Sem Minas, RJ e ES, PT diz ser impossível abrir mão da candidatura de Haddad em SP

Parlamentares veem o ex-prefeito com maior chance de vencer seus adversários em segundo turno; Estado de São Paulo é estratégico para garantir governabilidade a um possível mandato de Lula

  • Por Júlia Vieira
  • 05/03/2022 17h00
Alice Vergueiro/Estadão Conteúdo Fernando Haddad sendo levantado pela multidão de apoiadores Fernando Haddad é o pré-candidato do PT ao governo do Estado de São Paulo

O PT e o PSB se tornaram os protagonistas do jogo político eleitoral pelo impasse envolvendo uma possível federação partidária entre as siglas. Nesse tipo de aliança, novidade para o pleito deste ano, as legendas deverão disputar as eleições de 2022 com um único candidato em cada um dos 26 Estados e o Distrito Federal e na corrida pela Presidência da República. Após abrir mão de Pernambuco, onde tinha um candidato mais competitivo, e ceder Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro a aliados, o PT avalia que não é possível abrir mão da postulação de Fernando Haddad ao governo de São Paulo.

“A federação entre PT e PSB envolve o Brasil inteiro. Nós já estamos apoiando o PSB no Pernambuco, onde tínhamos um candidato mais competitivo. Nós tiramos o senador Humberto Costa para que eles [PSB] indicassem o seu candidato a governador. No Maranhão, estamos apoiando o sucessor de Flávio Dino. No Espírito Santo, nós já dissemos ao PSB que se o governador deles apoiar o Lula, nós o apoiamos também. E lá nós também temos um candidato competitivo, que é o senador [Fabiano] Contarato“, explicou à Jovem Pan o deputado federal Paulo Teixeira (PT), secretário-geral do Partido dos Trabalhadores. “No Rio, estamos apoiando o Marcelo Freixo. Não dá para o PT, na região Sudeste, que é uma região muito populosa, não ter nenhum candidato. Nós não podemos não ter candidato nesse terreno tão forte política, eleitoral e populacionalmente”, continuou Teixeira.

O deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP) cita dois aspectos que, na avaliação da cúpula do partido, explica por que o PT não pode prescindir da candidatura de Haddad: além dos votos que um candidato petista em São Paulo pode trazer a Lula em nível federal, o número de parlamentares do Estado também é essencial para garantir a governabilidade de um futuro mandato de Lula, assegurando a maioria nas votações no Congresso Nacional. “[São Paulo] Não tem apenas o maior número de população, o que é importante para a eleição presidencial, mas tem também o maior número de deputados. Isso também é importante para garantir uma base parlamentar do futuro governo”, resume. Ademais, os parlamentares petistas não acreditam que Márcio França, o pré-candidato do PSB ao governo de São Paulo, tenha chances reais de vencer seus adversários diretos: Tarcísio de Freitas, apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), e Rodrigo Garcia (PSDB), sucessor do atual governador João Doria (PSDB).

“Nós consideramos que o Haddad tem mais força que o Márcio França para disputar e para ganhar. O PT tem uma estrutura maior no estado de São Paulo, tem mais diretórios, tem mais presença, mais deputados estaduais, mais deputados federais. A estrutura para o Haddad é maior que a estrutura para o Márcio. Achamos que ele tem mais condições de fazer a campanha”, aponta Zarattini. Teixeira, por sua vez, lembra que Haddad é mais conhecido nacionalmente por sua candidatura à Presidência da República, em 2018, e por ter exercido o cargo de ministro da Educação nos governos Lula e Dilma.

Caso o PSB aceite retirar a candidatura de França ao Palácio dos Bandeirantes, os socialistas deverão escolher entre a vaga a vice-governador ou a chance de compor a chapa para o Senado. “Se eles escolherem e indicarem um nome para vice ou para o Senado, nos vamos acatar”, garantiu Zarattini. Teixeira defende que o PSB escolha a vaga ao Senado. Para ele, seria melhor para o PT ter um vice-governador do PSOL. Ao ser questionado sobre a possibilidade do vice ser Guilherme Boulos (PSOL), o parlamentar preferiu “não falar em nomes”. “Se tiver um entendimento para que o Haddad seja governador, eu acho que é mais natural oferecer o cargo de senador para o Márcio França. O vice não pode ter o mesmo partido que o senador, porque existem outros partidos apoiando o Haddad. Nós estamos conversando com o PCdoB e com o PSOL. Caso o PSOL venha, eu defendo que ele esteja na chapa”, diz o secretário-geral do PT.

Federação

O impasse sobre as candidaturas nos Estados respingou nas tratativas sobre a formação da federação partidária. No PSB, a aliança com os petistas era uma reivindicação dos deputados federais. Sob reserva, os parlamentares socialistas dizem que o acordo “subiu no telhado”. O diagnóstico pessimista é compartilhado por quadros do PT. Zarattini, por exemplo, avalia que a possibilidade é cada vez mais remota. “No Espírito Santo, por exemplo, o governador, que é do PSB, até agora não manifestou apoio ao Lula. Então é difícil a gente apoiar um candidato não apoie o nosso, não é? No Rio Grande do Sul, o PSB participa do governo do Eduardo Leite e não quer sair do governo, quer ficar. Como é que nós vamos apoiar um candidato que está em um governo do PSDB? Tem essas complicações, que precisam ser resolvidas. A gente precisa limpar essa área”, disse o deputado federal, que acredita que, com a abertura da janela partidária, a relação dentro do próprio PSB pode estremecer se o partido não se decidir em breve sobre a filiação com o PT. “Agora a situação está ficando ruim para o próprio PSB, porque como os deputados da bancada deles estão muito inseguros, pode ser que eles percam muitos deputados agora na janela, porque não sai essa questão da federação”, finalizou. 

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