Prefeitos reforçam no Senado que pastores teriam pedido propina em troca de verbas do MEC

Arílton Moura e Gilmar Santos teriam solicitado dinheiro e até um quilo de ouro em troca de influência na pasta da Educação

  • Por Jovem Pan
  • 05/04/2022 16h58
Geraldo Magela / Agência Senado Kelton Pinheiro, prefeito de Bonfinópolis (GO), fala à Comissão de Educação do Senado sobre pedidos de propinas de pastores no MEC Kelton Pinheiro, prefeito de Bonfinópolis (GO), fala à Comissão de Educação do Senado sobre pedidos de propinas de pastores no MEC

A Comissão de Educação do Senado ouviu nesta terça, 5,  prefeitos que denunciaram pedidos de propina de pastores que teriam influência sobre o destino das verbas do Ministério da Educação. Três prefeitos, Gilberto Braga, de Luís Domingues (MA), José Manoel de Souza, de Boa Esperança do Sul (SP), e Kelton Pinheiro, de Bonfinópolis (GO), reiteraram que os pastores evangélicos Arilton Moura e Gilmar Santos teriam lhes pedido dinheiro e até barras de ouro para levar suas demandas à pasta, então comandadas por Milton Ribeiro, ele mesmo ligado aos evangélicos e pastor de uma igreja batista.

Braga relatou sobre um encontro realizado em Brasília em 7 de abril de 2021, quando foi à capital discutir sobre obras inacabadas em seu município vinculadas à pasta. Após a reunião, o pastor Arilton Moura convidou os prefeitos presentes para um almoço, no qual teria pedido um quilo de ouro. “Até então, eu não conhecia o ministro da Educação. O pastor estava, sim, sentado à mesa na hora da palestra no MEC e, em seguida, nós fomos para esse almoço. E, lá nesse almoço, que não estava o ministro, só estavam os dois pastores, tinha uma faixa de uns 20 a 30 prefeitos. Ele virou para mim e disse: ‘Cadê suas demandas?’. E ele falou rapidamente: ‘Você vai me arrumar os 15 mil para eu protocolar as demandas e depois que o recurso tiver empenhado, depois, como a sua região é de mineração, vai me trazer 1 quilo de ouro’. Eu não disse nem que sim nem que não, me afastei da mesa e fui almoçar”, disse o mandatário da cidade maranhense.

José Manoel de Souza contou ter ouvido um pedido de propina de R$ 40 mil, também de Arilton. “O Arilton perguntou: ‘Você sabe muito bem como funciona, né? O Brasil é muito grande, não dá para ajudar todos os municípios. Mas eu consigo te ajudar com uma escola profissionalizante. Eu faço um ofício agora, chamo a Nely, você assina um ofício, coloco no sistema e, em contrapartida, você deposita R$ 40 mil na conta da igreja evangélica'”, relatou. Kelton Pinheiro disse que, antes de uma reunião no MEC, foi abordado por uma pessoa desconhecida que garantia ser ligada a Gilmar Santos e propôs um encontro na sede de uma igreja; nesta reunião, Arilton também estava presente e garantiu ter “canal interessante” em Brasília e que o então ministro [Milton Pinheiro] era “nosso irmão de fé”, logo antes de pedir uma “contribuição” para a igreja por meio da compra de mil Bíblias, cada uma no valor de R$ 50, o que o mandatário da cidade goiana garantiu ter negado.

Dez dias depois, Pinheiro compareceu a uma reunião no MEC com Ribeiro, que já estava agendada, e que houve um almoço após a realização. “Foi quando veio o pastor Arilton e me abordou de forma abrupta e direta: vi o seu ofício para uma escola de 12 salas. Essa escola deve custar uns R$ 7 milhões. Mas é o seguinte, eu preciso de R$ 15 mil na minha mão hoje, você faz uma transferência para a minha conta, porque esse negócio de para depois não cola comigo, porque vocês políticos são malandros, não têm palavras, se não pegar antes, depois não paga ninguém”, relatou o prefeito, acrescentando que saiu do restaurante na sequência. Ele contou ter saído do restaurante em seguida. Outros dois prefeitos compareceram à reunião do Senado nesta terça, Calvet Filho, de Rosário (MA), e Helder Aragão, de Anajatuba (MA), mas garantiram não terem ouvido pedidos de propina. Mais quatro prefeitos foram convidados, mas não estiveram presentes. Também já foram convocados para depor o ex-ministro Milton Ribeiro, e o atual ministro interino, Victor Godoy Veiga.

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