PSDB perde governo de São Paulo e diminui de tamanho, mas espera renascer com Eduardo Leite e Raquel Lyra
Tucanos ficaram à beira da cláusula de barreira nas eleições legislativas e, pela primeira vez desde 1994, não comandarão o principal estado do país; representatividade na Assembleia Legislativa paulista caiu pela metade
Fundado em junho de 1988, o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) teve uma ascensão meteórica no cenário político nacional. Em sua primeira disputa eleitoral, os tucanos elegeram 38 deputados federais e um senador – Beni Veras, pelo Ceará -, além de assumir o comando do governo com a eleição de Ciro Gomes para o cargo de chefe do Executivo estadual cearense. Na legislatura seguinte, houve um aumento de 65,8% no número de cadeiras na Câmara dos Deputados, com 63 representantes, nove senadores, seis governadores – incluindo o início de uma hegemonia no Estado de São Paulo – e a principal cadeira do Executivo: a presidência da República, com Fernando Henrique Cardoso, conquistada no primeiro turno. Vinte e oito anos mais tarde, o partido encontra-se sem um único voto à presidência da República, já que, de maneira inédita, não lançou candidato e elegeu, novamente, o menor número de governadores desde a primeira eleição disputada em sua história – tal como em 2018 -, mas com a perda do controle do principal Estado do país. O atual governador Rodrigo Garcia (PSDB) mudou-se do DEM para o ninho tucano no primeiro trimestre deste ano na esperança de seguir no comando do Palácio dos Bandeirantes pelos próximos quatro anos – aumentando a hegemonia da legenda no Estado. No entanto, os planos da sigla foram frustrados após Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro da Infraestrutura do governo Jair Bolsonaro (PL), e Fernando Haddad (PT), ex-ministro da Educação do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), irem ao decisivo segundo turno estadual. Por fim, o candidato apadrinhado pelo atual chefe do Executivo sagrou-se vencedor e encerrou a supremacia tucana no território paulista depois de quase 30 anos. Para efeito comparativo do declínio da representatividade tucana, em 2018, o PSDB elegeu 13 deputados estaduais para exercer mandatos legislativos na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Passados quatro anos, em outubro deste ano, o número de parlamentares tucanos eleitos para a Casa caiu em mais da metade, com apenas sete deputados com votação suficiente para ingressar na Alesp. Além da eleição em São Paulo, no segundo turno, o partido semeava a esperança de ampliar o número de Estados comandados por seus correligionários aos cargos de governador dos Estados de Pernambuco, com Raquel Lyra; do Rio Grande do Sul, com Eduardo Leite; do Mato Grosso do Sul, com Eduardo Riedel; e da Paraíba, com Pedro Cunha Lima – este último sendo o único derrotado entre os quatro que foram ao turno decisivo. O resultado eleitoral impõe um novo revés aos tucanos que por pouco não se tornaram uma sigla nanica em decorrência do fraco resultado nas urnas em âmbito legislativo federal em 2022.
Resultados no segundo turno
Em Pernambuco, a expectativa era de que Raquel Lyra (PSDB) vencesse Marília Arraes (Solidariedade) e assumisse o comando do Palácio do Campo das Princesas. Ainda que Lyra tenha ido ao segundo turno do pleito estadual com uma votação menor do que a candidata apoiada por Lula, o terceiro candidato mais bem votado na corrida ao cargo de governador foi Anderson Ferreira (PL), da sigla de Jair Bolsonaro. Ou seja, com a união dos principais candidatos que não contam com o apoio do principal líder petista, Raquel confirmou o favoritismo demonstrado nas pesquisas e venceu Arraes com quase 60% dos votos da população pernambucana votante. Já no Rio Grande do Sul, Eduardo Leite – que buscou uma corrida à presidência da República contra o vencedor das prévias do PSDB, o ex-governador de São Paulo João Doria – e foi ao segundo turno ao superar o candidato Edegar Pretto (PT) por pouco mais de dois mil votos -, encontrava-se à frente do ex-ministro do governo Bolsonaro Onyx Lorenzoni, com 55% a 45% dos votos válidos na pesquisa Ipec dias antes do pleito decisivo. Leite também contou com uma transferência de votos do candidato petista, já que o Partido dos Trabalhadores anunciou um apoio crítico à tentativa do tucano e o auxiliou no retorno ao comando do Palácio Piratini pelo próximo quadriênio.
No Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel passou para o segundo turno do pleito como segundo mais votado por quase 25 mil votos e o emparelhamento seguiu até o dia 30 de outubro. No último levantamento do Ipec dias antes da decisão, ambos encontravam-se empatados nos votos válidos com 50% das intenções de voto. No Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel passou para a segunda fase do pleito como segundo mais votado por quase 25 mil votos de diferença e o emparelhamento seguiu até o dia 30 de outubro. No último levantamento do Ipec dias antes da decisão, ambos encontravam-se empatados nos votos válidos com 50% das intenções de voto. Candidato do PRTB, Capitão Contar foi superado pela escolha de mais de 800 mil sul-matogrossenses, que optaram por eleger governador o candidato tucano em detrimento do apadrinhado pelo governo federal. Na Paraíba, único Estado onde os tucanos foram ao segundo turno e não levaram a disputa, Pedro Cunha Lima não passou para o segundo turno como candidato mais votado e obteve pouco mais da metade dos 863.174 que João Azevedo (PSB) contabilizou. Na mais recente pesquisa Ipec, o candidato alinhado à esquerda foi apontado como o preferido para 53% da população, enquanto Cunha Lima teria o voto de 47% dos paraibanos. O levantamento acertou o indicativo de votos da maioria da população, e Cunha Lima não conquistou a cadeira de chefe do Executivo. Dessa maneira, o PSDB irá controlar três Estados brasileiros nos próximos anos – número correspondente aos governos conquistados em 2018 -, mas sem a administração do principal governo estadual do país, em São Paulo.
Mea culpa
Com futuro incerto, a legenda tucana vive uma crise turbulenta e jamais experimentada pelos políticos que por lá passaram. Com brigas internas, rachas e perda de representação na sociedade, o PSDB tende a não ultrapassar a cláusula de barreira nas próximas eleições e poderá deixar de ter acesso a verbas públicas, propaganda de rádio e televisão e estrutura legislativa. A legislação eleitoral estipulada pela emenda constitucional 97, instaurada em 2017, fez com que partidos tivessem de conquistar ao menos 2% dos votos válidos para a Câmara dos Deputados ou a eleição de 11 deputados federais. Os tucanos elegeram 13 parlamentares para a Casa Baixa do Legislativo federal, além de perder a hegemonia no Estado de São Paulo – onde deixaram de se reeleger após quase três décadas no comando do Palácio dos Bandeirantes. Enquanto líderes históricos da sigla como o ex-senador Aloysio Nunes, os ex-presidentes do partido José Aníbal e Tasso Jereissati e o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso manifestaram apoio a Lula no embate federal, o diretório municipal e estadual paulista da legenda optaram por apoiar Jair Bolsonaro. A dissonância é um dos reflexos da falta de identidade, que reflete na ausência de representatividade. Fernando Alfredo, presidente do PSDB na cidade de São Paulo, ressaltou em entrevista concedida à Jovem Pan que a legenda dará uma “enxugada” nos próximos anos. “As pessoas que estão no PSDB por fisiologismo tendem a sair do partido. O PSDB vai conseguir separar o joio do trigo, o que para nós é muito bom”. Já o deputado federal Carlos Sampaio (PSDB-SP) afirmou que os políticos tucanos perderam a conexão com a sociedade. “Não somos protagonistas de mais nada, os fatos falam por si só. Do jeito que está, não podemos ficar”, pontuou.
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