Prestes a embarcar no governo, Republicanos tem vice histórico de Lula como patrono, mas reúne ícones da direita

Em pouco mais de 18 anos de história, partido consolidou alianças com governos petistas, votou de forma unânime pelo impeachment de Dilma Rousseff e atraiu aliados do bolsonarismo

  • Por Caroline Hardt
  • 19/08/2023 16h00
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Bruno Rocha/Enquadrar/Estadão Conteúdo Marcos Pontes, segurando uma bandeira, Bolsonaro e Tarcísio, os três em pé, abraçados e apontando para o alto Jair Bolsonaro (PL) participa da Convenção Nacional do Republicanos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve anunciar na próxima semana as modificações da minirreforma na Esplanada dos Ministérios, com a nomeação de novos membros de primeiro escalão em pastas essenciais do governo federal. Na prática, o tão esperado anúncio vai representar o embarque oficial de partidos de centro no governo Lula 3. Entre os destaques, o Republicanos deve assumir o Ministério de Portos e Aeroportos, atualmente comandado por Márcio França (PSB-SP), com o deputado federal Silvio Costa Filho. Como contrapartida, o Palácio do Planalto espera construir a tão esperada base parlamentar, especialmente na Câmara dos Deputados, e garantir, nas palavras de Lula, “mais tranquilidade” para as aprovações das medidas encaminhadas pelo Executivo. Embora prestes a embarcar no governo, o Republicanos enfrenta uma racha interna pela falta de consenso quanto à aproximação com Lula, ainda que, historicamente, líderes partidários e correligionários tenham relações com governos petistas e com o próprio presidente.

Fundado em 2005 por pastores da Igreja Universal do Reino de Deus, o Republicanos se classifica como um “movimento político conservador, fundamentado nos valores cristãos”, que considera a família como “alicerce da sociedade”, prega a preservação da soberania nacional e da liberdade econômica. A sigla nasceu como Partido Municipalista Renovador (PMR) e, a partir de sugestão de José Alencar, patrono da legenda, mudou para Partido Republicano Brasileiro (PRB) e, posteriormente, para Republicanos. Ocupando a cadeira de presidente de honra, Alencar marcou a primeira eleição da sigla, em 2006, quando chegou à vice-presidência da República ao lado do então presidente Lula. Três anos depois, em 2009, o partido reuniria os dois primeiros senadores Roberto Cavalcanti Ribeiro e Marcelo Crivella, que chegaria à chefia do Ministério da Pesca durante o primeiro mandato de Dilma Rousseff (PT), em 2012. Em 2014, ainda como aliado de governos da esquerda, o Republicanos tomou frente mais uma vez da pasta da Pesca, desta vez com Eduardo Lopes.

No segundo mandato de Dilma Rousseff, mais uma vez o então Partido Republicano Brasileiro estava no primeiro escalão do governo, desta vez com a escolha do então deputado federal George Hilton para o Ministério do Esporte, marcando a clara aliança entre os petistas e o partido do histórico José Alencar. Entretanto, essa relação de proximidade muda de rumos ainda durante o governo Dilma 2, com a votação do impeachment com o apoio unânime dos deputados republicanos. Na sequência, com Michel Temer como presidente em exercício, Marcos Pereira assume o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, cargo que também seria ocupado por Marcos Jorge, em 2018, escancarando o afastamento da esquerda. Nessa toada, a partir de 2019, com Pereira como vice-presidente da Câmara dos Deputados e aproximação do então presidente Jair Bolsonaro (PL), o partido ganha espaço na direita e adesão ao chamado “bolsonarismo”. A aliança com Bolsonaro é reafirmada em 2021, com a indicação de João Roma para o Ministério da Cidadania.

Ainda que tenha nascido aliado de governos petistas, atualmente, o Republicanos reúne incontáveis ícones da direita brasileira e aliados de primeira ordem de Bolsonaro, como o senador e ex-vice-presidente Hamilton Mourão; a senadora e ex-ministra Damares Alves; e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, também ex-ministro da gestão anterior. Eles, inclusive, criticam a guinada à esquerda, representada pela nova aproximação com Lula. Questionado sobre a possível adesão do partido do governo, Mourão falou em “golpe duro” aos eleitores e a ele, em particular. E não descarta deixar o partido, em um movimento de debandada liderado pelo deputado federal Luciano Zucco, atual presidente da CPI do MST, que se sente traído com a articulação para esvaziar a investigação parlamentar em meio a negociações com o governo Lula. Como o site da Jovem Pan antecipou, a senadora Damares abriu mão da mudança e deve continuar na sigla, enquanto Tarcísio admite que “não gostaria de ver o partido fazendo parte da base do governo”, mas encara a situação como uma encruzilhada, já que, em caso de desfiliação, seu único caminho seria o Partido Liberal, de Valdemar Costa Neto e Jair Bolsonaro.

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