Investigação expõe detalhes sobre minuta de golpe, campanha de desinformação e plano para prisão de ministros

Operação Tempus Veritatis, da Polícia Federal, também aponta detalhes sobre monitoramento do ministro Alexandre de Moraes e planejamento para declarar ‘estado de sítio’ no país

  • Por Caroline Hardt
  • 09/02/2024 08h44 - Atualizado em 09/02/2024 08h47
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Gabriel Biló/Estadão Conteúdo Blsonaro General Augusto Heleno defendeu que era preciso agir antes das eleições presidenciais para garantir a permanência de Bolsonaro

A operação Tempus Veritatis, deflagrada na quinta-feira, 8, pela Polícia Federal, expõe o ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados políticos, alvos de 33 mandados de busca e apreensão, quatro de prisão e 48 medidas cautelares. As ordens judiciais, autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, ocorrem após ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, ter fechado acordo de colaboração premiada com investigadores da PF. O acordo foi enviado à Procuradoria-Geral da República (PGR) e já recebeu a homologação do STF. As investigações apontam que a organização se dividiu em seis núcleos para atuar na tentativa de golpe de Estado e de ataque ao Estado Democrático de Direito: o de desinformação e ataques ao sistema eleitoral; o de incitação ao golpe entre militares; o de atuação jurídica; o de coordenação de ações de apoio operacional; o de inteligência paralela, e o de oficiais de alta patente que legitimavam todas as ações.

O grupo também promoveu reuniões para impulsionar a divulgação de notícias falsas contra o sistema eleitoral brasileiro, com intuito de descredibilizar as urnas eletrônicas e questionar o resultado das eleições de 2022. No encontro, o então presidente cobrou aos presentes que usassem os cargos para disseminar informações falsas sobre supostas fraudes nas eleições. Um vídeo com a gravação da reunião foi encontrado em um dos computadores de Cid. “Daqui pra frente quero que todo ministro fale o que eu vou falar aqui, e vou mostrar. Se o ministro não quiser falar ele vai vir falar para mim porque que ele não quer falar”, disse Bolsonaro, conforme transcrição feita pela Polícia Federal.

No mesmo encontro, o general Augusto Heleno, então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), defendeu que era preciso agir antes das eleições presidenciais para garantir a permanência de Bolsonaro no comando do país. E usou uma referência esportiva para afirmar que uma vez realizada, a eleição não poderia ser contestada. “Não vai ter revisão do VAR. Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa é antes das eleições”, afirmou. A partir da reunião, a PF aponta que foi realizada uma sequência de eventos para o planejamento de um golpe de Estado. “A descrição da reunião de 5 de julho de 2022, nitidamente, revela o arranjo de dinâmica golpista, no âmbito da alta cúpula do governo, manifestando-se todos os investigados que dela tomaram parte no sentido de validar e amplificar a massiva desinformação e as narrativas fraudulentas sobre as eleições e a Justiça eleitoral”, descreve a PF.

Os relatórios da PF também apontam que o grupo formado pelo ex-presidente e aliados monitorou o ministro Alexandre de Moraes. O monitoramento foi descoberto nas mensagens trocadas entre Mauro Cid e o coronel do Exército, Marcelo Câmara, que atuou como assessor especial da Presidência da República e foi preso preventivamente. Nas mensagens, Cid se referia ao ministro do Supremo como “professora”. “A investigação constatou que os deslocamentos entre Brasília e São Paulo do ministro Alexandre de Moraes são coincidentes com os da pessoa que estava sendo monitorada e acompanhada pelo grupo. Assim, o termo ‘professora’ utilizado por Mauro Cid e Marcelo Câmara seria um codinome para a ação que tinha o Ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como alvo”, informou a Polícia Federal

Por determinação de Moraes, os investigados estão proibidos de manter contato e de deixarem o país. Também precisam entregar os passaportes em 24 horas e estão suspensos do exercício das funções públicas. Todas as medidas tiveram o aval do procurador-geral da República (PGR), Paulo Gonet. Entre elas, como o site da Jovem Pan mostrou, estava a entrega do passaporte do ex-presidente às autoridades. Os alvos de busca e apreensão também incluíram o ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) general Augusto Heleno Ribeiro Pereira, o ex-ministro da Casa Civil Walter Souza Braga Netto, o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira e o ex-ministro da Justiça Anderson Torres. Foram presos Felipe Martins e o coronel do Exército Marcelo Costa Câmara, ambos ex-assessores especiais de Bolsonaro, e o major Rafael Martins de Oliveira. Já o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, acabou sendo preso por porte ilegal de arma, no momento que os agentes cumpriam o mandado de busca e apreensão contra ele.

*Com Agência Brasil

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