Polônia lembra os 25 anos de liberdade com duas prósperas décadas
Nacho Temiño.
Varsóvia, 3 jun (EFE).- A Polônia lembra nesta semana os 25 anos do início da democracia pelas mãos de Lech Walesa e do partido Solidariedade, que ajudou nas profundas transformações econômicas que hoje permitem falar de duas das décadas mais prósperas do país.
Em 4 de junho de 1989 aconteceram as primeiras eleições parcialmente livres, após 40 anos de comunismo, pleito que foi possível graças aos acordos da mesa-redonda entre as autoridades comunistas e os opositores do sindicato Solidariedade, que naqueles anos contavam com 10 milhões de membros, quase um terço da população polonesa.
Essas eleições representaram o ponto de inflexão a partir do qual avançavam rumo a um clima de liberdade e uma economia de mercado.
Durante 25 anos, o Produto Interno Bruto (PIB) da Polônia triplicou, até situar o país entre as dez maiores economias da União Europeia (UE), embora ainda se mantenha 40% abaixo da média dos países mais prósperos da Europa Ocidental.
Para trás ficam os duros anos de reconstrução que seguiram à Segunda Guerra Mundial e a escassez vivida durante o comunismo, quando os poloneses suportavam intermináveis filas para conseguir produtos tão básicos quanto papel higiênico e em uma época em que falar de capitalismo era tabu em uma sociedade que só podia sonhar com a prosperidade.
De fato os últimos anos provaram que a história pode ser esquecida com facilidade, pelo menos no aspecto econômico, até transformar o país em referência da economia de mercado, com taxas de crescimento que, entre 2008 e 2012, superaram 15% do PIB, enquanto o resto da UE retrocedia 0,8%.
Pouco mais de duas décadas de prosperidade e liberdade política que, segundo um recente relatório do Banco Mundial, permitem falar em “milagre econômico” e de “provavelmente os melhores 20 anos no último milênio de história” polonesa.
Tudo isso sem levar em conta que a Polônia é hoje a principal beneficiada de fundos europeus, uma enorme quantidade de dinheiro que deve permitir modernizar infraestruturas, desenvolver indústrias, reduzir os índices de desemprego e construir uma economia mais competitiva.
No entanto, nem todos os poloneses se sentem satisfeitos com a evolução econômica que o país seguiu, e um dos responsáveis da queda do comunismo, Lech Walesa, dizia meses atrás que sua luta não tinha sido para conquistar um modelo capitalista sem valores, como o que hoje impera no país.
Embora a democracia polonesa já exista há 25 anos e a economia tenha esquecido seu passado comunista para se entregar à economia de mercado, ainda existem feridas abertas em uma sociedade que não esquece a repressão e os mártires que deixou a luta pela liberdade, especialmente durante a Lei Marcial entre 1981 e 1982, um período que deixou mortos e milhares de presos.
Essas feridas ficaram de manifesto feito no enterro na sexta-feira passada do último presidente comunista da Polônia, o general Wojciech Jaruzelski, o homem que ordenou a Lei Marcial naqueles anos em que o Solidariedade agitava as ruas ao grito de liberdade.
A crise na vizinha Ucrânia também serviu para evidenciar que 25 anos não são nada em uma história na qual Rússia foi a tradicional “asa negra” da Polônia, cujo governo se refugiou nos Estados Unidos e solicitou à Otan mais forças militares em seu território.
Esta crise pode servir para consolidar o retorno ao Ocidente que a Polônia já iniciou em 1989 com as primeiras eleições parcialmente livres, continuou em 1999 com sua entrada na Otan e confirmou em 2004 com sua adesão à União Europeia.
A anunciada assistência do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, aos atos organizados nesta quarta-feira em Varsóvia para comemorar o 25º aniversário das eleições de 1989 parecem confirmar que a Polônia segue dando passos nesse caminho. EFE
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