Lula recebe faixa presidencial de membros da sociedade civil e discursa para público: ‘Um dos dias mais felizes da minha vida’

Essa é a primeira vez em quase 40 anos que um representante eleito não recebe a faixa de seu antecessor; Jair Bolsonaro deixou o país dias antes da posse

  • Por Jovem Pan
  • 01/01/2023 17h08 - Atualizado em 01/01/2023 17h51
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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO CONTEÚDO Posse Lula Lula tomou posse no Congresso Nacional neste domingo, 1º, vinte anos após sua primeira eleição

A faixa presidencial foi entregue ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)  por representantes do povo brasileiro, neste domingo, 1º. Ele seguiu para o Palácio do Planalto no Rolls Royce presidencial após ser empossado no Congresso Nacional e subiu a rampa de mãos dadas com figuras que representam grupos comumente marginalizados da população brasileira, sendo uma criança negra, um indígena, uma pessoa com deficiência e uma mulher, além de militantes de movimentos sociais. Uma catadora de lixo, um metalúrgico e uma cozinheira estavam entre o grupo. Acompanhando o cortejo, estavam seu vice, Geraldo Alckmin, a primeira-dama Janja Lula da Silva e Lu Alckmin, esposa do vice-presidente. A cadela do casal presidencial, Resistência, também esteve presente. Momentos antes, o trompetista Fabiano Leitão, militante do Partido dos Trabalhadores (PT), entoou a versão instrumental do hino “Olê, olê, olá, Lula, Lula”. Após subirem as rampas, os membros da sociedade civil passaram a faixa para Lula, que recebeu abraços emocionados de todos. Janja e Lula choraram de emoção durante a cerimônia. O Hino Nacional foi tocado após o recebimento do ornamento. Após receber a faixa, Lula irá discursou para os 40 mil apoiadores que acompanham a posse na Praça dos Três Poderes. Ele saudou os que estavam presentes e agradeceu o carinho da população. O presidente classificou este como um dos dias mais felizes de sua vida.

“Quero começar fazendo uma saudação especial. Uma forma de lembrar e retribuir o carinho e a força que recebia todos os dias do povo brasileiro – representado pela Vigília Lula Livre –, num dos momentos mais difíceis da minha vida. Boa tarde, povo brasileiro! Que tiveram a coragem de vestir a nossa camisa e, ao mesmo tempo, agitar a bandeira do Brasil – quando uma minoria violenta e antidemocrática tentava censurar nossas cores e se apropriar do verde-amarelo, que pertence a todo o povo brasileiro. Minha gratidão a vocês, que enfrentaram a violência política antes, durante e depois da campanha eleitoral. Que ocuparam as redes sociais, e que tomaram as ruas, debaixo de sol e chuva, nem que fosse para conquistar um único e precioso voto. Quero me dirigir também aos que optaram por outros candidatos. Vou governar para os 215 milhões de brasileiros e brasileiras, e não apenas para quem votou em mim. Vou governar para todas e todos, olhando para o nosso luminoso futuro em comum, e não pelo retrovisor de um passado.A ninguém interessa um país em permanente pé de guerra, ou uma família vivendo em desarmonia. É hora de reatarmos os laços com amigos e familiares, rompidos pelo discurso de ódio e pela disseminação de tantas mentiras. O povo brasileiro rejeita a violência de uma pequena minoria. Repito o que disse no meu pronunciamento após a vitória em 30 de outubro, sobre a necessidade de unir o nosso país. Não existem dois brasis. Somos um único país, uma grande nação. Somos todos brasileiros e brasileiras, e compartilhamos uma mesma virtude: nós não desistimos nunca. Ainda que nos arranquem todas as flores, uma por uma, pétala por pétala, nós sabemos que é sempre tempo de replantio, e que a primavera há de chegar. E a primavera já chegou. Hoje, a alegria toma posse do Brasil, de braços dados com a esperança”, discursou.

Visivelmente emocionado, o presidente chorou ao lembrar da fome e do abismo social que assola a população brasileira. “Mas o principal compromisso que assumimos foi de lutar contra a desigualdade e a extrema pobreza, e garantir a cada pessoa o direito de tomar café da manhã, almoçar e jantar – e nós cumprimos esse compromisso. 20 anos depois, voltamos a um passado que julgávamos enterrado. Recentemente, reli o discurso da minha primeira posse, em 2003. E o que li tornou ainda mais evidente o quanto o Brasil andou para trás. Aqui, nesta mesma praça, assumimos o compromisso de recuperar a dignidade e a autoestima do povo brasileiro – e recuperamos. A fome é filha da desigualdade, que é mãe dos grandes males que atrasam o desenvolvimento do Brasil. A desigualdade apequena este nosso país de dimensões continentais, ao dividi-lo em partes que não se reconhecem. Juntos, somos fortes. Divididos, seremos sempre o país do futuro que nunca chega, e que vive em dívida permanente com o seu povo. Se queremos construir hoje o nosso futuro, viver num país plenamente desenvolvido para todos e todas, não pode haver lugar para tanta desigualdade. O Brasil é grande, mas a real grandeza de um país reside na felicidade de seu povo. E ninguém é feliz de fato em meio a tanta desigualdade. Nos últimos anos, o Brasil voltou a ser um dos países mais desiguais do mundo. Há muito tempo não víamos tamanho abandono e desalento nas ruas. Mães garimpando lixo, em busca do alimento para seus filhos. Famílias inteiras dormindo ao relento, enfrentando o frio, a chuva e o medo. Fila na porta dos açougues, em busca de ossos para aliviar a fome. E, ao mesmo tempo, filas de espera para a compra de jatinhos particulares. Tamanho abismo social é um obstáculo à construção de uma sociedade justa e democrática, e de uma economia próspera e moderna. Assumimos o compromisso de combater dia e noite todas as formas de desigualdade. De renda, de gênero e de raça. Desigualdade entre quem joga comida fora e quem só se alimenta de sobras. É inadmissível que os 5% mais ricos detenham a mesma fatia de renda que os demais 95%”, completou.

A passagem da faixa presidencial é tradicionalmente feita pelo antecessor do chefe do Executivo, contudo, o ex-presidente Jair Bolsonaro deixou o país na sexta-feira, 30, para uma viagem de trinta dias nos Estados Unidos e confirmou que não participaria da cerimônia. Essa é a primeira vez desde 1985 que um presidente eleito não recebe a faixa presidencial diretamente de seu antecessor. Contudo, a transferência é apenas simbólica como um rito de passagem, realizado desde 1910. A faixa é feita de náilon e cetim e conta com um distintivo com um brasão bordado e um broche de ouro com diamantes. Lula e o vice-presidente Geraldo Alckmin seguem para cumprimentar chefes de Estado e de Governo, além de autoridades internacionais. A agenda do presidente para este domingo ainda conta com cerimônia de posse dos ministros no Salão Nobre, pose para a foto oficial do governo e recepção no Palácio do Itamaraty. Além do evento, estão confirmados shows na região e a expectativa é de que milhares de pessoas compareçam à cerimônia. Se apresentarão artistas como Duda Beat, Baianasystem, Pabllo Vittar, Martinho da Vila e Maria Rita.

 

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