno das eleições presidenciais, opositores e defensores do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e antigos aliados que passaram a se atacar voltaram a se aproximar. O caso mais emblemático envolve a união entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB). Em 2006, os dois travaram um duro embate na disputa presidencial daquele ano. Dezesseis anos depois, o petista e o agora ex-tucano estão juntos, lado a lado, em uma chapa presidencial – dentro do PT, não são raros os políticos que dizem que a dupla demonstra um entrosamento surpreendente. Nesta reportagem, a Jovem Pan elencou os principais casos de figuras políticas que costuraram alianças improváveis nas eleições deste ano.

De acusações de roubo para uma chapa presidencial

Em 2006, Lula e Alckmin viveram o auge de sua rivalidade. Durante a disputa presidencial, tanto o candidato petista quanto o então tucano foram ao segundo turno e protagonizaram uma série de acusações mútuas. Primeiro, durante o debate ocorrido em 24 de outubro daquele ano na TV Record, Alckmin alegou em suas considerações iniciais que o governo Lula baseava-se em duas premissas: “Parado na economia e acelerado nos escândalos”. O Partido dos Trabalhadores, no ano anterior, se viu imerso no caso do mensalão – o governo foi acusado de compra de votos parlamentares. Ao responder sobre a razão pela qual cinco de seus ministros haviam sido denunciados, Lula afirmou: “Ministério Público no meu governo não engaveta nenhuma denúncia”. Uma semana antes da discussão entre os candidatos, Geraldo participou de um evento na cidade de Americana (SP) e questionou “quem era o chefe da quadrilha de 40 ladrões” e duvidou da índole do governante: “Sobre caráter, eu acho difícil que o presidente Lula possa discorrer sobre esse tema”. Em setembro do mesmo ano, Alckmin comparou o petista a um “ladrão de carros” e disse que quem assistia às atuações do governo federal poderia enxergar uma “sofisticada organização criminosa”. Lula, então, ganhou direito de resposta e alegou que o Brasil sabia quem havia deixado o Estado de São Paulo “refém do crime organizado”. “E os paulistas também sabem quem mandou engavetar mais de 60 CPIs para que seu governo não fosse investigado”, acusou. Anos depois, em 2017, ambos se reencontraram um ano antes das eleições presidenciais. “Depois de ter quebrado o Brasil, Lula diz que quer voltar ao poder, ou seja, ele quer voltar à cena do crime”. Passada a eleição e boa parte do governo de Jair Bolsonaro, através de uma costura realizada por Márcio França (PSB), seu antigo vice-governador na última vitória para comandar o Estado de São Paulo, a dupla selou o outrora impensável acordo para compor uma chapa presidencial. Desde o início das tratativas, o petista e o agora pessebista disseram que o cenário político atual exige que políticos deixem as diferenças de lado em favor de uma união.

Reencontro pós-impeachment

O ano de 2015 foi de muitas turbulências para a chapa Dilma Rousseff e Michel Temer, eleitos em 2014 com 54.501.118 votos. Sob a acusação de estar sendo escanteado, o vice-presidente chegou a escrever uma carta à mandatária onde a acusa de “desconfiança” a ele e ao MDB e de enxergá-lo como um “vice decorativo”. A ala petista, então, passou a afirmar que o ex-presidente da Câmara dos Deputados estava arquitetando uma ruptura no governo. Pressionada pela crise política da época, evidenciada pela Operação Lava Jato, e pela pressão vinda do Parlamento, que acusava o Planalto de realizar pedaladas fiscais (ato de atrasar pagamentos de maneira proposital para melhorar artificialmente as contas públicas), além do não apoio do Partido dos Trabalhadores no processo de cassação do então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, no Conselho de Ética, o processo de impeachment da então presidente foi aprovado na Câmara e, meses depois, Dilma Rousseff foi destituída do cargo. Desde então, petistas e emedebistas se distanciaram no cenário nacional. Em 2017, porém, Temer e Lula voltaram a se reencontrar. Ambos retomaram o diálogo e , em 2022, o emedebista sinalizou que lutaria em prol da ala pró-Lula em seu partido ao tentar adiar a convenção da sigla, de maneira que Simone Tebet não fosse a candidata da legenda e o MDB passasse a apoiar a chapa petista que disputará o Planalto. O movimento contou com o apoio declarado do senador Renan Calheiros (PE) e de lideranças de pelo menos 11 Estados. Calheiros ameaçou judicializar a convenção, mas recuou. O partido oficializou o nome da senadora Simone Tebet como candidata à Presidência da República, o que não impediu caciques e diretórios emedebistas de decidirem caminhar com Lula. O exemplo mais recente vem do Rio de Janeiro, berço político do bolsonarismo. Lá, a seção fluminense do MDB decidiu apoiar a candidatura do ex-presidente, apesar do nome de Tebet. A moção de apoio, inclusive, foi aprovada com o voto favorável do ex-ministro Moreira Franco, um dos nomes mais próximos a Temer, em quem, até hoje, recai a pecha de golpista.

Ministra, adversária e quase vice

Chefe da pasta de Meio Ambiente durante os governos Lula – entre 1 de janeiro de 2003 a 13 de maio de 2008 -, Marina Silva era filiada ao Partido dos Trabalhadores (PT) e passou a enfrentar resistência interna em 2009. Dessa maneira, a política acertou a sua saída da sigla e filiou-se ao Partido Verde (PV). Mesmo com a disputa à Presidência no ano seguinte, foi em 2014 que a acreana passou a ser vista como um “perigo” pelo PT, que liderou uma série de ataques à política. Cotada para ir ao segundo turno, líder nas pesquisas eleitorais de intenção de voto em setembro do mesmo ano e com um recall de quase 20 milhões de votos na eleição anterior, Marina foi retratada nas campanhas eleitorais televisivas do PT como alguém que seria um perigo às políticas beneficiárias. “A autonomia do Banco Central que a Marina defende é outro perigo para o país. Tornar o Banco Central independente é tirar do presidente da República e do Congresso Nacional, eleitos pelo povo, as decisões sobre a política econômica para o país para entregá-las aos bancos”, afirmou trecho de vídeo veiculado pelo PT em ataque à ex-companheira. Dilma Rousseff, que buscava a reeleição, também foi à TV para endurecer os ataques e questionou as promessas de Marina: “Como é que você acha que ela vai conseguir esse apoio sem fazer acordos? E será que ela quer? Será que ela tem jeito para negociar? Sonhar é bom, mas eleição é hora de botar o pé no chão e voltar à realidade”, declarou. Marina passou a derreter nas pesquisas, obteve pouco mais de 22 milhões de votos e não foi ao segundo turno. Em 2022, porém, a campanha de Fernando Haddad (PT) passou a considerar o nome de Marina como possível vice de sua chapa, que disputará a corrida pelo Palácio dos Bandeirantes. A ex-ministra foi cortejada por meses e, na reta final, cresceu entre seus correligionários da Rede Sustentabilidade a aposta de que ela aceitaria o convite de Haddad, mesmo após o acordo costurado segundo o qual Silva buscaria uma vaga na Câmara dos Deputados e serviria como puxadora de votos da legenda, a fim de dar sobrevida à sigla e expandir a bancada do partido na Casa. Na quarta-feira, 3, o ex-prefeito da capital oficializou a recusa da aliada.

Acenos políticos

Ex-presidente da Câmara dos Deputados e figura controversa no mundo político, Eduardo Cunha (PTB-SP) pretende retornar à Casa legislativa neste ano. Após ser condenado em 2017 a mais de 15 anos de prisão pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas, o político estreitou laços com o grupo do presidente Jair Bolsonaro (PL) – Cunha foi fotografado na convenção do Partido Republicanos no sábado, 30, evento que oficializou a candidatura do ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio Gomes de Freitas ao governo paulista. Em entrevista ao programa Pânico, da Jovem Pan, Eduardo Cunha afirmou que pretende apoiar a reeleição de Bolsonaro pelo fato de o chefe do Executivo federal representar o antipetismo. O ex-parlamentar se notabilizou pelo embate com o PT, em especial com a ex-presidente Dilma Rousseff, e lançou um livro chamado “Tchau, Querida”, no qual relata, entre outras coisas, bastidores do processo de deposição da petista. “A questão não é gostar ou não dele. O Bolsonaro representa hoje aquilo que estou enfrentando”, argumentou. Até o momento, não houve manifestação por parte do atual chefe do Executivo federal.

Na última eleição, em 2018, o ator Alexandre Frota acertou a sua filiação ao Partido Social Liberal (PSL) com as bençãos de Jair Bolsonaro, então candidato à presidência da República. Em uma série de vídeos publicados em grupos de aplicativos de mensagens, Bolsonaro chegou a declarar: “Frota, estou aguardando você no PSL. Se você me quer presidente, eu quero te ver ministro da Cultura”. Alexandre foi eleito como 16º mais votado, com mais de 155 mil votos, e passou a ser uma das vozes do bolsonarismo na Câmara. Após desentendimentos entre Frota e Bolsonaro, o parlamentar desembarcou da tropa de choque bolsonarista no Legislativo e protagonizou diversos embates públicos com o presidente e seu filho, Eduardo Bolsonaro, seu companheiro de Câmara dos Deputados. Escanteado no PSL, até então dominado por aliados de Bolsonaro, Frota se filiou ao PSDB, se tornou uma das vozes mais estridentes de oposição e hoje faz campanha para a reeleição de Rodrigo Garcia (PSDB) para o governo de São Paulo. Quatro anos depois de chegar ao Legislativo federal como um dos mais votados do país, Frota decidiu disputar uma cadeira na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Com João Doria (PSDB) fora da disputa, o agora tucano diz esperar que Bolsonaro seja “liquidado” no primeiro turno. Para isso acontecer, afirma, votará em Lula, segundo revelou em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.

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