‘Lula mexeu comigo e arrumou um problema: vou bombardeá-lo’, diz Pablo Marçal 

Em entrevista à Jovem Pan, influenciador digital e alvo de disputa interna no Pros critica manobra de ala pró-Lula do partido, fala em aplausos a Bolsonaro e se classifica como o ‘presidente que o Brasil necessita’

  • Por Caroline Hardt
  • 14/08/2022 07h00
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Divulgação/Equipe Pablo Marçal Pablo Marçal Pablo Marçal é candidato à presidência da República pelo PROS

Escritor, palestrante e “futuro coach do Brasil”. Com 2,3 milhões de seguidores, Pablo Marçal é, sem dúvida alguma, um nome já conhecido no país, mas não na política. Autor de 26 livros, o agora candidato à Presidência da República pelo Partido Republicano da Ordem Social (PROS) se classifica como uma pessoa “transbordante”, que gosta de gente e que quer ajudar a mudar a mentalidade brasileira direto do Palácio do Planalto. “Percebi que nos 38 presidentes da República que já passaram pelo Brasil, ninguém nunca teve como alvo mudar a mentalidade do povo”, disse Marçal à Jovem Pan. Natural de Goiânia, com família mineira e morador de São Paulo desde 2019, Pablo Marçal é casado há 13 anos com a primeira namorada e pai de quatro filhos, com chances de aumentar a família. Estrategista, empreendedor digital e dono de um conglomerado empresarial, ele se dispõe a enfrentar o que considera ser a maior dificuldade da sua vida – até mais do que a polêmica subida no Pico dos Marins – para ser “o presidente que o Brasil necessita”. Como presidenciável, se posiciona contra a descriminalização do aborto e da legalização da maconha e o Partido dos Trabalhadores (PT), mas defende a segurança das urnas eletrônicas e tem confiança no sistema eleitoral. Também é contra a reeleição. Já como candidato, se vê no centro de uma disputa interna do partido, que ora confirma sua candidatura, ora defende a retirada em apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ainda precisa julgar o pedido da nova direção da sigla que retirou seu nome da corrida ao Planalto. Sem medo de processos, ele afirma categoricamente que Lula quer “se vingar do Brasil” ao retornar à Presidência e garante que não vai desistir da corrida eleitoral. “Não sou Sergio Moro ou João Doria“, exalta.  Confira abaixo os principais trechos da entrevista:

Quem é Pablo Marçal? De onde vem a sua vontade de participar da política? E por que acha que é o melhor candidato para ser presidente? Sou uma pessoa que gosta de gente e de mudança de mentalidade. Percebi que nos 38 presidentes da República que já passaram pelo Brasil, ninguém nunca teve como alvo mudar a mentalidade do povo, já tenho auxiliado milhões de pessoas Brasil afora a mudar mentalidade, a crescer, a começar a empreender e investir. Ensino na área de família, de criação de filhos, casamento, finança, riquezas, marketing digital, inteligência emocional. Sou transbordante, quero ver pessoas realmente prosperando. Minha identidade é ser imagem e semelhança do criador. Vejo que o brasileiro não conhece o propósito do Brasil, não conhece o seu próprio propósito. Todo mundo é tratado como peça de motor, quero que o nosso povo não seja alienado por politiqueiros, quero realmente essa nação diferente e acredito que até o final dessa década nos tornaremos a nação mais próspera da Terra. 

Você disse na terça-feira, em live, que direita e esquerda devem parar de extremismo e ir para frente. Você se enxerga como essa bússola para levar o Brasil adiante? O que é preciso fazer para crescer nas pesquisas e chegar ao segundo turno? A legenda do meu partido é o número mais alto, é o número 90. Brasil tem que ir para frente, pegar a pisca e ter sustentação para o Brasil decolar, porque ficou 10 anos na economia parada, estamos dentro de uma guerra mundial de afetação econômica como nunca visto antes. Vejo que o próximo presidente do Brasil tem que ser uma pessoa que cria harmonia, gera respeito e promove o povo, as instituições e principalmente os Poderes. O Brasil está entrando na beira de uma ruptura institucional. Um sistema político que não aceita o Bolsonaro e o Bolsonaro faz de tudo para combater isso. Ao invés de pacificação, estamos com grande problema de resistência no país – e isso atrapalha a nação. Nunca vou falar que sou o melhor candidato, sou uma opção viável, a mais jovem, a que tem melhor resultado econômico falando. Não posso prometer que serei o melhor político da história, mas serei um tocador de obras, que é o que gosto de fazer. Gosto de ver gente crescendo, então podem esperar um governo para gente. 

Você chegou a afirmar que vai ser ‘coach do Brasil’. Recentemente, o senhor esteve envolvido no resgate de 32 turistas no Pico dos Marins em Piquete. Como confiar que você vai ser o melhor para o Brasil se parte da população te responsabiliza por ter colocado essas pessoas em risco? Não subi com nenhuma criança, cada um assinou um documento, foi gratuita a subida. Não existe nenhuma das pessoas que reclamaram para mim ou na Justiça, nem em lugar nenhum. Essa propagação da informação é porque estava alguém famoso ali envolvido, a primeira notícia que saiu é que 32 turistas se perderam. Na verdade, ninguém se perdeu e ninguém consegue confirmar isso, porque é uma mentira. Estávamos no lugar que queríamos estar. Eu mesmo chamei o Corpo de Bombeiros, não usou uma corda, não usou absolutamente nada. [Então não estavam em risco?] Se estiver com um celular na mão você está em risco, na Avenida Paulista com celular na mão você está mais em risco do que eu lá em cima. Quem não estava lá pode falar o que quiser. A verdade é que aprendemos muito sobre ousadia, sobre respeito, chamamos quem poderia nos ajudar e terceiro, não abaixar a cabeça. O brasileiro abaixa a cabeça por medo de polêmica. É hora do Brasil se levantar e ter uma postura de vencedor. Aprendi muito, não faria nas mesmas condições porque já aprendi. Agora, se alguém está preocupado se vou subir com o Brasil na montanha, é muito melhor do que o Lula descer com todo mundo no vale de ossos secos e matar esse povo com comunismo que ele vem pregando e é o que ele deseja. 

No Brasil, 33 milhões de pessoas não têm o que comer. Qual a sua proposta para acabar com a fome? O governo sozinho não dá conta de alimentar o povo. Fica todo mundo colocando isso nas costas do Bolsonaro, mas a gente tem 5170 prefeitos, a gente tem 70 mil políticos. Era um problema que se esses 70 mil quisessem resolver com disposição política, já estava resolvido. Mas o governo não tem capilaridade para isso, então precisamos criar movimentos sociais para envolver igrejas, instituições, empresas, principalmente, para ajudar. Somos 20,8 milhões de empresas, se cada uma adotasse uma família que está passando fome, resolvemos o problema hoje. Seria um pacto social, criar harmonia e falar: ‘a gente é o povo que mais alimenta pessoas no mundo, estamos em terceiro lugar na produção de alimentos e tem 33 milhões passando fome? Não é falta de alimento, é falta de solidariedade, é falta de movimentos sociais’. 

Ainda sobre suas projeções de governo, se for eleito, o que fará com as emendas do Orçamento Secreto? Vou continuar mantendo e vou discutir o que é melhor para o país. Isso veio do próprio Parlamento. Existe um engano que o presidente da República dá conta de revogar uma coisa, um veto pode ser derrubado no Congresso Nacional. Agora, a minha sugestão é que isso não aconteça, mas como tem acontecido, não adianta brigar com o Parlamento. [Mas essas emendas não são pouco transparentes?] O que a gente pode fazer é pedir transparência nisso. Minha opinião como cidadão: isso tem que ser revogado, mas é uma briga que você vai entrar em algo que está funcionando hoje. Vamos trazer transparência, porque está assustador ver parlamentar com R$ 200 milhões de emenda.

Os candidatos costumam dizer que os 100 primeiros dias de um governo são fundamentais. Durante a semana, o ex-presidente Lula mencionou que os seis primeiros meses vão definir o futuro do Brasil. Se eleito, qual será a sua prioridade? Reestruturar a educação e voltar imediatamente a retomar as 20 mil obras paradas. Mais as obras do que educação, em um primeiro instante, porque essas obras já conseguem colocar pessoas nos postos de trabalho em poucas semanas. Retomando as 20 mil obras paradas consigo colocar gente sem qualificação nas obras, é baixíssima a qualificação, o tempo de qualificação é bem curto. Focaria nisso para girar a roda da economia e trazer comida à casa dos brasileiros. 

A disputa no Pros acontece pela mudança na presidência do partido, com Eurípedes Jr. contra a sua candidatura e Marcus Holanda favorável. Por que Eurípedes é contra a sua candidatura? E qual a sua relação com ele? Ele não é contra, é porque ele tem uma predileção pelo PT e ele tinha perdido o partido. Jamais teria entrada em um partido que tem alguma ligação com o PT, a atual do Marcus Holanda não tem ligação, me aclamou dentro da legislação de forma unânime. E o que está sendo discutido no TSE é se o tribunal é competente para decidir isso em época de eleição, porque pode mudar o rumo da eleição. Não tenho problema nenhum com Eurípedes, não o conheço pessoalmente, nunca conversei com ele, se ele é um caso estratégico, dos 1500 candidatos dele no Pros, 911 foi eu que levei. Então como mais de 60% dos candidatos vieram apoiados no que estou fazendo, seria uma lástima ir contra a minha candidatura, porque ele vai ficar sem as nominatas. Se isso acontecer, o que eu duvido, porque ainda tem lei, vou até à última instância. Não faz sentido me preocupar com isso. A briga é entre o Marcus Holanda e o Eurípedes.

O Pros chegou a encaminhar pedido para retirada da sua candidatura. Acha que é uma traição do partido? Não vejo, porque é 100% de mudança no partido. Você tem uma Executiva, tem uma cabeça pensante e cada um tem uma ideologia. Não me sinto traído. Sei quem é o Eurípedes, sei quem é o Marcus Holanda e vou continuar com a minha candidatura à presidência da República, se for preciso vou até à ONU [Organização das Nações Unidas]. 

Além da ONU que você já prometeu ir, quais vias você enxerga para recorrer pela manutenção da sua candidatura? Primeiro, um mandado de segurança, ato jurídico perfeito. Não faz sentido tirar uma candidatura que está registrada. Não é uma decisão em tempo hábil. A turma do Eurípedes recebeu a liminar às 14h45 da sexta-feira e às 18 horas já estavam fazendo a convenção [pela retirada da candidatura e apoio a Lula]. Não existe convenção desse jeito, tem que respeitar o estatuto e resoluções do TSE. Não faz sentido. A gente está comemorando 90 anos de Tribunal Eleitoral, se a gente começa uma eleição cancelando uma candidatura já com CNPJ, estamos cometendo um atentado à democracia e ferindo os meus direitos políticos. Antes de 24 horas [da decisão liminar], o Eurípedes levou o partido ao PT, entregando a candidatura. Não sou o Sergio Moro que vai ficar calado, igual o Doria. Mais de 11 candidatos se colocaram à disposição e foram ceifados. Estão mexendo com o cara errado.

Considerando que na última pesquisa Datafolha você pontuou 1%, por que manter a sua candidatura à Presidência? Não seria melhor concorrer a deputado federal, por exemplo? Não sou carreirista político. É porque o Brasil precisa. Eu queria estar de férias, só que o Brasil realmente precisa de coragem e gente que gosta de gente. Gente que sabe transformar a mentalidade deste país. Se Lula estivesse na cadeia e Bolsonaro tivesse treinado um homem ou mulher diferente para governar o país, com certeza eu jamais estaria envolvido nisso. Então, está sendo muito difícil para mim, talvez a coisa mais difícil que já fiz em toda a minha vida. 

Você disse algumas vezes que o Lula quer roubar a sua candidatura. Mas o último Datafolha mostra o ex-presidente com 47% das intenções de voto e o senhor com 1%, o que mostra que não há uma disputa direta entre vocês. Qual o intuito de roubar a sua candidatura, então? Ele quer ganhar no primeiro turno, cercear o direito dos outros de ser candidato porque ele aumenta a possibilidade dele. Só que ele arrumou um problema, ficou mexendo comigo. Não só vou virar um bombardeio para cima dele, como também vou poupar o Bolsonaro. O Bolsonaro se elegeu em cima do antipetismo, eu ia deixar o Lula em paz. Não acredito que nem o Lula nem o Bolsonaro vai ser o presidente do Brasil, brasileiro não vai dar essa chance. O cenário atual parece que está se encaminhando, mas tem alguém diferente concorrendo à Presidência. Não sou o melhor, sou o necessário, o que precisa para acabar com essa merda toda. 

Você se preocupa com a possibilidade de golpe no Brasil? De forma nenhuma. Essa narrativa de golpe é de gente que finge defender a democracia, mas que não respeita a opinião dos outros. Me chamaram para assinar carta, mas é um ato pró-Lula e não vou assinar por causa disso. Sou democrata e quero a minha liberdade, assim como quero a de todas as pessoas. 

Você também mencionou que Lula quer se vingar do Brasil e que teme perder a democracia na eleição. Acha mesmo que é a principal motivação do petista? Vivemos 14 anos sob o governo do Partido dos Trabalhadores, não existia democracia? Não fomentar a contratação de médicos e trazer guerrilheiros de Cuba e dar mais de 80% do salário deles para o Fidel Castro, vejo que é um problema da democracia. Tentar cercear o direito de candidatos nanicos, segundo a pesquisa eleitoral, é cercear o direito e mostrar que não existe democracia. Não ir a debates, que é o que ele tem fomentado, é ser um democrata? 

Segundo as pesquisas, em terceiro lugar está Ciro Gomes (PDT). Por que você e outros candidatos “nanicos” não se uniram em prol do nome dele? A primeira coisa que tenho contra ele é que a economia é feudal, de feudalismo. Não faz sentido me juntar a um candidato que vai colocar o retrocesso econômico no país. Segunda coisa: de todos os 12 candidatos, ele é o mais desequilibrado emocionalmente. De longe o mais desequilibrado, já foi para as vias de fato com professores, apoiadores do Bolsonaro, policiais. Ele é um cara autoritário, o Brasil precisa de gente que seja pacificadora. Estou muito alegre em pensar que vou ser reconhecido como o cara que aposentou em uma única eleição Lula, Bolsonaro e Ciro Gomes. Tomara que nunca mais voltem a disputar a Presidência. 

Como você avalia o governo Bolsonaro? O que faria diferente? Do jeito que estava indo até o final de junho, imagina que seria uma catástrofe. Mas as medidas que foram aplicadas fez com que em julho a gente tivesse uma deflação e parece que vai repetir. Quero que o governo dê certo e no dia 1 de janeiro ele passe a faixa de presidente para mim, com bons indicadores. Ele tem que receber aplausos, conseguiu diminuir a gasolina, poderia ter feito no começo do governo, mas acabou resolvendo muita coisa agora. [E a postura na pandemia?] Exagerada, agora ele fica ouvindo o nome que ele não merece ouvir, que é de genocida. Na verdade, se ele tivesse só tomado a vacina, não teria entrado nessa latada toda e a gente teria saído mais rápido disso. 

Pesquisas apontam que o segundo turno das eleições será decidido entre Lula e Bolsonaro. Se esse cenário se confirmar, você cogita fazer campanha para a reeleição do Bolsonaro? Em quem você vai votar? Só vou responder essa pergunta no dia 2 de outubro às 20h27, quando mais de 95% das urnas estão apuradas. Não sou um cara derrotado, não trabalho com duas opções. Mas uma certeza eu dou: jamais vou apoiar o Lula em nada que ele fizer. [E a campanha contra o Lula?] 100% de certeza, se ele continuar me perseguindo.

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