Em discurso inflamado, Witzel diz ser vítima de ‘linchamento moral e político’

Por 69 votos a 0, deputados estaduais do Rio de Janeiro aprovaram, nesta quarta-feira, 23, a continuidade do processo de impeachment por crime de responsabilidade do governador afastado

  • Por Jovem Pan
  • 23/09/2020 22h07
  • BlueSky
CLÉBER MENDES/AGÊNCIA O DIA/ESTADÃO CONTEÚDO Desde o início, o governador afastado nega as acusações de que tenha desviado verbas da Saúde

Por 69 votos a 0, os deputados estaduais do Rio de Janeiro aprovaram, nesta quarta-feira, 23, a continuidade do processo de impeachment por crime de responsabilidade do governador afastado Wilson Witzel (PSC). Nesta quarta-feira 23, durante a votação, Witzel discursou de forma emocionada por vídeo conferência e, mais uma vez, negou as acusações. “Absolutamente injusto, não tive o direito de me defender nem na Assembleia e nem nos tribunais. Estou sendo linchado moralmente e politicamente, sem direito de defesa”, disse. “Fui afastado sem direito de falar, denúncias foram proferidas sem inquérito prévio, em ilações espetaculares do Ministério Público que muitos de nós já fomos vítimas”, continuou.

Ele agradeceu a oportunidade dada pelo presidente André Ceciliano (PT-RJ) de “exercer seu histórico direito de defesa” e lembrou a história de Tiradentes, que dá nome ao palácio onde fica a Alerj. “A tirania que escolhe os senhores parlamentares, suas vítimas para que outros não mais se atrevam. Infelizmente a história mostra que mártires nunca morrem, exemplos sempre são seguidos, como Cristo Jesus, delatado e vendido entre os seus apóstolos”, exemplificou Witzel. De forma inflamada, o governador afastado também questionou a democracia brasileira, e afirmou que “há uma competição malévola de uma extrema direita que jamais apoiou”. “Por estas razões, temo estarmos matando a nossa democracia, o nosso bem mais preciso e caro de um estado democrático de direito é o voto”, continuou.

Segundo o governador afastado, a busca e apreensão em endereços ligados a ele e à primeira-dama, Helena Witzel, foram “episódios midiáticos”. “Na lista dos governadores eu sou a primeira vítima, outros também serão objeto de busca e apreensão. Eles vêm com viaturas, fuzis, os policiais federais com colete para fazer propaganda da instituição, é uma apreensão midiática”, disse. Witzel também voltou a criticar o Ministério Público e lembrou a fala do Procurador-Geral da República, Augusto Aras, que recentemente fez críticas ao “lava-jatismo”. “A escolha é do MP, com suas teorias especulativas, acatadas como verdades absolutas, sob o manto genérico do combate a corrupção. Não me importo de ser julgado porque nunca cometi nenhum ato ilícito, se essa casa se render a esse lava-jatismo, realmente não haverá mais quem possa defender essa sociedade”, afirmou.

Governador se emocionou

Em dois momentos do discurso, Witzel se emocionou: ao citar o filho transsexual e a esposa Helena Witzel, também acusada de ter participado das supostas irregularidades em verbas destinadas à Saúde. “Eu rejeito a intolerância porque na minha casa eu tenho um filho que convive com a intolerância. Que muitas vezes me fez chorar pela intolerância sofrida contra ele. Como eu posso ser esse intolerante, senhores? Como eu posso ser esse genocida dos quais os senhores me acusam? Como posso querer que, na favela, a polícia mate preto, pobre, favelado? Os policiais honrados, faço aqui agora uma honra a eles que os senhores não têm coragem de fazer, os nossos policiais morrem nas ruas. Enfrentando não é um pobrezinho na favela não , é um traficante de fuzil”, disse.

“A minha esposa foi iniciar sua vida advocatícia como qualquer uma, recebeu empresas para advogar. Se estavam envolvidas com qualquer ato, que se investigue. Minha esposa é uma pessoa decente, honesta. Quantas vezes ela já chorou por conta das acusações que fazem contra ela, por conta do noticiário q compara com a Adriana Ancelmo (ex-primeira dama, esposa de Sérgio Cabral)”, afirmou.

Ele também chamou os demais parlamentares de “omissos”, ao dizer que nenhum foi investigar as OSS, que supostamente fariam parte do esquema que planejava arrecadar R$ 400 milhões cobrando propina de 5% sobre os contratos. “Querem me acusar de crime de responsabilidade, mas todos devem fazer a mea culpa. Não tenho um centavo sequer para devolver. Se querem que eu renuncie, renunciemos todos, e façamos uma eleição no RJ para deputados e governadores, todos somos responsáveis, não queiram colocar só nos meus ombros. Todos fomos omissos, mas até agora só eu estou sofrendo linchamento moral”, afirmou.

  • BlueSky

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.