‘Não sou refém de cargo, sou refém da minha história’, diz Marcelo Ramos após ser destituído da vice-presidência da Câmara
Crítico do governo Bolsonaro, deputado sobe o tom contra o presidente da República e o comandante da Casa, Arthur Lira: ‘Nem na Ditadura um presidente deu uma ordem para a Câmara dos Deputados’
Alvo de pressão por parte do presidente Jair Bolsonaro (PL), de quem é adversário político, o deputado federal Marcelo Ramos (PSD-AM) foi destituído do cargo de vice-presidente da Câmara dos Deputados por ato da Secretaria-Geral da Mesa Diretora desta segunda-feira, 23 – uma nova eleição deve ocorrer na quarta-feira, 25. Crítico do governo federal, Ramos perdeu o posto porque trocou o PL, partido pelo qual foi eleito para a cadeira, pelo PSD, justamente por discordar do apoio ao atual mandatário do país. A eleição da quarta-feira ocorrerá após o ministro Alexandre de Moraes, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), revogar liminar pedida pelo parlamentar para permanecer no cargo. Na decisão desta segunda, o magistrado afirma que a escolha dos cargos da Mesa Diretora é um assunto interno da respectiva Casa Legislativa. À Jovem Pan, Ramos se disse “decepcionado” com o desfecho do caso, subiu o tom contra Bolsonaro e o comandante da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
“Respeito todas as decisões judiciais, até as que são contra mim, diferentemente do deputado Arthur Lira, que disse que descumpriria a decisão do ministro Alexandre de Moraes”, disse à reportagem. “É um sentimento de decepção. Não com a decisão, mas com o fato de o presidente da República dar ordem [para que eu fosse retirado da cadeira] por uma live. Foi o que aconteceu. Ele disse na live que tinha que me tirar e o presidente Arthur Lira, em uma decisão unilateral, me tirou. Através de uma live, o presidente da República deu uma ordem para a Câmara dos Deputados. Isso não aconteceu nem na Ditadura, nem na Ditadura. E pior: essa ordem foi obedecida. Mas repito o que já disse: não sou apegado a cargo, não fui eleito para ser vice da Câmara, fui eleito para representar o povo do Amazonas. Aqueles que tentaram fazer jogo comigo, para tentar me calar em relação ao IPI, em relação às críticas a Bolsonaro, vão ver na prática que entre cargo e ideias, fico com minhas ideias e princípios. Não sou refém de cargo, sou refém de minha história”, acrescentou. Em sua live semanal do dia 12 de maio, o chefe do Executivo federal admitiu que agiu para afastar Ramos do posto.
“Uma coisa que tem a ver comigo porque eu sou do partido, o PL. Eu pedi para o presidente do partido que o vice-presidente da Câmara… [ele] mudou de partido. Saiu do PL e foi para outro partido”, iniciou Bolsonaro. “Uma vez mudando de partido, está no regimento interno que ele tem que sair da vice-presidência porque aquele cargo pertence ao partido. O deputado que saiu [Ramos] entrou na Justiça e caiu na mão de quem? Alexandre de Moraes”, continuou. “Eu nunca vi uma interferência dessa forma junto ao Legislativo, um absurdo. Uma questão interna corporis. Não tem nada a ver com Justiça. O cidadão deputado deixou a Mesa [Diretora], foi para outro partido, ele perde a vaga na Mesa”, seguiu.
Marcelo Ramos afirma que não fará da decisão de Lira de destituição da vice-presidência da Câmara “uma guerra”. “Não farei isso por dois motivos: primeiro, para não expor a Casa mais do que ela já está exposta por se submeter a um capricho do presidente da República. Em segundo lugar, porque no país com mais de 19 milhões de pessoas passando fome, com 13 milhões de desempregados e com uma inflação de dois dígitos, não faz sentido gastar energia por cargo na Mesa Diretoria. O Brasil tem coisas com as quais se preocupar”, disse. Na decisão desta segunda, o ministro Alexandre de Moraes afirmou que o caso envolvendo os cargos da Mesa Diretora deve ser contestado, se assim as partes quiserem, no Supremo Tribunal Federal. A hipótese é rechaçada por Ramos: “Não vou expor o Supremo, que já está em uma guerra. Não quero expor a Suprema Corte do país nem desmoralizá-la. Ele [Lira] pretendia desmoralizar o Supremo, ao dizer que descumpriria a ordem do ministro Alexandre”.
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